Palazzo Altieri – Wikipédia, a enciclopédia livre

Fachada na Piazza de Gesù.

Palazzo Altieri é um palácio barroco localizado na Piazza del Gesù, ao lado da Igreja de Jesus (Gesù) e de frente para o Palazzo Cenci-Bolognetti, no rione Pigna de Roma. O palácio ocupa um grande quarteirão isolado no centro de Roma, com sua fachada principal na Via del Plebiscito na altura da praça.

História[editar | editar código-fonte]

A família Altieri, uma das mais importantes da cidade no século XVII e que se vangloriava de ter sua origem na nobreza da Roma Antiga, o que é muito improvável, era proprietária de diversos edifícios no rione Pigna, incluindo os que foram demolidos para a construção da Igreja de Jesus na segunda metade do século XVI. Em 1643, Giovanni Battista Altieri foi nomeado cardeal e sentiu que sua residência não era adequada para sua nova função. Em 1650, ele contratou Giovanni Antonio De Rossi para construir o que seria o primeiro núcleo edificado do palácio, incorporando diversas outras residências da família na Piazza del Gesù. Uma viúva chamada Berta, que vivia numa pequena casa para a direita da entrada principal, se recusou a sair e De Rossi encontrou uma forma de incorporar a casa dela ao novo palácio, o que explica as duas pequenas janelas acima das janelas principais[1]. As obras foram completadas em 1655, data da morte de Altieri. A estrutura ainda não tinha um pátio interno e estava limitada à seção na praça. De Rossi reduziu a monotonia da grande fachada projetando ligeiramente para frente a porção central, imitando o que Gian Lorenzo Bernini havia feito no Palazzo di Montecitorio[1].

Escadaria monumental.

Em 1669, Emilio Altieri, um irmão de Giovanni Battista, foi nomeado cardeal pelo papa Clemente IX e, no ano seguinte, acabou sendo eleito papa com o nome de Clemente X. Ele já tinha 80 anos de idade, mas viveu o suficiente para financiar a ampliação do palácio familiar. Nesta época, a família Altieri estava próxima da extinção e Clemente X concedeu a Gaspare Paluzzi Albertoni, marquês de Rasina e marido de sua sobrinha Laura Caterina Altieri o direito de continuar o nome Altieri[2]. De Rossi (com a ajuda de Mattia de Rossi[2]) construiu nesta época duas outras grandes adições: uma para a direita do palácio original e outra atrás desta. A fachada principal foi mantida de acordo com o projeto original[1]. As obras terminaram em 1675[2]. De Rossi também foi contratado também para criar uma villa numa parte interna da Muralha Aureliana que na época ainda não era edificada, no monte Esquilino: a chamada Villa Altieri, na qual De Rossi projetou o pequeno palacete com uma bela fachada com duas rampas, uma fonte e um jardim.

A ala de frente para a Via di S. Stefano del Cacco, foi construída por volta de 1734[3] por Alessandro Speroni, que construiu uma série de reentrâncias baixas para entrada de carroças[2]. Entre 1773 e 1775, Clemente Orlandi também trabalhou no palácio[3].

Descrição[editar | editar código-fonte]

O complexo ocupa todo um quarteirão entre a Via del Plebiscito, Via degli Astalli, Via di S.Stefano del Cacco, Via del Gesù e a Piazza del Gesù e se desenvolve à volta de dois pátios internos, dos quais o principal (de frente para a Via del Gesù) é definido por um amplo pórtico em três ordens de arcadas assentadas em pilastras enquanto que o outro (de frente para a Via del Plebiscito) é caracterizado por uma escadaria monumental decorada com esculturas antigas, entre as quais a célebre estátua do "Bárbaro Prisioneiro" recuperada perto do Teatro de Pompeu. A fachada se abre num belo portal flanqueado por duas colunas jônicas de travertino que sustentam uma lógia sobre a qual está uma porta-janela decorada por uma cabeça feminina entre dois festões e pelo brasão de Clemente X. No piso térreo estão janelas com arquitraves e com grades no corpo avançado encimadas por mísulas e outras pequenas janelas, no primeiro piso, janelas com arquitraves com tímpano curvo sobre a estrela do brasão Altieri, no segundo piso, janelas com tímpanos triangulares e, finalmente, no beiral, mísulas, das quais saem duas faixas rusticadas decoradas por estrelas e conchas[2].

Vista do palácio numa gravura de Giuseppe Vasi (1754). A fotografia no alto da página corresponde à ponta do palácio à esquerda na imagem, o que permite vislumbrar a dimensão real da enorme estrutura.

As diversas salas do palácio são decoradas com mármores preciosos, pinturas e esculturas de grande valor, entre as quais o célebre "Triunfo da Clemência", de Carlo Maratta, que decora o teto do salão de audiências no piso nobre, o antigo mosaico de "Marte e Reia Sílvia", recuperado em Óstia Antiga em 1783, instalado no piso do gabinete nobre. Notável também é a antiga biblioteca, hoje sede do arquivo da família Altieri, famosa por um tempo pelo número e pela raridade das edições colecionadas e onde estava o famoso "Busto de Clemente X" de Gian Lorenzo Bernini[2].

Apesar de a mobília ter sido parcialmente dispersada por conta das dificuldades enfrentadas pela família, o palácio ainda abriga relevantes obras de arte e decorações, entre as quais pinturas de Luca Giordano, Bernardo Strozzi, Pieter Mulier, Domenico Maria Canuti, Lionello Spada, Fabrizio Chiari, Felice Giani, Vincenzo Camuccini, Francesco Zuccarelli, Giovanni Andrea Carlone e Giuseppe Bonito[4].

Uso moderno[editar | editar código-fonte]

As enormes dimensões do palácio fizeram com que ele tivesse vários usos simultâneos ao longo do tempo. Apenas no período pós-guerra, ele foi usado como set de filmagens[a], como sede comercial e como sede de algumas escolas do Liceo Visconti, conhecidas como Viscontino.

Ali viveram também a atriz Anna Magnani (m. 1973), o dançarino Guido Lauri e o escritor Carlo Levi, que citou o fato em sua obra "L'orologio".

Um dos dois pátios interiores do palácio.

O edifício é atualmente um condomínio ocupado em parte pela Associazione Bancaria Italiana (ABI), em outra por dois bancos (FINNAT e Banca Popolare di Novara) e uma terceira por proprietários privados, que, entre outras coisas, conservam no palácio o arquivo da família Altieri na "Librària Altieri". Além disto, o palácio é também a sede da Embaixada Japonesa na Itália[5].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Como muitos palácios nobres romanos, o espaço habitado pelos criados era destacado, numa época obviamente anterior aos elevadores, ao aquecimento e ao condicionamento de ar, no último piso do palácio, na mansarda. Nesses lugares, repletos de divisórias e corredores, as famílias viviam de forma bastante promíscua. No caso do Palazzo Altieri existe um testemunho cinematográfico deste tipo de disposição da época pós-Segunda Guerra Mundial: no episódio "Agenzia matrimoniale" do filme "L'amore in città", de Federico Fellini, a sede da agência matrimonial é ambientada ali.

Referências

  1. a b c «Palazzo Altieri» (em inglês). Rome Art Lover 
  2. a b c d e f «Piazza del Gesù» (em italiano). Roma Segreta 
  3. a b «Palazzo Altieri» (em italiano). InfoRoma 
  4. «Palazzo Altieri» (em italiano). Rome Tour 
  5. «Palazzo Altieri». La Lettura, rivista mensile del "Corriere della sera" (em italiano) (13). 1913 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Haskell, Francis (1993). «6». Patrons and Painters: Art and Society in Baroque Italy (em inglês). [S.l.]: Yale University Press. p. 158-161 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]