Pirapitinga – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Família: Serrasalmidae
Gênero: Piaractus
Espécie: P. brachypomus
Nome binomial
Piaractus brachypomus
(G. Cuvier, 1818)
Sinónimos
Colossoma bidens[1] (Spix & Agassiz, 1829)
Colossoma brachypomum[1]

A Pirapitinga ou Caranha (nome científico: Piaractus brachypomus), é um peixe de água doce da família Serrasalmidae,[2][3] nativo da Bacia Amazônica, na América do Sul (uma população do Rio Orinoco foi descrita em 2019 como espécie separada, a Piaractus orinoquensis).[4] É uma das espécies nativas mais criadas em cativeiro no Brasil. A espécie foi inicialmente classificada como parte do gênero Colossoma, a qual pertence o tambaqui, recebendo os nomes científicos C. brachypomum e C. bidens.[2] Em 1818, Cuvier a nomeou Myletes brachypomus.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Pirapitinga é uma palavra originaria da Língua tupi onde significa algo como Peixe de casca branca[5].

Habitat[editar | editar código-fonte]

É um peixe que habita originalmente regiões de mata alagada das bacias amazônica e Tocantins-Araguaia. [6] Porém, foi introduzida em países como Estados Unidos, Canadá, China, Mianmar, Papua Nova Guiné e Taiwan.[3] Suas larvas são encontradas em rios de águas brancas. Os adultos vivem vivem em áreas de várzea e igapós, em todos os tipos de rios, ocorrendo também em rios pobres em nutrientes.[7][8] Durante o período chuvoso, os peixes migram para florestas de várzea. Habitam principalmente rios com águas de fluxo lento e lagos com pH entre 4,8 e 6,8 e temperatura da água entre 23 e 28°.[3]

Características[editar | editar código-fonte]

Crânio de Piaractus brachypomus de cima e de perfil.

A pirapitinga é um peixe escamado, de corpo romboidal, comprido, repleto de escamas cinza-arroxeadas(podendo ser cinza-claro em indivíduos jovens) com reflexo prateado, com o dorso apresentando um padrão levemente avermelhado. O número de escamas na linha lateral curvada para baixo é de 70 a 89, enquanto as ventrais de 46 a 63.[9] Possui uma serra na quilha abdominal. Suas nadadeiras são amareladas, sem desenhos. A nadadeira anal é longa, podendo ser vermelha com borda preta (esta última caracteristica também atribuida à nadadeira caudal), enquanto a adiposa pode estar reduzida ou completamente ausente em adultos.[10] A cabeça é desproporcional ao corpo. Sua mandíbula inferior é coberta por um lábio carnudo. Possui muitos dentes molares, que servem parar mastigar vegetais e frutos, e por isso é um animal herbívoro. Faz sua reprodução em época de piracema, desovando em locais mais rasos e de temperatura menor, sempre em época das cheias dos rios.[11] A espécie pode atingir até 88 centímetros de comprimento e pesar até 25 quilos. São peixes que podem viver até os 28 anos.[3]

Os juvenis têm o peito vermelho e podem ser facilmente confundidos com a piranha-vermelha, sendo distinguidos desta por meio de seus dentes, semelhantes a molares.[2] Pensa-se que essa semelhança seja mimetismo batesiano das pirapitingas para evitar predadores.[12] Os indivíduos adultos não tem a barriga vermelha e brilhante e se assemelham mais ao tambaqui, sendo distinguidos destes por algumas características: a pirapitinga tem a nadadeira adiposa menor e sem raios, sua cabeça é mais arredondada (menos alongada e pontuda), além de diferenças nos dentes e no opérculo.[2] Quando ao pacu-caranha, ele pode ser distinguido por sua escama menor e pelo maior número de escamas laterais (mais de 110).[13][2]

Comportamento[editar | editar código-fonte]

De maneira geral, o comportamento da pirapitinga se assemelha ao do tambaqui. Ela faz migração mas o padrão ainda não foi totalmente esclarecido. Faz sua desova durante o início da estação de cheio, entre novembro e fevereiro.[7][8]

Alimentação[editar | editar código-fonte]

Aspecto da mandíbula de um espécime de Piaractus brachypomus mostrando seus dentes molariformes especializados em moer sementes e frutos.

Alimentam-se principalmente de conteúdo vegetal como frutas e sementes, mas podendo consumir zooplâncton, insetos, crustáceos e pequenos peixes, principalmente durante o período de seca.[12][14] Por comer frutos e sementes, é uma grande dispersora, em geral até mais eficiente que o tambaqui, uma vez que ela causa menos danos às sementes.[15]

Reprodução[editar | editar código-fonte]

Os machos atingem sua maturidade sexual por volta dos 3 anos de idade, enquanto as fêmeas por volta dos 4 anos. Em seu habitat natural, fazem sua reprodução em águas com temperatura por volta de 26°, chegando a produzir entre meio milhão a um milhão de ovos. [16]

Aquicultura e pesca[editar | editar código-fonte]

Na região amazônica a pirapitinga é uma importante fonte de alimento e bastante consumida por sua carne ser considerada saborosa.[3] Por conta disso a partir de 2012 passou a ser gravemente afetada pelo consumo desenfreado. Para nutrir tal demanda, o peixe passou a ser criado por aquicultores de todo o mundo.[17] Eles se adaptam facilmente em tanques com baixo nível de oxigênio[18] e tem baixas exigências quanto ao teor de proteína na ração. Logo, a espécie se caracterizou por seu rápido crescimento, baixa exigência alimentar (ração com mais carboidratos e menos proteínas) e resistência à má qualidade da água. Sua criação em conjunto com bagres levou a maior rendimento de biomassa por conta da forma diferente que as espécies utilizam o alimento, baixando também os custos de alimentação a medida que aumenta a eficiência. [19] Alimentar os peixes à noite também mostrou ser mais eficiente produzindo maior ganho de peso.[20] Isso se justificaria pelo fato do consumo de energia por parte da pirapitinga ser menor durante a noite, verificando-se que o peixe é mais ativo ao entardecer.

A despeito da espécie ser nativa de águas brasileiras e sul americanas, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) é a China o país que mais produz o peixe em cativeiro. Em 2020, a China produziu 59,4 mil toneladas do peixe, enquanto o Brasil modestas 1,8 mil toneladas. [21]

Aquarismo[editar | editar código-fonte]

Indivíduos menores podem ser criados em aquários com temperatura entre 24° e 27°, onde podem viver em associação com bodós (peixes do gênero Hypostomus) e aruanã (Osteoglossum bicirrhosum), atingindo de 5 a 15 anos de vida.[22]

Espécie invasora[editar | editar código-fonte]

A partir de 2012, a espécie Piaractus brachypomus já havia sido introduzida em pelo menos 16 estados dos Estados Unidos, onde se espalharam amplamente por causa das altas temperaturas.[2] Na Papua-Nova Guiné, a espécie foi introduzida no Rio Sepik e no Rio Ramu em 1997, como parte do programa "Fishaid" da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura para proporcionar mais fontes de proteínas à população local. Por lá a pirapitinga causou danos ecológicos à fauna e flora fluvial, agredindo a população local de Ciclídeos como as tilápias, além de várias espécies de plantas aquáticas das águas do rio Sepik. A medida que se expandiam no novo ecossistema, passaram a ser mais carnívoras. Houve até acidentes envolvendo nadadores que foram moridos por grandes exemplares da espécie.[23] Em alguns locais onde foram introduzidas, as pirapitingas são frequentemente confundidas com piranhas.[24] Até mesmo na Croácia foram capturados exemplares da espécie,[9] havendo também a possivel observação ou captura na costa da Polônia e Dinamarca no Mar Báltico.[25]

Hibridização com tambaqui[editar | editar código-fonte]

A pirapitinga pode se reproduzir artificialmente com o tambaqui, um parente próximo, dando origem a um híbrido intergenérico batizado de tambatinga. Nesse processo, são utilizados o sêmen de uma macho de pirapitinga e ovócitos de uma fêmea de tambaqui. O híbrido teria capacidade de crescimento maior e mais rápido, maior eficiência na filtração de plâncton e também mais ciclos reprodutivos que as espécies que o originaram e também o tambacu, outro híbrido (este entre o tambaqui e o pacu-caranha). Além disso, o tamanho menor da cabeça da tambatinga traria mais rendimento de carne aos produtores.[26]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b NAS - Nonindigenous Aquatic Species, Piaractus brachypomus
  2. a b c d e f «Piaractus brachypomus» (em inglês). USGS. Consultado em 16 de março de 2024 
  3. a b c d e «Piaractus brachypomus» (em inglês). Fishbase. Consultado em 16 de março de 2024 
  4. Maria D. Escobar; et al. (24 de abril de 2019). «A new species of Piaractus (Characiformes: Serrasalmidae) from the Orinoco Basin with a redescription of Piaractus brachypomus» (em inglês). Journal of Fish Biology. Consultado em 16 de março de 2024 
  5. Mayk Alves (1 de novembro de 2020). «Pirapitinga é um peixe que atinge até 14kg quando adulto». Agro 2.0. Consultado em 18 de maio de 2022 
  6. «Pirapitinga». CPT. Consultado em 18 de maio de 2022 
  7. a b Carlos A R M Araujo-Lima; Mauro Luis Ruffino (janeiro de 2003). «Migratory fishes of the Brazilian Amazon» (em inglês). Migratory Fishes of South America. Consultado em 16 de março de 2024 
  8. a b A.F. Nascimento (abril de 2010). «Out-of-season sperm cryopreserved in different media of the Amazonian freshwater fish pirapitinga (Piaractus brachypomus)» (em inglês). Animal Reproduction Science. Consultado em 16 de março de 2024 
  9. a b Marko Cáleta; et al. (2011). «How was a Pirapitinga, Piaractus brachypomus (Serrasalmidae) introduced in Croatian freshwaters?» (PDF) (em inglês). Cybium. Consultado em 17 de março de 2024 
  10. Stephen T. Ross; et al. (2001). The Inland Fishes of Mississippi (em inglês). [S.l.]: University Press of Mississippi. 624 páginas. ISBN 1578062462 
  11. «Peixes de água doce do Brasil - Pirapitinga (Piaractus brachypomus)». Cursos CPT. Consultado em 18 de maio de 2022 
  12. a b «Piaractus brachypomus» (em inglês). Seriously Fish. Consultado em 16 de março de 2024 
  13. «genus Piaractus» (em inglês). OPEFE. Consultado em 17 de março de 2024 
  14. Blake Hintz. «Piaractus brachypomus» (em inglês). Animal Diversity Web. Consultado em 16 de março de 2024 
  15. Cristiane M. Lucas (18 de agosto de 2008). «Within Flood Season Variation in Fruit Consumption and Seed Dispersal by Two Characin Fishes of the Amazon» (em inglês). The Scientific Journal of ATBC. Consultado em 16 de março de 2024 
  16. «Pacu, pirapatinga, red-bellied pacu» (em inglês). Galveston Bay Field. Consultado em 17 de março de 2024. Cópia arquivada em 20 de dezembro de 2016 
  17. Kohler; et al. (25 de agosto de 2004). «DEVELOPMENT OF SUSTAINABLE POND AQUACULTURE PRACTICES FOR PIARACTUS BRACHYPOMUS IN THE PERUVIAN AMAZON» (PDF) (em inglês). Consultado em 20 de março de 2024. Cópia arquivada (PDF) em 25 de agosto de 2004 
  18. Dabrowski; et al. (3 de abril de 2007). «Effect of Oxygen Saturation in Water on Reproductive Performances of Pacu Piaractus brachypomus» (em inglês). Journal of the World Aquaculture Society. Consultado em 20 de março de 2024 
  19. Tamaru; et al. «Performance of Red Pacu, Piaractus brachypomus, cultured alone or co-cultured with Chinese Catfish, Clarius fuscus» (PDF) (em inglês). Consultado em 20 de março de 2024. Cópia arquivada (PDF) em 22 de outubro de 2012 
  20. Baras; et al. (9 de janeiro de 2011). «Comparison of Food Conversion by Pirapatinga Piaractus brachypomus under Different Feeding Times» (em inglês). The Progressive Fish-Culturist. Consultado em 20 de março de 2024 
  21. BBC (23 de janeiro de 2023). «Como China superou Brasil e virou grande produtora de peixes amazônicos». G1 Agro. Consultado em 20 de março de 2024 
  22. Mike (23 de setembro de 2018). «Red Belly Pacu» (em inglês). Fishlore. Consultado em 20 de março de 2024 
  23. «Vulnerability of freshwater and estuarine fisheries in the tropical Pacific to climate change» (PDF) (em inglês). Secretariat of the Pacific Community. 2011. Consultado em 20 de março de 2024. Cópia arquivada (PDF) em 17 de abril de 2012 
  24. «Scientists dispel fears of piranha invasion in Cat Tien Reserve» (em inglês). Viêt Nam News. 30 de junho de 2003. Consultado em 20 de março de 2024. Cópia arquivada em 16 de julho de 2006 
  25. «Der "Hodenbeißer"» (em alemão). SVZ. 13 de agosto de 2013. Consultado em 20 de março de 2024 
  26. «CONHEÇA DOIS PEIXES HÍBRIDOS CRIADOS A PARTIR DO TAMBAQUI DA AMAZÔNIA». Portal Amazônia. 22 de outubro de 2021. Consultado em 20 de março de 2024 
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