Português uruguaio – Wikipédia, a enciclopédia livre

Português uruguaio

Portuñol, Portunhol riverense.

Pronúncia:portu'ɲol
Falado(a) em: Uruguai
 Brasil
Região: Fronteira da Paz, departamento de Rivera (Uruguai), Santana do Livramento (Brasil) e áreas circunvizinhas.
Total de falantes: aprox. 100.000 (nativos: aprox. 70 000; outros: aprox. 30 000)
Posição: Não se encontra entre os 100 primeiros [1]
Família: Indo-europeia
 Itálica
  Românica
   Ítalo-ocidental
    Ocidental
     Galo-ibérica
      Ibero-românica
       Ibero-ocidental
        Dialetos portugueses do Uruguai
         Português uruguaio
Estatuto oficial
Língua oficial de: sem reconhecimento oficial
Regulado por: sem regulamentação oficial
Códigos de língua
ISO 639-1: não tem
(código linguasphere [1]: 51-AAA-am[2])
ISO 639-2: ---

O português uruguaio, também conhecido por portunhol riverense, fronteiriço ou misturado, é uma variedade dialetal do que hoje se conhece em meios acadêmicos como Dialetos Portugueses do Uruguai ou Dialectos portugueses del Uruguay (DPU) em espanhol. É falado por cerca de 15% da população uruguaia,[2] sendo usado na região fronteiriça entre o Uruguai e o Brasil em cidades como Artigas e Quaraí, mas principalmente na região das cidades gêmeas de Rivera e de Santana do Livramento. Esta região da fronteira é chamada de "Fronteira da Paz". Este nome é resultado da cultura de integração surgida da convivência internacional pacífica de ambos povos.

Características gerais[editar | editar código-fonte]

Como toda língua, o português uruguaio é muito dinâmico e heterogêneo, existindo um contínuo de dialetos que vão desde o português brasileiro (brazilero, em portunhol) padrão até ao espanhol rioplatense (castilhano, em portunhol). Não obstante, possui uma variante que é a mais utilizada, e que pode ser usada como base de estudo: esta localiza-se geograficamente na zona que tem como centro as cidades de Rivera e Santana do Livramento, e estende-se por uma orla de vários quilômetros ao longo da fronteira. E é a esta variante que o artigo tratará de abordar, ainda que daqui em diante seja chamada simplesmente portunhol ou riverense, nomes pelos quais se identificam as pessoas que falam este idioma.

A maioria dos linguistas classificam o riverense como um dialeto da língua portuguesa (mais notoriamente Adolfo Elizaincín [3], que tecnicamente chama-o de DPU - dialeto português do Uruguai), ainda que não haja um consenso. O que se pode dizer com certeza é que, por receber contribuições de dois idiomas, o portunhol é uma língua muito rica, no sentido de que tem uma grande variedade de sinônimos e palavras mais precisas para expressar conotações específicas, além de possuir uma maior riqueza fonética. Por outro lado, o riverense não é uma simples mescla de dois idiomas que não segue regras gramaticais precisas. Também é importante assinalar que, de maneira geral, somente os cidadãos uruguaios utilizam esse dialeto, enquanto o que ocorre no lado brasileiro é um bilinguismo.

Origem[editar | editar código-fonte]

A origem do portunhol se remonta na época da colonização portuguesa na região norte do Uruguai, na qual não estava bem definido a quem pertenciam esses territórios, com a soberania passando de maneira sucessiva de uma coroa a outra. Não somente o português e o espanhol tiveram influência sobre o portunhol, mas também as línguas indígenas, em alguns casos. Como exemplos, podem-se citar: guri (menino), mamboretá (reza ou pedido), caracu (osso de vaca).

Nas canções populares e folclore fronteiriço[editar | editar código-fonte]

Muito frequente em músicas de caráter lúdico nas periferias fronteiriças de ambas cidades, um estilo regional de música surgiu utilizando o Portunhol Riverense como base linguística junto o amplo ritmo latino chamado Cumbia, sendo este estilo denominado a "Cumbia Bagacera".

"Bagacera" denomina algo ou alguém de procedência duvidosa e sugere um baixo calão para "algo/alguém que não presta". Muito comum relacionar o termo a pessoas com desvios de caráter ou que apresentam comportamentos não aceitáveis perante a sociedade como alcoolismo, boemia e a frequente pronúncia de palavrões. Por isto o estilo faz de forma mimética uma estereotipagem narrativa ou prosaica do dia a dia destes "bagaceras", ora como crítica, ora como mera brincadeira.

Decorrente da união dos conceitos de cada povo sobre as pessoas à margem da sociedade e esta convivência mútua, assim como "Bagacera" surgiram alguns arquétipos locais e perfis destas pessoas que são mutuamente reconhecidos e utilizados em ambas cidades, mais especificamente pelos falantes de portunhol, dentre estas figuras:

  • "Chinelão" - Pessoa sem habilidades, sem respeito ou bons costumes, semelhante a bagacera.
  • "Biticome" - Pessoa que orgulhosa e mentirosa, que se gaba muito de algo que não é.
  • "Tramposo" - Pessoa trapaceira, principalmente em negócios ou jogos.
  • "Fronha" / "Mãe" - Pessoa medrosa, que não encara desafios, melindrado.
  • "Payaso" - Literalmente palhaço, pessoa que faz graça até do que não deve.
  • "Entonado" - Pessoa brigona, que busca motivos para levantar a voz e arranjar briga.
  • "Borracheira" / "Querosem" - Pessoa alcoólatra, referência ao estado "mol" devido a ingestão de álcool e ao cheiro desagradável de álcool.
  • "Calavera" - Indivíduo de idade avançada e também caloteiro, caborteiro, vagabundo, tratante

A fonologia e ortografia[editar | editar código-fonte]

A língua Riverense formalmente não tem uma ortografia definida, mas neste artigo uma ortografia de Portunhol Riverense será apresentada/indicada para permitir que os seus fonemas sejam representados da mais exata e mais constante maneira possível, enfatizando as características fonológicas desta variedade da língua. Deve-se observar que nem todos os falantes do Portunhol Riverense usam a mesmo pronúncia para as mesmas palavras (que é o caso com a maioria das línguas). Não obstante, escolhe-se a escrita que é mais representativa das características mais frequentes e distintas.

Os fonemas e a sua representação ortográfica[editar | editar código-fonte]

A representação escolhida é a mais próxima da usada se tentarmos transcrever os fonemas à língua espanhola (porque esta é a língua ensinada aos uruguaios, aquela é a nacionalidade da maioria dos usuários deste dialecto), à excepção dos fonemas que não podem ser representados com o alfabeto espanhol, como, por exemplo as vogais nasais.

Vogais espanholas[editar | editar código-fonte]

As vogais espanholas são pronunciadas como as cinco vogais da língua espanhola (existem também no português):

letra AFI Fronteiriço Pronúncia(AFI) Português Brasileiro Espanhol (dialeto rioplatense)
a a papa ['papa] batata papa
catarata [kata'ɾata] cachoeira catarata
e e peshe ['peʃe] peixe pez
detergente [deter'χente] detergente detergente
i i, j cisco ['sisko] lixo basura
niño ['niɲo] ninho nido
ciá [sja] jantar (cear) cenar
o o ontonte [on'tonte] anteontem anteayer
oio ['ojo] olho ojo
poso ['poso] poço pozo
u u, w yururú uɾu'ɾu] jururu triste, melancólico
nu [nu] no en el
acuá [a'kwa] latir, ladrar ladrar

Vogais portuguesas[editar | editar código-fonte]

Estas vogais são encontradas no português, mas não no espanhol.

Vogais Semiabertas[editar | editar código-fonte]

São como as vogais e e o, mas pronunciado de uma maneira mais aberta, próximo de um a.

letra AFI Fronteiriço Pronúncia (AFI) Português Espanhol
é ɛ té [tɛ] chá
pél [pɛl] pele piel
véia ['vɛja] velha vieja
ó ɔ fófóca [fɔ'fɔka] fofoca chisme
póso ['pɔso] posso puedo

É muito importante distinguir as vogais abertas (é, ó), porque podem mudar totalmente o sentido da palavra, como nos seguintes exemplos:

avó [a'vɔ] (avó) e avô [a'vo] (avô)
véio ['vɛjo] (velho) e veio ['vejo] (veio, do verbo ir)
véia ['vɛja] (velha) e veia ['veja] (veia)
póso ['pɔso] (posso) e poso ['poso] (poço)

Vogais nasais[editar | editar código-fonte]

As vogais nasais são as vogais que são expiradas produzindo o ar através do nariz e em parte através da boca. Não existem no espanhol e consequentemente derivam-se das palavras portuguesas.

AFI letras Fronteiriço Pronúncia (AFI) Português Espanhol
ã ã masã [ma'sã] maçã manzana
lã [lã] lana
sã [sã] sana (adj.)
an (*) cansha ['kãʃa] cancha cancha
en (*) pênsaũ ['psaw̃] pensam piensan
ĩ in (**) intonce [ĩ'tõse] então entonces
õ õ garsõ [gar'sõ] garçom mozo (de bar o restaurante)
tõ [tõ] tom tono
on (*) intonce [ĩ'tõse] então entonces
ũ, w̃ ũ ũ [ũ] um uno
cũtigo [kũ'tiɣo] contigo contigo
niñũa [ni'ɲũa] nenhuma ninguna
maũ [ma] mão mano

(*) antes de s, sh, y, z, ce, ci.
(**) antes de s, sh, y, z, ce, ci,
ou quando é a primeira sílaba da palabra e não é seguida por
ga, gue, gui, go, gu, ca, que, qui, co, cu ou k.

Distinguir vogais nasais é muito importante, porque podem mudar completamente o significado da palavra, como nos seguintes exemplos:

  • paũ [paw̃ (pão) e pau [paw] (pau)
  • [nũ] (num) e nu [nu] (no)
  • nũa ['nũa] (numa) e núa ['nua] (nua)
  • ũ [ũ] (um) e u [u] (o)
  • [kũ] (com) e cu [ku] (cu, ânus)
  • ũs [ũs] (uns) e us [us] (os)

Consoantes[editar | editar código-fonte]

No quadro seguinte, quando se referir ao português, está-se a referir ao português brasileiro e em particular ao português gaúcho (do estado do sul do Brasil o Rio Grande do Sul) ou aos da mídia brasileira, e quando se referir ao espanhol, na realidade está-se a referir à variante do espanhol tal como é falada no Uruguai.

letra AFI nome descrição exemplos e contraexemplos (PT=português, ES=espanhol)
b [b, β] be Representa o mesmo fonema que em português e espanhol, ou seja, é sempre bilabial. brabo ['bɾaβo] (PT: zangado/bravo, ES: enojado/bravo).
c [k, s] ce Quando precede a uma vogal ou a uma consoante, exce(p)to o h, pronuncia-se como em português e espanhol. Isto é, representa o fonema /k/ quando se segue pelas vogais a, o, u, ã, õ, ũ, á, ó, ú, ou por uma consoante, de novo excepto o h; e representa o fonema /s/ quando precede às vogais e, i, é, í. cacimba [ka'simba] (PT: cacimba, ES: cachimba).
ch [ʧ] ce hache, che Pronuncia-se como ch espanhol, ou seja, o equivalente ao fonema representado por tch em português. che [ʧe] (PT: tchê, ES: che), bombacha [bom'baʧa] (cuecas), bombasha [bom'baʃa] (peça de roupa típica gaúcha).
d [d, ð, dʒ] de Representa as oclusivas dentais, no entanto, devido a influência da mídia brasileira, a assibilação deste fonema ao anteceder vogais anteriores altas /i/, /ĩ/ está cada vez mais difundida, assim como também ocorre nos dialetos brasileiros em geral.[4][5] diploide [dʒi'plɔjðe].
f [f] efe Representa o mesmo fonema que como em português e espanhol.
g [g, ɣ, χ] ge Quando precede às vogais a, o, u, ã, õ, ũ, á, ó, ú, ou a uma consoante, representa o mesmo som que em português e espanhol. Quando precede às vogais e, i, é, í, representa o mesmo som que o j espanhol, igual ao fonema grafado rr em português. gagueyá [gaɣe'ʒa] (PT: gaguejar, ES: tartamudear), geología [χeolo'χia] (PT: geologia, ES: geología, ).
h hache É mudo, exce(p)to apenas quando este é precedido por um c ou um s. Em portunhol, apenas as palavras derivantes do português e do espanhol nas quais existem o h grafam-se com h. hoye ['oʒe] (PT: hoje, ES: hoy), oso ['oso] (PT: osso, ES: hueso).
j [χ] jota Representa o mesmo fonema que em espanhol, correspondendo em português ao rr. jirafa [χi'ɾɑfɑ] soa como em espanhol (rr); e [ʒi'ɾafa] como em português (PT: girafa, ES: jirafa).
k [k] ka Representa o mesmo fonema que em português e espanhol.
l [l] ele Representa o mesmo fonema que em espanhol. Note-se que no português do Brasil, o l final ou anterior a uma consoante pode pronunciar-se como [u] ou [w]. No portunhol riverense isso nunca acontece. Brazil [bɾa'zil] (PT e ES: Brasil).
m [m] eme Representa o mesmo fonema que em espanhol. Note-se que em português um m no final de uma palavra, por exemplo, pode pronunciar-se de várias maneiras distintas, dependendo das letras que o antecedem.
n [n, ŋ] ene Representa o mesmo fonema que em espanhol, excepto nos casos assinalados no aparte sobre vogais nasalizadas. amên [a'men] (PT. amém, ES: amén); amêñ [a'meɲ] (PT: amém, ES: amén); inté [ĩ'tɛ] (PT: até mais, ES: hasta luego); sanga ['saŋga] (PT: trincheira, ES: zanja).
ñ [ɲ] eñe Representa o mesmo fonema que em português nh (grafado em espanhol por ñ). niño ['niɲo] (PT: ninho, ES: nido); carpiñ [kaɾ'piɲ] (PT: meia, ES: calcetín); muñto ['muɲto] (PT: muito, ES: mucho); ruñ [ruɲ] (PT: ruim, ES: malo).
p [p] pe Representa o mesmo fonema que em português e espanhol.
qu [k, kw] cu Representa o mesmo fonema que em português e espanhol.
r [r, ɾ] erre, ere Representa o mesmo par de fonemas que em espanhol.
s [s, z] ese Representa o mesmo fonema que em espanhol, exce(p)to se se encontrar no fim de uma palavra e a palavra seguinte começar com vogal, ou se se encontrar antes de uma consoante sonora. Nestes dois últimos casos transforma-se foneticamente equivalente ao z português. Articula-se com a ponta da língua dirigida para os dentes superiores. asesino [ase'sino] (PT: assassino, ES: asesino), lido como em português seria azezino [aze'zino], palavra que não existe em portunhol; más flaco [mas'flako] (PT: mais magro, ES: más flaco), más gordo [maz'ɣordo] (PT: mais gordo, ES: más gordo).
sh [ʃ] ese hache, she Representa o mesmo fonema que é grafado em português por ch (igual sh inglês). shuva ['ʃuva] (PT: chuva, ES: lluvia); aflósha [a'flɔʃa] (PT: não perturbe, ES: no molestes).
t [t] te Representa as oclusivas dentais, no entanto, devido a influência da mídia brasileira, a assibilação deste fonema ao anteceder vogais anteriores altas /i/, /ĩ/ está cada vez mais difundida, assim como também ocorre nos dialetos brasileiros em geral.[4][5] timidamente [ˌtʃimiðaˈmẽte].
v [v] ve Representa o mesmo fonema que em português. A sua articulação é labiodental, ou mais raramente, levemente bilabial, aproximando os lábios mas sem que estes toquem como no caso do b. vaso ['vaso] (PT: copo, ES: vaso), se se pronunciasse como em espanhol, ficaria baso ['baso] (PT: baço, ES: bazo).
w [w] doblevê Utiliza-se nas palavras que provêm do inglês, e pronuncia-se u, ainda que convém utilizar a norma ortográfica do portunhol para as palavras estrangeiras que já formam parte desta linguagem. whisky ou uísqui ['wiski] (PT: uísque, ES: güisqui ou whisky), show ou shou [ʃow] (PT: espetáculo, concerto ou show, ES: espectáculo).
x [ks] equis, shis Representa sempre o fonema /ks/. exelente [ekse'lente] (PT e ES: excelente).
y [ʒ], j ye, í-griega É como em espanhol rioplatense (o y lê-se como o j português); sendo consoante, excepto no fim de uma palavra que termina com ditongo o tritongo, onde adquire o mesmo som que a vogal i. yurá [ʒu'ɾa] (PT: jurar, ES: jurar); Uruguay [uɾu'ɣwaj] (PT: Uruguai); yacaré [ʒaka'ɾɛ] (PT: jacaré, ES: yacaré).
z [z] ceta Representa o mesmo fonema que em português. caza ['kaza] (PT e ES: casa); casa ['kasa] (PT: caça, ES: caza).
zy [z, zʒ, ʒ] ceta ye Usa-se em palavras que têm um fonema que varia continuamente entre z e y (segundo o interlocutor). cuazye ['kwazʒe] (PT: quase, ES: casi); ezyemplo [e'zʒemplo] (PT: exemplo, ES: ejemplo).

As regras de acentuação ortográfica[editar | editar código-fonte]

O acento tônico denota, a tonicidade, ou seja, a ênfase dada a determinadas sílabas das palavras durante a fala. A sílaba acentuada denomina-se tónica, e as restantes de átonas. Pelo seu acento as palavras dividem-se em:

  • Oxítonas: as que estão acentuadas na última sílaba: asador, cantá (cantar), sabê (saber), numerô (numerou), algũ (algum).
  • Paroxítonas: as acentuadas na penúltima sílaba: caza (casa), canta, sabe, numéro (número).
  • Proparoxítonas: as acentuadas na antepenúltima sílaba: esplêndido, helicôptero (helicóptero), número.
  • Sobresdrúxulas: as acentuadas nalguma sílaba anterior à antepenúltima: dêbilmente (debilmente), pacíficamente (pacificamente), insínemelo (mostra-mo).

O acento ortográfico é a forma de representar o acento tônico, e em riverense consiste num acento agudo (´) ou um acento circunflexo (^). O acento circunflexo usa-se quando a vogal da sílaba tônica é a letra "e" fechada ou a letra "o" fechada, como em português. Nos restantes casos usa-se o acento agudo.

Mas nem todas as palavras levam acento ortográfico, e nem sempre os acentos agudos utilizam-se para representar o acento tônico, mas sim também para representar uma vogal aberta ("é", "ó"), como mencionou-se na seção anterior (ainda que geralmente ambos os usos coincidem).

As palavras que levam acento ortográfico[editar | editar código-fonte]

  • As palavras agudas com mais de uma sílaba terminadas em vogal (exceto as terminadas em "saũ") ou terminadas nas consoantes "n", "s" ou "ñ": gurí (menino), bombiá (olhar), comê (comer), shulé (chulé), Tarzán (Tarzan), tambêñ (também), estrês (estresse), pensaũ (pensão).
  • As palavras graves terminadas em "saũ" e as não terminadas em vogal, nem nas consoantes "n", "s" ou "ñ": pênsaũ (pensam), mártir, frágil.
  • Todas as palavras proparoxítonas e sobresdrúxulas: aritmêtica (aritmética), fácilmente (facilmente).
  • Todos os infinitivos: í (ir), (vir), (ser), (ter), (dar), (pôr), (ver), carpí (carpir), iscuiambá ("bagunçar")

Regras especiais de acentuação ortográfica[editar | editar código-fonte]

  • Monossílabos. Em regra geral escrevem-se sem acento agudo (se não são verbos no infinitivo); não obstante, quando dois monossílabos são iguais quanto à forma mas cumprem uma função distinta, um deles (geralmente o tónico) leva acento agudo:
    • te (pronome pessoal), (substantivo), (verbo): "Eu vo tê que te dá té da India." [ew vo 'te ke te 'ða 'tɛ ða 'indja] ("Eu vou ter que dar-te chá da Índia.")
    • siñ (preposição), síñ (advérbio de afirmação): "Síñ, siñ ele." ['siɲ si'ɲele] ("Sim, sem ele.")
    • (conjugação do verbo [dar]), de (preposição): "Me dê ũ de cada ũ." [me 'ðe 'ũ ðe 'kaða 'ũ] ("Dê-me um de cada um.").
    • (verbo), da (preposição): "Eu vo tê que te dá té da India." [ew vo 'te ke te 'ða 'tɛ ða 'indja] ("Eu vou ter que dar-te chá da Índia.").
    • saũ (conjugação do verbo [ser]), sáũ (adjetivo), Saũ (nome, o mesmo que Santo): "Us pensamento de Saũ Francisco saũ sáũ." [us pẽsa'mento ðe 'saw̃ fɾã'sisko saw̃ 'saw̃] ("Os pensamentos de São Francisco são sãos.").
    • cũá [kw̃a] (com a; contração de cũ a), cũa ['kũa] (com uma; contração de cũ ũa) "¿Cũá miña o cũa dele?." ("Com a minha ou com uma dele?").
  • Acento agudo que indica hiato. Quando numa palavra concorrem uma das vogais fortes ("a", "e" ou "o") e uma das vogais fracas ("i" ou "u") acentuada, não se produz ditongo. Para indicar a falta de ditongo (hiato) coloca-se um acento agudo sobre a vogal "i" ou "u": María [ma'ɾia] (Maria), reúna [re'una], baúl [ba'ul] (baú), fía ['fia] (filha), ladrío [la'ðɾio] (tijolo), garúa [ga'ɾua] (chuvisco), saí [sa'i] (sair).

Gramática[editar | editar código-fonte]

Conjugação verbal[editar | editar código-fonte]

Os verbos clasificam-se em quatro tipos segundo a terminação do seu infinitivo:

    1. 1ª conjugação - verbos terminados em á.
    2. 2ª conjugação - verbos terminados em ê.
    3. 3ª conjugação - verbos terminados em í.
    4. 4ª conjugação - verbos terminados em ô.

O portunhol riverense tem tanto verbos regulares como irregulares.

Verbos regulares[editar | editar código-fonte]

Tempos simples[editar | editar código-fonte]
c
o
n
j
Modo Indicativo Conjuntivo Imperativo
inf.
part.
ger.
pessoa presente pretérito
imperfeito
pretérito
imperfeito
simples
futuro condicional presente pretérito
imperfeito
futuro
1ª - á amá
(amar)
amado
amando
1ªs eu amo amava amey amarey amaría ame amase, amara amá
2ªs tu ama amava amaste amarás amaría ame amase, amara amá ama
3ªs ele ama amava amô amará amaría ame amase, amara amá ame
1ªp nós amamos, amemo amávamos, amava amamos, amemo amaremos amaríamos, amaría amemos, ame amásemos, amáramos, amase, amara amarmos, amá amemos
2ªp vocês am amavaũ amaraũ amaráũ amaríaũ am amaseñ, amaran amareñ am
3ªp eles am amavaũ amaraũ amaráũ amaríaũ am amaseñ, amaran amareñ am
2ª - ê temê
(temer)
temido
temendo
1ªs eu temo temía temí temerey temería tema temese, temera temê
2ªs tu teme temía temiste temerás temería tema temese, temera temê teme
3ªs ele teme temía temêu temerá temería tema temese, temera temê tema
1ªp nós tememos temíamos, temía temimos, tememo temeremos temeríamos, temería temamos, tem-a temêsemos, temêramos, temese, temera temermos, temê temamos
2ªp vocês tem temíaũ temeraũ temeráũ temeríaũ tem temeseñ, temieran temereñ tem
3ªp eles tem temíaũ temeraũ temeráũ temeríaũ tem temeseñ, temieran temêreñ tem
3ª - í partí
(partir)
partido
partindo
1ªs eu parto partía partí partirey partiría parta partise, partiera partí
2ªs tu parte partía partiste partirás partiría parta partise, partiera partí parte
3ªs ele parte partía partíu partirá partiría parta partise, partiera partí parta
1ªp nós partimos partíamos, partía partimos partiremos partiríamos, partiría partamos, parta partísemos, partiéramos, partise, partiera partirmos, partí partamos
2ªp vocês part partíaũ partiraũ partiráũ partiríaũ part partiseñ, partieran partireñ part
3ªp eles part partíaũ partiraũ partiráũ partiríaũ part partiseñ, partieran partireñ part
4ª - ô pô
(pôr)
posto
pondo
1ªs eu poño puña pús porey poría poña puzése, puzéra pô
2ªs tu p puña puzéste porás poría poña puzése, puzéra pô p
3ªs ele p puña pôs porá poría poña puzése, puzéra pô poña
1ªp nós pomos púñamos, puña puzemos poremos poríamos, poría poñamos, poña puzésemos, pusiêramos, puzése, puzéra pormos, pô poñamos
2ªp vocês p puñaũ puzéraũ poráũ poríaũ poñaũ puzéseñ, pusieran poreñ poñaũ
3ªp eles p puñaũ puzéraũ poráũ poríaũ poñaũ puzéseñ, pusieran poreñ poñaũ
Observações
  • Na segunda pessoa do singular dos modos indicativo e conjuntivo, também conjuga-se juntando um "s" ao fim da palavra. Exemplos: tu ama --> tu amas; tu temería --> tu temerías; tu poña --> tu poñas; tu partise --> tu partises.
  • Na primeira pessoa do plural (em todos os modos) também conjuga-se tirando o "s" final. Exemplos: nós poremos --> nós poremo; nós temíamos --> nós temíamo; nós amásemos --> nós amásemo; partamos --> partamo (imperativo).
  • O verbo (pôr) tem um verbo sinónimo ponê (pôr), que é irregular.
Tempos compostos[editar | editar código-fonte]
  • Pretérito perfeito do indicativo
pretérito perfeito (verbo) = pretérito ( ou havê) + particípio (verbo)
Forma-se com o pretérito simples do verbo (ter) ou do verbo havê (haver), mais o particípio do verbo em questão.
Exemplos: Eu teño amado. Eu he amado. Tu teñ partido. Nós hemos temido.
  • Pretérito mais-que-perfeito do indicativo
pretérito mais-que-perfeito (verbo) = pretérito imperfeito ( ou havê) + particípio (verbo)
Forma-se com o pretérito imperfeito do verbo ou do verbo havê, mais o particípio do verbo em questão.
Exemplos: Eu tiña amado. Eu havía amado. Tu tiña partido. Nós havíamo temido.
  • Futuro composto
futuro composto (verbo) = presente ( ou havê) + infinitivo (verbo)
Forma-se com o presente do verbo í (ir), mais o infinitivo do verbo em questão. Esta forma é mais usada que o futuro simples.
Exemplos: Eu vo amá. Tu vay partí. Nós vamo temé. Eles vaũ pô.
  • Futuro perfeito do indicativo
futuro perfeito (verbo) = futuro ( ou havê) + particípio (verbo)
Forma-se com o futuro simples do verbo ou do verbo havê, mais o particípio do verbo em questão.
Exemplos: Eu terey amado. Eu havrey amado. Tu terá partido. Nós havremos temido.
  • Condicional perfeito
condicional perfeito (verbo) = condicional ( ou havê) + particípio (verbo)
Forma-se com o condicional simples do verbo ou do verbo havê, mais o particípio do verbo em questão.
Exemplos: Eu tería amado. Eu havría amado. Tu tería partido. Nós havríamos temido. Vocês havríaũ posto.
  • Pretérito perfeito do conjuntivo
pretérito perfeito (verbo) = pretérito ( ou havê) + particípio (verbo)
Forma-se com o pretérito simples do verbo (ter) ou do verbo havê (haver), mais o particípio do verbo em questão.
Exemplos: Eu teña amado. Eu haya amado. Tu teña partido. Nós hayamos temido.
  • Pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo
pretérito mais-que-perfeito (verbo) = pretérito imperfeito ( ou havê) + particípio (verbo)
Forma-se com o pretérito imperfeito do verbo ou do verbo havê, mais o particípio do verbo em questão.
Exemplos: Eu tivése amado. Eu huvése amado. Tu tivése partido. Nós huvésemos temido.
  • Futuro perfeito do conjuntivo
futuro perfeito (verbo) = futuro ( ou havê) + particípio (verbo)
Forma-se com o futuro simples do verbo ou do verbo havê, mais o particípio do verbo em questão.
Exemplos: Eu tivé amado. Eu huvé amado. Tu tivé partido. Nós havermos temido.

Verbos irregulares[editar | editar código-fonte]

São os verbos que não seguem as regras de conjugação anteriores, que foram dadas para os verbos regulares.

Alguns verbos irregulares:

Tê (ter)[editar | editar código-fonte]
Modo Indicativo Conjuntivo Imperativo
inf.
part.
ger.
pessoa presente pretérito
imperfeito
pretérito
imperfeito
simples
futuro condicional presente pretérito
imperfeito
futuro

(ter)
tido
tendo
1ªs eu teño tiña tive terey tería teña tivése, tivéra tivé
2ªs tu teñ tiña tivéste terás tería teña tivése, tivéra tivé teñ
3ªs ele teñ tiña teve terá tería teña tivése, tivéra tivé teña
1ªp nós temos tíñamos, tiña tivemos teremos teríamos, tería teñamos, teña tivésemos, tivéramos, tivése, tivéra tivérmos, tivé teñamos
2ªp vocês teñ tiñaũ tivéraũ teráũ teríaũ teñaũ tivéseñ, tuvieran tivéreñ teñaũ
3ªp eles teñ tiñaũ tivéraũ teráũ teríaũ teñaũ tivéseñ, tuvieran tivéreñ teñaũ
Sê (ser)[editar | editar código-fonte]
Modo Indicativo Conjuntivo Imperativo
inf.
part.
ger.
pessona presente pretérito
imperfeito
pretérito
imperfeito
simples
futuro condicional presente pretérito
imperfeito
futuro

(ser)
sido
sendo
1ªs eu so éra fuy serey sería seya fose
2ªs tu é éra foste serás sería seya fose sê, for
3ªs ele é éra foy será sería seya fose sê, for seya
1ªp nós somos, semos éramos, éra fomos, fumos seremos seríamos, sería seyamos, seya fôsemos, fose sermos seyamos
2ªp vocês saũ éraũ foraũ seráũ seríaũ seyaũ foseñ sereñ seyaũ
3ªp eles saũ éraũ foraũ seráũ seríaũ seyaũ foseñ sereñ seyaũ
Í (ir)[editar | editar código-fonte]
Modo Indicativo Conjuntivo Imperativo
inf.
part.
ger.
pessoa presente pretérito
imperfeito
pretérito
imperfeito
simples
futuro condicional presente pretérito
imperfeito
futuro
í
(ir)
ido
indo
1ªs eu vo ía fuy irey iría vaya fose, ise í
2ªs tu vay ía foste irás iría vaya fose, ise í, for vay
3ªs ele vay ía foy irá iría vaya fose, ise í, for vaya
1ªp nós vamos íamos, ía fomos, fumos iremos iríamos, iría vayamos, vaya fôsemos, fose, isemos, ise irmos vayamos, vamos
2ªp vocês vaũ íaũ foraũ iráũ iríaũ vayaũ foseñ, iseñ ireñ vayaũ
3ªp eles vaũ íaũ foraũ iráũ iríaũ vayaũ foseñ, iseñ ireñ vayaũ
Tá (estar)[editar | editar código-fonte]
Modo Indicativo Conjuntivo Imperativo
inf.
part.
ger.
pessoa presente pretérito
imperfeito
pretérito
imperfeito
simples
futuro condicional presente pretérito
imperfeito
futuro

(estar)
tado
tando
1ªs eu to tava tive tarey taría teya tivése
2ªs tu ta tava tivéste tarás taría teya tivése tate
3ªs ele ta tava teve tará taría teya tivése teya
1ªp nós tamos, temo távamos, tava tivemos taremos taríamos, taría teyamos, teya tivésemos, tivése tarmos teyamos
2ªp vocês taũ tavaũ tivéraũ taráũ taríaũ teyaũ tivéseñ tareñ teyaũ
3ªp eles taũ tavaũ tivéraũ taráũ taríaũ teyaũ tivéseñ tareñ teyaũ

Referências

  1. «davidpbrown». Top 100 languages by population (Ethnologue 1996) (em inglês) 
  2. «Centenas de milhares de uruguaios têm português como língua materna». Diário de Notícias. Consultado em 14 de dezembro de 2016 
  3. «FHUCE» (em espanhol). Consultado em 13 de dezembro de 2007. Arquivado do original em 24 de setembro de 2006 
  4. a b Carvalho, p. 648-650, p. 7-9 do arquivo anexo
  5. a b Carvalho (2004), Documento sobre a patalização (e assibilação) de /t/, /d/ antes de /i/, /ĩ/

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]