Papa Alexandre VI – Wikipédia, a enciclopédia livre

Alexandre VI
Papa da Igreja Católica
214° Papa da Igreja Católica
Info/Papa
Atividade eclesiástica
Diocese Diocese de Roma
Eleição 11 de agosto de 1492
Entronização 26 de agosto de 1492
Fim do pontificado 18 de agosto de 1503
(11 anos, 7 dias)
Predecessor Inocêncio VIII
Sucessor Pio III
Ordenação e nomeação
Ordenação presbiteral 30 de outubro de 1471
Ordenação episcopal 30 de junho de 1458
Nomeado arcebispo 9 de julho de 1492
Cardinalato
Criação 20 de fevereiro de 1456 (in pectore)
17 de setembro de 1456 (Publicado)

por Papa Calisto III
Ordem Cardeal-diácono (1456-1492)
Cardeal-bispo (1471-1492)
Título São Nicolau no Cárcere (1456-1471)
Santa Maria em Via Lata (1458-1492)
Albano (1471-1476)
Porto-Santa Rufina (1476-1492)
Papado
Brasão
Consistório Consistórios de Alexandre VI
Dados pessoais
Nascimento Xàtiva, Valência
1 de janeiro de 1431
Morte Roma, Itália
18 de agosto de 1503 (72 anos)
Nacionalidade espanhol
Nome de nascimento Rodrigo Bórgia
Progenitores Mãe: Isabel de Borja y Cavanilles
Pai: Jofre de Borja Llanzol
Parentesco Papa Calisto III (tio)
Francisco de Borja (bisneto)
Filhos Pedro Luís Borgia
Isabella Borgia
Girolama Borgia
Giovanni de Candia Borgia
Cesare Borgia
Lucrezia Borgia
Gioffre Bórgia
Sepultura Santa Maria in Monserrato degli Spagnoli
dados em catholic-hierarchy.org
Categoria:Igreja Católica
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo
Lista de papas

Alexandre VI, nascido Rodrigo de Borja (Espanhol) e mais conhecido por Rodrigo Borgia (Italiano) (Xàtiva, 1 de janeiro de 1431Roma, 18 de agosto de 1503) foi o 214.º papa da Igreja Católica, de 11 de agosto de 1492 até a data da sua morte.[1]

Natural de Valência, na altura pertencente ao Reino de Aragão, estudou na Universidade de Bolonha, onde se formou em direito canónico.[2]

O nome de sua família foi elevado à cátedra do Vaticano com a eleição do seu tio materno, Afonso Bórgia, como Papa Calisto III, por quem foi feito cardeal aos 25 anos de idade em 1456. No ano seguinte foi nomeado vice-chanceler da igreja.[2]

Foi entretanto adquirindo novos títulos, e ao mesmo tempo, serviu não só a Cúria Romana sob o seu tio Papa Calisto III, como também durante os quatro pontificados seguintes — Pio II, Paulo II, Sisto IV e Inocêncio VIII — ganhando assim experiência, influência, riqueza e poder.[3]

É provavelmente um dos papas mais polémicos da história.

Família[editar | editar código-fonte]

Foram seus pais Jofré de Borja i Escrivà e Isabell de Borja, irmã do cardeal Alfonso de Borja, o Papa Calisto III.[1] Era primo-irmão do cardeal Luis Juan de Milà y Borja, e pai do também cardeal César Borgia. Foram seus descendentes os cardeais Juan de Borja Llançol de Romaní, Pedro Luis de Borja Llançol de Romaní, Francisco Lloris y de Borja e Rodrigo Luis de Borja y de Castre-Pinós.[2]

Filhos com maternidade não registrada foram:

Seu relacionamento com a dama romana Vannozza dei Cattanei começou em 1470, e fruto dele nasceram quatro filhos:

Com Giulia Farnese teve, possivelmente, uma filha:

  • Laura Orsini (1492-1530).

Eleição[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Conclave de 1492
Brasão de Alexandre VI – Castelo de Santo Ângelo, Roma

Nesta época o Colégio dos Cardeais era composto em grande parte por membros das principais famílias de Itália, que representavam um principado, e cuja eleição para papa consequentemente os favorecia.

Os principais candidatos para esta eleição eram Rodrigo Borgia, considerado independente, Ascanio Sforza, que representava Milão e a família Sforza, e Giuliano della Rovere, que tinha o apoio da França.[5]

Rodrigo Borgia foi eleito a 11 de Agosto de 1492, escolhendo o nome de Alexandre VI para o seu pontificado.

Foram criados rumores de que a sua eleição só foi possível devido à compra de votos da sua parte, no entanto, para além de que não tenha sido concretamente provado de que tenha sido o caso, tal prática não só era comum, como os outros candidatos, especialmente Giuliano della Rovere com o apoio da França, são suspeitos de terem feito o mesmo.[5]

Papado[editar | editar código-fonte]

Desiderando nui, 1499

O papado de Alexandre VI começou tranquilo, mas não tardou para que se manifestasse sua ganância em sacrificar todos os interesses em favor da família. Nomeou Cardeais o seu filho de dezesseis anos, César Bórgia, os seus sobrinhos Francisco Borgia e Juan Lanzol de Bórgia de Romaní, o maior, um primo deste último Juan Castellar y de Borgia (it. Giovanni), os seus sobrinhos-netos Juan de Borja Llançol de Romaní, o menor, Pedro Luis de Borja Llançol de Romaní e Francisco Lloris y de Borja e o cunhado do seu filho César, Amanieu d'Albret. César seria posteriormente retratado por Maquiavel em sua obra O príncipe como o ideal do político e governante pragmático.

Detalhe do afresco Ressurreição do apartamento de Borgia que mostra Alexandre VI em oração.

O cardeal Della Rovere o acusou de simonia, e trouxe o rei da França Carlos VIII para depô-lo, mas Bórgia fez um acordo, permitindo o trânsito dos exércitos franceses, e foi reconhecido como Papa pelo rei francês.[4] Enquanto isto, ele negociou com o imperador alemão Maximiliano I e os governantes da Espanha e Veneza uma aliança, que derrotaram os franceses.[4]

Um de seus acusadores era o frei dominicano Girolamo Savonarola, que havia conseguido reformar Florença através de muita coragem e uma brilhante oratória.[4] Alexandre se conteve, diante dos ataques de Savonarola, até que, enfraquecido por ter repetidamente quebrado seu voto de obediência ao chefe da Igreja, Savonarola sofreu a sentença de excomunhão. Savonarola, porém, continuou seus ataques, e a ministrar a comunhão, e desafiou caminhar nas chamas para provar que ele tinha a palavra de Deus. Um outro frei dominicano se ofereceu para ir junto, porém quando o circo foi armado, e a multidão estava ansiosa para assistir ou um milagre ou uma tragédia, o frei se recusou a entrar nas chamas, e a influência de Savonarola diminuiu.[4]

Um dos seus maiores desgostos foi quando seu filho, o Duque de Gandia, foi assassinado, com suspeitas recaindo sobre César Bórgia; quando seu corpo, mutilado, foi encontrado no Rio Tibre, o papa, entristecido, clamou que isto era uma punição por seus pecados. Após a morte do filho, Alexandre convocou os cardeais para reformar a Igreja e acabar com o nepotismo. Mas as reformas não foram adiante.[4]

Seu pontificado é um paradigma de corrupção papal ocasionada pela invasão secular dentro da Igreja, fato esse que, mais tarde, foi tido como desculpa para a separação dos protestantes. Alexandre VI protegeu as Ordens Religiosas, aprovando Congregações recém-fundadas e a evangelização do Novo Mundo e da Groelândia.[6]

Durante seu pontificado, foram decretadas as Bulas Alexandrinas, tratados responsáveis pela divisão das possessões portuguesas e espanholas no mundo. Dentre elas são destaque as bulas Inter cætera, Eximiae Devotionis e Dudum Siquidem. As negociações ibéricas levaram ao Tratado de Tordesilhas que confirmaria a divisão do mundo entre Portugal e Espanha, que foi contestado por outros monarcas, com destaque para Francisco I de Angoulême, rei da França. Tanto a França como a Inglaterra não reconheceram a decisão papal e estabeleceram colônias nas novas terras descobertas.[6]

Morte[editar | editar código-fonte]

Tumba dos papas Calisto III e Alexandre VI, na igreja Santa Maria in Monserrato degli Spagnoli, em Roma.

Embora não se saiba ao certo o motivo da sua morte, devido ao período em que se sucedeu, as duas hipóteses mais prováveis são envenenamento ou malária.

A malária era comum em Roma, principalmente nos meses de verão, e para a qual não havia cura no século XVI.[7]

O envenenamento é uma forte hipótese também, já que a 12 de Agosto de 1503, não só ele começou a ter sintomas, inicialmente febre e vómitos, como também o seu filho, Cesare Borgia, aos 27 anos de idade, teve os mesmos problemas que o seu pai.[8]

Alexandre VI morre a 18 de Agosto e o seu túmulo encontra-se na igreja de Santa Maria de Monserrato.

Legado[editar | editar código-fonte]

Alguns historiadores consideram que as histórias sobre ele foram escritas com malícia, e questionam as acusações feitas contra ele, mas, exageros à parte, ele não estava preparado para o cargo. De acordo com John Farrow, o melhor que se pode dizer dele é que sua moral privada não era diferente dos príncipes de sua época, e que, se as histórias soam escandalosas hoje, na sua época não causavam nenhuma surpresa.[4] Avaliação semelhante é realizada pelo historiador Leandro Rust, que, demonstrando as evidências históricas sobre o comportamento da família Bórgia, destaca a influência exercida pelo imaginário político contemporâneo criado em torno de Alexandre VI como símbolo do papado a ser combatido pelos nacionalistas durante o Risorgimento:

"Há um “problema Bórgia” no estudo da história. Desde o século XIX, tudo o que diz respeito a esta família é colocado de modo visceral, superlativo. Os vícios parecem sempre maiores quando se trata de Alexandre VI, os comportamentos são apresentados com tons de degeneração e corrupção sem iguais, que parecem nunca ter se repetido. Em consequência, o tema fica colocado nos termos de um “ou tudo ou nada”: ou se está a favor ou contra os Bórgia".[9]

Como a maior parte dos papas do Renascimento, Alexandre patrocinou as artes, e Roma beneficiou-se de seu programa de restaurações e decorações. A cidade floresceu com poetas e autores.[4]

A favor[editar | editar código-fonte]

Nem todos seus contemporâneos o acusaram. Sigismundo Conti, que o conhecia bem, elogiou sua dedicação à Igreja e sua atuação nos trinta e sete anos em que foi cardeal (nos papados de Pio II, Paulo II, Sixto IV e Inocêncio VIII), seu trabalho como legado na Espanha e na Itália, seu conhecimento da etiqueta, e seus esforços em se mostrar brilhante nas conversas e digno em seus modos.[4]

Hieronimus Portius o descreveu como um homem alto, nem muito pálido nem muito moreno, de olhos negros, de boca cheia; sua saúde era ótima, e ele conseguia resistir a qualquer esforço; era eloquente no discurso e uma natureza boa.[4]

O historiador alemão Hartmann Schedel, após fazer um resumo de sua carreira, o descreve como um homem de visão ampla, abençoado com grande prudência, habilidade de ver o futuro, e conhecimento do mundo. Por seu conhecimento dos livros, apreciação da arte e probidade, ele foi um sucessor digno do seu tio Calisto III. Ele era amável, confiável, prudente, piedoso e conhecedor dos assuntos relacionados ao seu digno cargo. Schedel termina dizendo que foi uma bênção que uma pessoa com tantas virtudes tenha sido elevada a esta posição digna.[4]

Quanto às críticas que eram feitas, Alexandre comentou que "Roma é uma cidade livre, aqui todos têm o direito de escrever e falar o que quiserem".[4]

Contra[editar | editar código-fonte]

O julgamento de Savonarola, porém, foi diferente. Ele escreveu aos reis cristãos pedindo que fosse convocado um concílio para depô-lo, o acusando de simonia, heresia e descrença. Ainda segundo Savonarola, Alexandre não era um papa, e não era nem cristão, porque não acreditava em Deus.[4]

Na cultura[editar | editar código-fonte]

  • Alexandre VI - Bórgia o Papa Sinistro, livro do historiador alemão Volker Reinhardt.[10]
  • A lenda negra - Os Borgias, livro do jornalista, professor de história e literatura italiana Mario Dal Bello.[11]
  • Muitas Papais: política e imaginação na história, livro do professor de história Leandro Duarte Rust.[9]
  • The Borgias, série televisiva de ficção histórica com Jeremy Irons interpretando o Papa Alexandre VI.
  • Assassin's Creed II e Assassin's Creed: Brotherhood, jogos de videogame produzidos pelo Ubisoft, onde Alexandre VI aparece como antagonista do enredo e aliado dos templários contra os assassinos liderados por Ezio Auditore da Firenze.
  • Assassin's Creed: Renascença e Assassin's Creed: Irmandade, romances de Oliver Bowden baseados na aclamada série de jogos da Ubisoft.
  • Borgia - Série televisiva de ficção histórica baseada na ascensão, e eventual queda, da família Borgia no período do Papa Alexandre VI, criada por Tom Fontana.
  • Um jovem Roderico de Borgia durante o Conclave de 1458 é interpretado por Manu Fullola no filme canadense de 2006 O Conclave, dirigido por Christoph Schrewe.

Séries sobre a família Bórgia[editar | editar código-fonte]

Existem duas recentes séries televisivas baseadas na família Bórgia no período do Papa Alexandre VI.

Ambas lançadas em 2011 contam, sob a forma de ficção, a história desta família no final do século XV e início do século XVI.

A mais conhecida, The Borgias, foi lançada pelo canal Showtime, e Jeremy Irons interpreta o papel do Papa Alexandre VI. Conta com três temporadas mas foi cancelada antes do tempo, ou seja, sem ter terminado a história.[12]

O criador da série, Neil Jordan, escreveu o final sob a forma de eBook para os fãs.[13]

Já a série Borgia, é uma produção Europeia e foi criada por Tom Fontana, conhecido pela série Oz.

Tal como a versão da Showtime, conta também com três temporadas, mas conclui a sua história em 1507 com a morte do filho do Papa Alexandre VI, César Bórgia.[14]

Referências

  1. a b c Este artigo incorpora texto da verbete Pope Alexander VI na Catholic Encyclopedia, publicação de 1913 em domínio público.
  2. a b c Monsignor Peter de Roo (1924). «Material for a History of Pope Alexander VI, His Relatives and His Time, (5 vols.), Bruges, Desclée, De Brouwer, volume 2, p. 29.» (PDF) (em inglês). Consultado em 27 de Abril de 2019 
  3. «CATHOLIC ENCYCLOPEDIA: Pope Alexander VI». www.newadvent.org. Consultado em 27 de abril de 2019 
  4. a b c d e f g h i j k l m John Farrow, Pageant of the Popes (1942), Fifteenth Century [em linha]
  5. a b Burchard, Johann; Glaser, F. L. (1921). Pope Alexander VI and his court: extracts from the Latin diary of Johannes Burchardus;. [S.l.]: New York, N.L. Brown 
  6. a b Estevão Bettencourt. «Papa Alexandre VI (1492-1503)». Revista "Pergunte e Responderemos". Consultado em 22 de março de 2014 
  7. Sallares, Robert (5 de setembro de 2002). Malaria and Rome: A History of Malaria in Ancient Italy (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780191714634. doi:10.1093/acprof:oso/9780199248506.001.0001/acprof-9780199248506 
  8. Bradford, Sarah (1976). Cesare Borgia: His Life and Times. [S.l.: s.n.] 
  9. a b Rust, Leandro Duarte (2015). Mitos papais: política e imaginação na história. Petrópolis: Vozes. p. 178. ISBN 978-85-326-4978-2 
  10. «Leia trecho de Alexandre VI - Bórgia o Papa Sinistro». Livraria da Folha, UOL. Consultado em 22 de março de 2014 
  11. Antonio Gaspari. «Uma leitura que reavalia o papa Alexandre VI». Consultado em 22 de março de 2014 
  12. Ausiello, Michael; Ausiello, Michael (5 de junho de 2013). «Showtime Officially Cancels The Borgias – Find Out How It Was Supposed to End». TVLine (em inglês). Consultado em 3 de junho de 2019 
  13. Jordan, Neil (11 de agosto de 2013). «The Borgia Apocalypse: The Screenplay». www.amazon.com. Consultado em 3 de junho de 2019 
  14. Borgia, consultado em 3 de junho de 2019 


Precedido por
Inocêncio VIII

Papa

214.º
Sucedido por
Pio III


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