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Paul Samuelson
Paul Samuelson
Paul Samuelson em 1997
Nascimento 15 de maio de 1915
Gary
Morte 13 de dezembro de 2009 (94 anos)
Middlesex, Massachusetts
Nacionalidade Estadunidense
Alma mater Universidade Harvard (Ph.D.), Universidade de Chicago (B.A.)
Prêmios Medalha John Bates Clark (1947), Prémio de Ciências Económicas (1970), John von Neumann Lecture (1971), Gibbs Lecture (1974), Medalha Nacional de Ciências (1996)
Escola/tradição neokeynesianismo
Instituições Instituto de Tecnologia de Massachusetts
Campo(s) Macroeconomia, síntese neoclássica, metodologia econômica, economia matemática, comércio internacional, crescimento econômico, teoria do capital, teoria do consumidor

Paul Anthony Samuelson (Gary, 15 de maio de 1915Middlesex, Massachusetts, 13 de dezembro de 2009) foi um economista norte-americano, amplamente reconhecido como um dos formuladores mais importantes das ciências econômicas modernas e figura de particular relevância na história do pensamento econômico em geral.[1][2][3]

Vida[editar | editar código-fonte]

Graduou-se na Universidade de Chicago,[1] onde recebeu uma educação econômica tradicional ou neoclássica. Posteriormente, com a revolução econômica decorrida da obra A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de autoria de John Maynard Keynes, aderiu ao keynesianismo. Ele foi um dos maiores divulgadores do pensamento keynesiano nos EUA.[4]

Samuelson obteve seu doutorado em economia na universidade de Harvard, onde também lecionou por um tempo e, mais tarde, foi para o MIT.[5]

Muito basicamente, a economia contemporânea pode ser definida como uma espécie de síntese da microeconomia neoclássica com a macroeconomia keynesiana; e foi Samuelson, a partir de sua busca em encontrar pontos de coerência entre as duas disciplinas, quem construiu essa unidade.[6] Por isso, o historiador econômico Randall E. Parker o chamou de "Pai da Economia Moderna".

Samuelson é peça-chave no estabelecimento da matemática como o método analítico principal da ciência econômica. Em sua obra Fundamentos de Análise Económica, revelou a presença de estruturas comuns em diversos ramos da economia, as quais poderiam ser representadas por meio de expressões matemáticas.

Já com o Economics (livro), de longe o livro-texto de introdução à economia mais vendido e utilizado nos cursos de nível superior, Samuelson fez-se um dos mais famosos e bem-sucedidos autores da área.[7]

Samuelson foi o primeiro norte-americano a receber o Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel, fato que ocorreu na segunda edição do evento, em 1970. A designação do trabalho de Samuelson feita pela instituição na ocasião da premiação ressalta a importância múltipla de sua contribuição à disciplina econômica: "pelo trabalho científico através do qual desenvolveu teoria nos campos da economia estática e dinâmica, contribuindo ativamente para aumentar o nível da análise da ciência econômica".[8] Seu trabalho gerou impacto importante sobre a teoria do consumo, a teoria do capital, o comércio internacional, o mecanismo de preços, a economia matemática, o equilíbrio geral e a dinâmica da economia, as finanças públicas e outras áreas mais, fato que o fez ser considerado um dos grandes economistas generalistas, isto é, um economista cujas pesquisas foram úteis para variados ramos da economia.[9]

O economista atuou como consultor para os presidentes John F. Kennedy e Lyndon B. Johnson, além de ter prestado consultoria ao Tesouro dos Estados Unidos e ao Bureau of Budget.

Paul Samuelson fora um crítico duro das concepções políticas de livre mercado de Milton Friedman e Friedrich Hayek, posição que manteve até o final da vida.[10][11] Ele advogava que uma economia mista, na qual há um equilíbrio entre regulamentação estatal e mercados razoavelmente liberalizados, era mais estável e eficiente que uma economia de livre mercado pura.[12]

Recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade Nova de Lisboa em 1984/1985.[13] O jornal The New York Times designou Samuelson como sendo o "principal acadêmico da área da economia no século XX".[14]

Morreu em 2009, aos 94 anos.[15]

Campos de interesse[editar | editar código-fonte]

Como professor de economia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Samuelson trabalhou em muitos campos, incluindo:[16]

  • Teoria do consumidor, onde foi pioneiro na abordagem da preferência revelada, que é um método pelo qual se pode discernir a função de utilidade de um consumidor, observando seu comportamento. Em vez de postular uma função de utilidade ou uma ordem de preferências, Samuelson impôs condições diretamente às escolhas feitas pelos indivíduos – suas preferências reveladas por suas escolhas.
  • Economia do bem-estar, na qual popularizou as condições de Lindahl-Bowen-Samuelson (critérios para decidir se uma ação melhorará o bem-estar) e demonstrou em 1950 a insuficiência de um índice de renda nacional para revelar qual das duas opções sociais estava uniformemente fora da função de possibilidade (viável) da outra (Collected Scientific Papers, v. 2, cap. 77; Fischer, 1987, p. 236).
  • Teoria do capital, onde ele é conhecido pelo modelo de empréstimos de consumo de 1958 e uma variedade de teoremas de turnpike e envolvido na controvérsia do capital de Cambridge.
  • Teoria das finanças, na qual ele é conhecido pela hipótese do mercado eficiente.
  • Teoria das finanças públicas, na qual ele é particularmente conhecido por seu trabalho sobre a determinação da alocação ótima de recursos na presença de bens públicos e bens privados.
  • Economia internacional, onde influenciou o desenvolvimento de dois importantes modelos de comércio internacional: o efeito Balassa-Samuelson e o modelo Heckscher-Ohlin (com o teorema de Stolper-Samuelson).
  • Macroeconomia, onde popularizou o modelo de sobreposição de gerações como forma de analisar o comportamento dos agentes econômicos ao longo de múltiplos períodos de tempo (Collected Scientific Papers, v. 1, cap. 21) e contribuiu para a formação da síntese neoclássica.
  • Economia de mercado: Samuelson acredita que mercados não regulamentados têm desvantagens, ele afirmou: "Os mercados livres não se estabilizam. O Libertarianismo é o seu pior inimigo!" Samuelson criticou fortemente Friedman e Friedrich Hayek, argumentando que sua oposição à intervenção estatal "nos diz algo sobre eles em vez de algo sobre Genghis Khan ou Franklin Roosevelt. É paranoico alertar contra inevitáveis ladeiras escorregadias... uma vez que as liberdades comerciais individuais são de alguma forma violadas".

Trabalho[editar | editar código-fonte]

Paul Samuelson iniciou seu estudo de economia em 1932, na Universidade de Chicago, o que lhe conferiu uma formação neoclássica, tradicional na época.

A partir de 1936, no entanto, a economia sofreu uma transformação radical, o que se deve à difusão das ideias de Keynes, críticas ao modelo neoclássico e expostas no livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda.[17]

Assim descreveu Samuelson o impacto da revolução keynesiana sobre a economia:

É praticamente impossível para os estudantes de hoje compreender com plenitude o efeito do que tem sido denominado ‘Revolução Keynesiana’ em cima daqueles que foram instruídos na tradição ortodoxa (...) A Teoria Geral pegou a maioria dos economistas de menos de 35 anos com a inesperada virulência de uma doença que primeiramente ataca e dizima uma tribo isolada de ilhéus do sul do Pacífico."

Fonte:[18]

Seduzido pelo modelo keynesiano, Samuelson torna-se, nos EUA, um dos mais engajados propagadores das concepções de Keynes. Mas fez mais: Samuelson trabalhou de modo a construir uma unidade do conhecimento econômico a partir de uma síntese entre a microeconomia neoclássica e a macroeconomia formulada por Keynes. Dessa síntese, nasceu o essencial da economia contemporânea.[6]

Em 1935, Samuelson foi para Harvard, onde ficou por seis anos, período no qual se destacaram economistas como Schumpeter, Alan Sweezy, Paul Sweezy, John Kenneth Galbraith, Aaron Gordona, Robert Solow, e outros mais. Mais tarde, Samuelson comentaria que a sua ida para Harvard o pôs no meio de três novas tendências importantes da Economia, que nasciam à época: a revolução keynesiana, a revolução da competição monopolística e o advento da matemática e econometria no trato de problemas econômicos.[8]

Posteriormente, em 1940, Samuelson troca Harvard pelo MIT, lugar em que trabalhou a maior parte da vida. Foi a presença de Samuelson na universidade que elevou o Departamento de Economia do MIT de modo a fazê-lo reconhecido a nível global.[19][20]

Em 1970, Paul Samuelson, aos 55, foi laureado com o segundo Prêmio Nobel entregue a economistas. Na ocasião, a instituição enalteceu a sua contribuição para a elevação do nível da análise econômica de maneira ampla e geral.[8]

Samuelson serviu como conselheiro dos ex-presidentes norte-americanos John F. Kennedy e Lyndon Johnson.[21] Na década de 80, Paul Samuelson foi agraciado com Doutor Honoris Causa concedido pela Universidade de Lisboa.[13]

Fundamentos da Análise Econômica[editar | editar código-fonte]

Em 1947, Samuelson publica, pela Harvard University Press, o revolucionário Fundamentos da Análise Econômica.[22] O livro é amplamente reconhecido pelas valiosas contribuições empíricas que deu à economia. No texto, Samuelson procurou demonstrar a existência de uma unicidade metodológica e estrutura analítica comum a diferentes ramos da ciência econômica; essa estrutura é a matemática, e a sua validade metodológica em diversos segmentos da economia decorre de dois princípios gerais básicos existentes no sistema, a saber quais sejam: o comportamento maximizador dos agentes econômicos e a estabilidade de equilíbrio para os sistemas econômicos.[23]

A obra permitiu um significativo avanço no que diz respeito a teoria dos números índice e a economia social generalizada. Mas o livro é conhecido sobretudo por expressar e formalizar de maneira irrefutável as versões qualitativa e quantitativa do método de estática comparativa, bem como por demonstrar, por via de cálculo, como uma mudança num setor particular da economia (digamos, uma mudança nas taxas de imposto) pode afetar o sistema econômico como um todo.[23]

Economics[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Economics (livro)

Economics é o título do livro-texto de introdução à economia editado por Samuelson pela primeira vez em 1948. De lá para cá, o livro já somou dezenove edições, sendo a última de 2009. Trata-se do livro introdutório à ciência econômica mais vendido de todos os tempos, bem como o texto mais usado nas faculdades de economia dos EUA na segunda metade do século XX, motivo pelo qual recebeu o rótulo de "livro didático canônico" nos EUA. Desde o lançamento, o livro já vendeu mais de 4 milhões de cópias, sendo que cada uma das edições do livro entre 1961 e 1976 venderam 300 000 unidades.[7]

Foi com o livro Economcis que Samuelson cunhou o termo "síntese neoclássica", que se refere a junção de conceitos econômicos da escola neoclássica com a economia keynesiana, o essencial da economia mainstream contemporânea.[24]

A obra traz uma árvore genealógica da economia, em que constam representadas as principais escolas de pensamento econômico desde o século XVII, tais como a mercantilista, os fisiocratas, o liberalismo clássico, a escola marxista, a neoclássica e a escola keynesiana.

Contribuições[editar | editar código-fonte]

As contribuições de Paul Samuelson à ciência económicas são amplas, e abrangem tanto o campo conceitual da economia quanto a sua esfera metodológica. Conceitualmente, Samuelson redefiniu o que seja a economia contemporânea ao sintetizar os preceitos microeconômicos neoclássicos com a macroeconomia keynesiana; no campo da metodologia, ele revelou a presença de uma estrutura matemática comum a variados ramos da economia.

As consequências do trabalho de Samuelson sobre a economia se estendem, portanto, a muitas áreas. O economista e também prêmio Nobel Kenneth Arrow citou a importância de Samuelson para a reformulação da teoria do consumo, a teoria do capital, o teorema não-substituição, da determinação de preços, a análise da estabilidade e dos sistemas dinâmicos e a economia,[25][26] enquanto Irving Fisher, outro economista influente, cita a relevância de Samuemson na teoria do consumo e bem-estar, equilíbrio geral e dinâmica, comércio internacional, finanças e macroeconomia.[27]

Lista de publicações[editar | editar código-fonte]

Samuelson, Paul A. (1966), Vol. 1 → via Google Books, 1937–mid-1964.
Samuelson, Paul A. (1966), Vol. 2 → via Google Books, 1937–mid-1964.
Samuelson, Paul A. (1972), Vol. 3 → via Google Books, mid-1964–1970.
Samuelson, Paul A. (1977), Vol. 4 → via Internet Archive, 1971–76.
Samuelson, Paul A. (1986), Vol. 5 → via Google Books, 1977–1985 Descrição → via
Samuelson, Paul A. (2011), Vol. 6, 1986–2009. Descrição → via Wayback Machine
Samuelson, Paul A. (2011), Vol. 7, 1986–2009.

Referências

  1. a b «Paul Samuelson, Nobel Prize-winning economist, 1915-2009». news.uchicago.edu (em inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  2. «Economics Professors' Favorite Economic Thinkers, Journals, and Blogs (along with Party and Policy Views) · Econ Journal Watch : Economists, favorite economists, economics journals, economics blogs, party, voting, policy views, survey, Adam Smith». econjwatch.org. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  3. «Paul Samuelson | Biography, Nobel Prize, Books, Economics, & Facts | Britannica». www.britannica.com (em inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  4. «op-migration-welcome». academic.oup.com. doi:10.1093/acprof:oso/9780199298839.001.0001/acprof-9780199298839-chapter-12. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  5. «Nobel-winning economist Paul A. Samuelson dies at age 94». MIT News | Massachusetts Institute of Technology (em inglês). 13 de dezembro de 2009. Consultado em 10 de dezembro de 2023 
  6. a b «Folha de S.Paulo - Artigo: Nobel fez síntese da economia moderna - 14/12/2009». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  7. a b Skousen, Mark (junho de 1997). «The Perseverance of Paul Samuelson's Economics». Journal of Economic Perspectives (em inglês) (2): 137–152. ISSN 0895-3309. doi:10.1257/jep.11.2.137. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  8. a b c «The Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel 1970». NobelPrize.org (em inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  9. «Paul Samuelson». The Economist. ISSN 0013-0613. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  10. «Paul Samuelson venceu o Prêmio Nobel de Economia em 1970». G1. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  11. «Paul Samuelson Vs. Milton Friedman». Forbes (em inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  12. dw (20 de dezembro de 2009). «Paul Samuelson's Legacy». Economic Principals (em inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  13. a b «Honoris Causa». Universidade NOVA de Lisboa. 19 de dezembro de 2016. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  14. Weinstein, Michael M. (13 de dezembro de 2009). «Paul A. Samuelson, Economist, Dies at 94». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  15. «Folha de S.Paulo - Morre Nobel de Economia Paul Samuelson, aos 94 anos - 14/12/2009». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  16. «Paul Samuelson». The Economist. ISSN 0013-0613. Consultado em 10 de dezembro de 2023 
  17. «Keynesianismo: entenda em um resumo simples a Teoria Keynesiana». Dicionário Financeiro. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  18. Shenker, Israel (6 de março de 1971). «SAMUELSON BACKS NEW ECONOMICS». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  19. «5 melhores faculdades de Economia dos EUA». Universidade do Intercâmbio (em inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  20. «Author». MIT Press (em inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  21. Sullivan, Patricia (14 de dezembro de 2009). «Economist Paul Samuelson dies; advised presidents since JFK». The Seattle Times (em inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  22. «Foundations of Economic Analysis — Paul A. Samuelson». www.hup.harvard.edu (em inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  23. a b Os fundamentos da análise econômica : uma análise da metodologia de Paul A. Samuelson - lume.ufrgs.br
  24. Pettinger, Tejvan. «Neo-Classical Synthesis». Economics Help (em inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  25. «Kenneth Arrow definiu condições para o funcionamento da 'mão invisível' - 22/02/2017 - Mercado - Folha de S.Paulo». m.folha.uol.com.br. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  26. Weinstein, Michael M. (22 de fevereiro de 2017). «Kenneth Arrow, Nobel-Winning Economist Whose Influence Spanned Decades, Dies at 95». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 13 de dezembro de 2022 
  27. «Irving Fisher (1867-1947) and the Cowles Foundation | Cowles Foundation for Research in Economics». cowles.yale.edu. Consultado em 13 de dezembro de 2022 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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Precedido por
Ragnar Anton Kittil Frisch e Jan Tinbergen
Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel
1970
Sucedido por
Simon Kuznets


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