Paulo Evaristo Arns – Wikipédia, a enciclopédia livre

Paulo Evaristo Arns
Cardeal da Santa Igreja Romana
Arcebispo emérito de São Paulo
Cardeal Protopresbítero
Info/Prelado da Igreja Católica
Atividade eclesiástica
Ordem Ordem dos Frades Menores
Diocese Arquidiocese de São Paulo
Nomeação 22 de outubro de 1970
Entrada solene 1 de novembro de 1970
Predecessor Agnelo Cardeal Rossi
Sucessor Cláudio Cardeal Hummes, O.F.M.
Mandato 1 de novembro de 1970 - 9 de abril de 1998
Ordenação e nomeação
Profissão Solene 10 de dezembro de 1943
Ordenação diaconal 29 de novembro de 1944
Ordenação presbiteral 30 de novembro de 1945
Petrópolis
por José Pereira Alves
Nomeação episcopal 2 de maio de 1966
Ordenação episcopal 3 de julho de 1966
Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus,
Forquilhinha
por Agnelo Rossi
Nomeado arcebispo 22 de outubro de 1970
Cardinalato
Criação 5 de março de 1973
por Papa Paulo VI
Ordem Cardeal-presbítero
Título Sant'Antonio da Padova na via Tuscolana
Brasão
Lema EX SPE IN SPEM
De esperança em esperança
Dados pessoais
Nascimento Forquilhinha, SC
14 de setembro de 1921
Morte São Paulo, SP
14 de dezembro de 2016 (95 anos)
Nome religioso Frei Evaristo Arns
Nome nascimento Paulo Arns
Nacionalidade brasileiro
Progenitores Mãe: Helena Steiner
Pai: Gabriel Arns
Funções exercidas -Bispo auxiliar de São Paulo (1966-1970)
Títulos anteriores -Bispo titular de Respecta (1966-1970)
Assinatura {{{assinatura_alt}}}
Sepultado Catedral Metropolitana de São Paulo
dados em catholic-hierarchy.org
Cardeais
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo

Paulo Evaristo Arns O.F.M. (Forquilhinha, 14 de setembro de 1921São Paulo, 14 de dezembro de 2016) foi um frade franciscano, cardeal e escritor brasileiro.

Foi o quinto arcebispo de São Paulo, tendo sido o terceiro prelado dessa Arquidiocese a receber o título de cardeal. Era arcebispo-emérito de São Paulo e protopresbítero do Colégio Cardinalício.

Estudos[editar | editar código-fonte]

Dom Paulo era o quinto de treze filhos do casal Gabriel Arns e Helena Steiner, pequenos agricultores descendentes de imigrantes provenientes da Alemanha (região de Rio Mosela).

Realizou seus estudos fundamentais em Forquilhinha. Depois, ingressou no seminário franciscano no Seminário Seráfico São Luís de Tolosa de Rio Negro (Paraná).[1] Em 1940, entrou no noviciado, em Rodeio (Santa Catarina). A Filosofia, cursou-a em Curitiba; e a Teologia, em Petrópolis.

Três de suas irmãs são freiras, e um irmão faz parte da Ordem dos Frades Menores.

Também é irmão de Zilda Arns, morta em um terremoto em Porto Príncipe em 2010.

Presbitério[editar | editar código-fonte]

Foi ordenado presbítero no dia 30 de novembro de 1945, em Petrópolis, por Dom José Pereira Alves, arcebispo de Niterói.

Atividades antes do episcopado[editar | editar código-fonte]

Por cerca de uma década exerceu seu ministério, assistindo a população desfavorecida de Petrópolis, onde também lecionou no Teologado Franciscano de Petrópolis e na Universidade Católica de Petrópolis. Depois disto, foi para a França para cursar letras na Sorbonne, onde se doutorou em 1952. Retornando ao Brasil, foi professor nas faculdades de Filosofia, Ciências e Letras de Agudos e Bauru. A seguir, retornou a Petrópolis, onde voltou a dar assistência aos desfavorecidos

Episcopado[editar | editar código-fonte]

Em 2 de maio de 1966 foi eleito bispo titular de Respecta e auxiliar de São Paulo, aos 44 anos.[2] Recebeu a ordenação episcopal em 3 de julho de 1966, na igreja matriz do Sagrado Coração de Jesus em Forquilhinha, sendo sagrante principal Dom Agnelo Rossi, arcebispo de São Paulo, e consagrantes Dom Anselmo Pietrulla OFM, então bispo de Tubarão, e Dom Honorato Piazera SCI, então bispo coadjutor de Lages.

No dia 22 de outubro de 1970, o Papa Paulo VI o nomeou arcebispo metropolitano de São Paulo, tendo tomado posse a 1 de novembro de 1970, exercendo o cargo até 15 de abril de 1998, quando renunciou, por limite de idade, detendo o título de Arcebispo-emérito de São Paulo.

Cardinalato[editar | editar código-fonte]

No Consistório do dia 5 de março de 1973, convocado pelo Papa Paulo VI, na Basílica de São Pedro, Dom Paulo foi criado cardeal-presbítero do título de Santo Antônio de Pádua, na Via Tuscolana. Como cardeal eleitor, participou dos dois conclaves, de agosto e de outubro de 1978. Participou ainda, como cardeal não-votante, dos conclaves de 2005 e de 2013. Em 9 de julho de 2012 tornou-se o Cardeal protopresbítero do Colégio dos Cardeais, por ser aquele que há mais tempo foi elevado à dignidade cardinalícia entre todos os cardeais-presbíteros, sendo também o mais antigo de todos os membros do Colégio Cardinalício.[3]

Atividade e contribuições[editar | editar código-fonte]

Sua atuação pastoral foi voltada aos habitantes da periferia, aos trabalhadores, à formação de comunidades eclesiais de base nos bairros, principalmente os mais pobres, e à defesa e promoção dos direitos da pessoa humana. Ficou conhecido como o Cardeal dos Direitos Humanos, principalmente por ter sido o fundador e líder da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, e sua atividade política era claramente vinculada à sua fé religiosa. Segundo ele:

Da esquerda para a direita, o arcebispo de São Paulo D. Paulo Evaristo Arns, o presidente da Samcil Dr. Alípio Correia Neto e o governador de São Paulo Laudo Natel inauguram o Hospital João XXIII na Mooca, São Paulo.

"Jesus não foi indiferente nem estranho ao problema da dignidade e dos direitos da pessoa humana, nem às necessidades dos mais fracos, dos mais necessitados e das vítimas da injustiça. Em todos os momentos Ele revelou uma solidariedade real com os mais pobres e miseráveis (Mt 11, 28-30[4]); lutou contra a injustiça, a hipocrisia, os abusos do poder, a avidez de ganho dos ricos, indiferentes aos sofrimentos dos pobres, apelando fortemente para a prestação de contas final, quando voltará na glória para julgar os vivos e os mortos." [5]

Enquanto bispo-auxiliar, trabalhou na Zona Norte paulistana, no bairro de Santana. Durante a ditadura militar, na década de 1970, notabilizou-se na luta pelo fim das torturas e restabelecimento da democracia no país, junto com o rabino Henry Sobel, criando uma ponte entre a comunidade judaica e a Igreja Católica em solo paulista.

Renovou o plano pastoral da Arquidiocese de São Paulo, instituindo novas regiões episcopais (divisões da Arquidiocese de São Paulo) e quarenta e três novas paróquias. Em 1972 criou a Comissão Brasileira de Justiça e Paz de São Paulo.[6] Incentivou a Pastoral da Moradia e a Pastoral Operária.

Em 22 de maio de 1977 recebeu o título de "Doutor Honoris Causa" (juntamente com o presidente norte-americano Jimmy Carter) da Universidade de Notre Dame, Indiana, Estados Unidos. A distinção, concedida também ao Cardeal Kim da Coreia do Sul e ao Bispo Lamont da Rodésia, deveu-se ao seu empenho em prol dos direitos humanos.

Entre 1979 e 1985, coordenou com o Pastor presbiteriano Jaime Wright, de forma clandestina, o projeto Brasil: Nunca Mais. Este projeto tinha como objetivo evitar o possível desaparecimento de documentos durante o processo de redemocratização do país. O trabalho foi realizado em sigilo e o resultado foi a cópia de mais de um milhão de páginas de processos do Superior Tribunal Militar (STM). Contudo, este material foi microfilmado e remetido ao exterior diante do temor de uma apreensão do material. Em ato público realizado dia 14 de junho de 2011, foi anunciada a futura repatriação, digitalização e disponibilização para todos os brasileiros deste acervo. O livro homônimo Brasil: Nunca Mais reuniu esta pesquisa sobre a tortura no Brasil no período da ditadura militar e foi publicado pela Editora Vozes. Evaristo Arns também foi um dos organizadores do movimento Tortura Nunca Mais.

Em 3 de junho de 1980 recebeu , em São Paulo o Papa João Paulo II. Em 30 de novembro de 1984 inaugurou a Biblioteca Dom José Gaspar.

Em 1985, com a ajuda de sua irmã, a pediatra Zilda Arns Neumann, implantou a Pastoral da Criança.

Em 1989 a Arquidiocese de São Paulo, por decisão do papa João Paulo II, teve seu território reduzido com a criação das novas dioceses: Osasco, Campo Limpo, São Miguel Paulista e Santo Amaro.

Em 1992, Dom Paulo criou o Vicariato Episcopal da Comunicação, com a finalidade de fazer a Igreja estar presente em todos os meios de comunicação. Em 22 de fevereiro de 1992 inaugurou uma nova residência destinada aos padres idosos, a Casa São Paulo, ano em que também criou a Pastoral dos Portadores de HIV. Em 1994 criou o Conselho Arquidiocesano de Leigos.

Dom Paulo recebe visita da então Presidente da República Dilma Rousseff.

Em 1996, após completar 75 anos, apresentou renúncia ao Papa João Paulo II, em função das normas eclesiásticas, renúncia esta que foi aceita. A partir de então, tornou-se arcebispo emérito de São Paulo e foi substituído por Dom Frei Cláudio Cardeal Hummes.

Recebeu o título de doutor honoris causa pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, em 1998.

Morte[editar | editar código-fonte]

O corpo do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns foi velado na Catedral da Sé, no centro de São Paulo.

Dom Evaristo Arns morreu aos 95 anos, no dia 14 de dezembro de 2016, em consequência de uma broncopneumonia. Estava internado havia cerca de quinze dias no Hospital Santa Catarina, em São Paulo, para tratar de problemas pulmonares.[7] O governo do Brasil decretou luto oficial de três dias, em sinal de pesar pelo falecimento do religioso.[8][9]

Em mensagem enviada à Arquidiocese de São Paulo e lida pelo bispo Dom Angélico Sândalo Bernardino durante o funeral, o Papa Francisco solidarizou-se e lamentou a morte do religioso, enaltecendo a generosidade e servidão de Dom Evaristo Arns, que foi uma referência para a Igreja do Brasil.

Dou graças ao Senhor por ter dado à Igreja tão generoso pastor e elevo fervorosas preces para que Deus acolha na sua felicidade eterna este seu servo bom e fiel, enquanto envio a essa comunidade arquidiocesana que chora a perda do seu amado pastor e à Igreja do Brasil, que nele teve um seguro ponto de referência, e a quantos partilham esta hora de tristeza que anuncia a ressurreição, uma confortadora bênção apostólica[10]
 
Papa Francisco, 15 de dezembro de 2016.

Em nota oficial o Presidente da República, Michel Temer lamentou a morte de Dom Paulo afirmando que Arns foi um defensor da liberdade e sempre teve como norte a construção de uma sociedade justa e igualitária.

Depois da solenidade das honras fúnebres, presidida pelo Cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, o corpo de Dom Paulo foi sepultado no fim da tarde de 16 de dezembro na cripta da Catedral da Sé.[12]

Honrarias[editar | editar código-fonte]

Em 2017, foi homenageado in memoriam com o Prêmio Vladimir Herzog.[13]

Obras publicadas[editar | editar código-fonte]

  • Autor de 57 livros, suas obras versam sobre a ação pastoral da Igreja nas grandes cidades e estudos da literatura cristã dos primeiros séculos, além de centenas de artigos escritos para as diversas revistas das quais foi redator antes do episcopado.[14]
  • Umas das principais obras foi a pesquisa por ele organizada, em que foi abordada a tortura durante os Anos de Chumbo: Brasil, Nunca Mais.

Ordenações[editar | editar código-fonte]

Ordenações presbíteros[editar | editar código-fonte]

Ordenações episcopais[editar | editar código-fonte]

O Cardeal Arns foi o principal sagrante dos seguintes bispos:

E foi consagrante de:

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Arns, Paulo Evaristo (2001). Da esperança à utopia. testemunho de uma vida. Rio de Janeiro: Sextante. pp. 44–46. ISBN 85-86796-93-X 
  2. «Paulo Evaristo Cardinal Arns, O.F.M.». Consultado em 3 de junho de 2010 
  3. «Cardinals created by Paul VI (1973)» (em inglês). Consultado em 11 de julho de 2012 
  4. "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
    Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.
    Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve." Mateus 11:28-30
  5. ARNS, Paulo Evaristo. Da esperança à utopia: testemunho de uma vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2001, p. 332 ISBN 85-86796-93-X
  6. FESTER, Antonio Carlos Ribeiro. Justiça e paz: memórias da Comissão de São Paulo. Edições Loyola, 2005
  7. Dom Paulo Evaristo Arns morre em São Paulo aos 95 anos Portal G1 São Paulo, 14/12/2016
  8. Imprensa Nacional (15 de dezembro de 2016). «Diário Oficial da União - Ano CLIII, nº. 240». Brasília - DF: Diário Oficial da União. p. 27. ISSN 1677-7042. Consultado em 15 de dezembro de 2016 
  9. «D. Paulo Evaristo Arns morre em São Paulo aos 95 anos». G1. 14 de dezembro de 2016. Consultado em 14 de dezembro de 2016 
  10. Daniel Mello e Fernanda Cruz (15 de dezembro de 2016). «Papa envia mensagem de pesar pela morte de dom Paulo Evaristo Arns». Agência Brasil. Consultado em 16 de dezembro de 2016. Cópia arquivada em 16 de dezembro de 2016 
  11. «Temer lamenta morte de dom Paulo Evaristo Arns». Folha de S.Paulo. 14 de dezembro de 2016. Consultado em 19 de janeiro de 2017 
  12. Bruno Bocchini (16 de dezembro de 2016). «Sob aplausos, corpo de dom Paulo Evaristo Arns é sepultado na Catedral da Sé». Agência Brasil. Consultado em 16 de dezembro de 2016 
  13. Giuliano Galli (10 de outubro de 2017). «Confira a lista com todos os vencedores e menções honrosas do 39º Prêmio Vladimir Herzog». Vladimir. Consultado em 28 de março de 2020. Cópia arquivada em 29 de março de 2020 
  14. Redação (24 de outubro de 2016). «Dom Paulo faz 95 anos e recebe homenagem hoje, em São Paulo». Rede Brasil Atual. Consultado em 2 de maio de 2018 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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Precedido por
sede vacante
brasão episcopal
Bispo titular de Respecta

1966 — 1970
Sucedido por
Alexis Phạm Văn Lộc
Precedido por
Dom Agnelo Cardeal Rossi
Brasão arquiepiscopal
Arcebispo de São Paulo

1970-1998
Sucedido por
Dom Frei Cláudio Cardeal Hummes, O.F.M.
Precedido por
Criação do titulus
Brasão arquiepiscopal
Cardeal-presbítero de
Santo Antônio de Pádua na Via Tuscolana

1973 - 2016
Sucedido por
Jean Cardeal Zerbo
Precedido por
Dom Eugênio de Araújo Cardeal Sales
Brasão cardinalício.
Cardeal Protopresbítero

2012 - 2016
Sucedido por
Michael Michai Cardeal Kitbunchu