Rafael Trujillo – Wikipédia, a enciclopédia livre

Rafael Trujillo
Rafael Trujillo
Trujillo em 1940
36.º Presidente da República Dominicana
Período 16 de agosto de 1930
a 16 de agosto de 1938
Vice-presidente Rafael Estrella Ureña (1930-1932)
Vacante (1932-1934)
Jacinto Peynado (1934-1938)
Antecessor(a) Rafael Estrella Urena (em exercício)
Sucessor(a) Jacinto Peynado
39º Presidente da República Dominicana
Período 18 de maio de 1942
a 16 de agosto de 1952
Vice-presidente nenhum
Antecessor(a) Manuel de Jesús Troncoso de la Concha
Sucessor(a) Héctor Trujillo
Generalíssimo da República Dominicana
Período 1931
a 1961
Dados pessoais
Nome completo Rafael Leonidas Trujillo Molina
Nascimento 24 de outubro de 1891
San Cristóbal
Morte 30 de maio de 1961 (69 anos)
Ciudad Trujillo (hoje São Domingos)
Nacionalidade dominicano
Cônjuge Maria Martínez de Trujillo
Filhos(as) Flor de Oro Trujillo Ledesma
Ramfis Trujillo
Odette Trujillo Ricardo
Angelita Trujillo
Yolanda Trujillo Lovatón
Leonidas Radhamés Trujillo Martínez
Rafael Trujillo Lovatón
Partido Dominicano
Profissão militar, político

Rafael Leónidas Trujillo Molina (San Cristóbal, 24 de outubro de 1891São Domingos, 30 de maio de 1961), foi o ditador[1] da República Dominicana entre 1930 e 1961, quando foi assassinado.[2] Durante seu governo de 31 anos, ele acumulou grande fortuna às custas de seu povo enquanto agia com repressão sobre a oposição.[3] Seu regime ficou conhecido pelos dominicanos como "Era Trujillo" (em castelhano: El Trujillato) e foi considerada uma das ditaduras mais brutais das Américas, onde o presidente se cercou com um enorme culto à personalidade, com monumentos e constantes propagandas em homenagem a ele mesmo feitas pelo seu governo.[4] Seu regime foi responsável pela morte de milhares de dominicanos e estrangeiros, incluindo cerca de 30 000 haitianos no famoso Massacre de Parsley.[5]

O país prosperou, ainda que de forma desigual, durante o regime de Trujillo. Além disso, sua postura anticomunista atraiu apoio internacional, especialmente dos Estados Unidos. Porém, seu governo foi marcado por Terrorismo de Estado, massacres e perseguição a dissidentes políticos (dentro e fora de suas fronteiras).[6][7]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido em San Cristóbal, numa família de classe média-baixa descendente de espanhóis, Trujillo recebeu uma boa educação e, em 1918, dois anos depois da invasão dos Estados Unidos da República Dominicana, se juntou ao novo exército do país. Impressionando seus oficiais, ele foi sendo promovido com rapidez anormal, chegando ao posto de general em apenas nove anos.[8]

Em fevereiro de 1930, começou uma rebelião contra o presidente Horacio Vásquez,[9] com a revolta sendo liderada por Rafael Estrella Ureña, com Trujillo se tornando secretamente amigo deste. Durante a marcha rebelde contra Santo Domingo, Vásquez ordenou que Rafael Trujillo lidasse com os revoltosos. Trujillo desobedeceu e não interveio, permitindo que Ureña tomasse a capital e assumisse temporariamente a liderança do país. Em troca, Ureña declarou Trujillo como chefe da polícia e do exército. Como parte do acordo secreto entre os dois, Trujillo concorreu a presidência na eleição seguinte com Estrella Ureña como seu vice. O exército reprimiu violentamente a oposição e caçou partidos não ligados ao governo, especialmente aqueles com inclinações de esquerda. A chapa Trujillo-Estrella venceu o pleito com 99% dos votos. O governo dos Estados Unidos reconheceu a vitória do general, mas, em segredo, através de vários documentos, apontou que a eleição foi marcada por fraude e intimidação.[10] No ano seguinte, decretou lei marcial e colocou todos os partidos políticos na ilegalidade (a exceção do seu próprio). [11] Em 1934, ele se promoveu ao cargo de generalíssimo e, com a oposição organizada praticamente eliminada, se elegeu com quase unanimidade nas urnas (como candidato único) e instalou um enorme culto à personalidade, glorificando a si mesmo como salvador da nação.[11] Com o passar dos anos, o governo de Trujillo foi ficando cada vez mais autoritário e o aparato repressivo do Estado foi expandido.[12]

Trujillo governou a República Dominicana como se fosse sua fazenda particular. Em dado momento, calculou-se que sua família detinha 70% das terras cultivadas. Defendia a posse de tantas terras e fábricas com o fato de nelas empregar a maioria do povo dominicano. A capital do país, São Domingos, a mais antiga cidade das Américas, fundada pelo irmão de Cristóvão Colombo, Bartolomeu, foi rebatizada Ciudad Trujillo. O ditador mandava matar seus opositores onde quer que estivessem, mesmo se fosse em plena luz do dia nos Estados Unidos ou qualquer país estrangeiro. O controle do generalíssimo sobre o país era total, tanto que nem precisava ocupar necessariamente o cargo de presidente – em certo momento cedeu o posto ao seu irmão Héctor.[13]

Trujillo era extremamente vaidoso. Os "intelectuais" que permaneciam no país eram encarregados de elogiar o "Benfeitor da Pátria, restaurador da Independência Financeira da República e Comandante-em-Chefe do Exército Nacional". Um artigo no jornal El Caribe, de 24 de outubro de 1950, comemorando 20 anos de sua subida ao poder, descreve-o como dotado de "um dinamismo iluminado, uma força incoercível de ação presidida pelas claras luzes de uma inteligência serena, poderosa, ousada. Ele é um 'cruzado', um 'abnegado'; como o sol para verter luz e calor, Trujillo nasceu para governar". E apesar disso, "cultiva como ninguém o difícil procedimento do diálogo".[14]

A brutalidade de Trujillo foi bem documentada.[12] Em 1937, ele ordenou a perseguição e morte de 20 mil haitianos que entraram no território dominicano. Ele modelava seu regime de acordo com o do ditador espanhol Francisco Franco da Espanha. Nas cidades havia placas que diziam "Deus e Trujillo". O ditador incentivava a imigração europeia para seu país, num esforço de branquear a população dominicana. Seu governo tratou bem imigrantes judeus, num ambiente global de profundo antissemitismo nas décadas de 30 e 40.[15]

Embora muitos americanos não gostassem de Trujillo, depois da Segunda Guerra Mundial, políticos da Guerra Fria deram suporte a ele como um dos líderes da América Latina com posição mais anticomunista.[16]

Os anti-trujillistas seguiam os passos de Fidel Castro contra o ditador Fulgencio Batista. Quando a revolução venceu em Cuba em 1959, muitos exilados dominicanos pediram ajuda ao governo revolucionário cubano, mas as tentativas falharam. Se deu início a vários planos para matar Trujillo, mas estes também acabaram fracassando. No entanto, conforme os anos passaram Trujillo perdeu o suporte incondicional dos americanos e da Igreja Católica de seu país. Um dos casos mais infames foi o brutal assassinato das chamadas "irmãs Mirabal", que chefiavam uma organização clandestina que visava derrubar Rafael Trujillo do poder. A morte delas traria ao ditador condenação internacional e pedidos cada vez mais incessantes por sua renúncia, o que ele veementemente recusava.[17]

Existem documentos que provam que a CIA fez contato com alguns dos conspiradores oponentes de Trujillo e secretamente os mantinha com armas em troca de apoio americano a um futuro regime uma vez que o ditador estivesse morto.[18]

Em 30 de maio de 1961, Rafael Trujillo morreu assassinado a tiros em uma estrada deserta, próximo à capital São Domingos, encerrando trinta e um anos de sua ditadura.[19] No entanto, o filho do presidente, Ramfis Trujillo, assumiu o comando do país. Nos meses seguintes, quase todos os assassinos e seus familiares foram torturados e vários se suicidaram. Em outubro, os seis últimos assassinos de Trujillo foram levados para uma fazenda da família e jogados aos tubarões em uma praia próxima. Frente a uma forte pressão internacional e a ameaça de um levante entre a população e, possivelmente, entre os militares, Ramfis Trujillo renunciou a liderança e foi forçado ao exílio.[20]

O legado de Rafael Trujillo legado dentro da República Dominicana é, até os dias atuais, controverso. Muitos o louvam por ter trazido o país a uma era de estabilidade e certa prosperidade, sem paralelo com a história recente do país. Trujillo reorganizou o Estado e a economia, deixando uma boa infraestrutura interna. Contudo, os seus críticos dizem que esta "prosperidade" veio com um preço alto. Cerca de 50 mil pessoas morreram na repressão de seu governo, não havia liberdades civis e boa parte das riquezas da nação iam parar nas mãos do próprio Trujillo ou de seus parentes e associados.[21]

Referências

  1. «'I shot the cruellest dictator in the Americas'» (em inglês). BBC News. 27 de maio de 2011. Consultado em 29 de maio de 2011 
  2. Diederich 1978, p. 13.
  3. The Oxford Encyclopedia of Latinos and Latinas in the United States. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780195156003 
  4. (de Galindez 1962, p. 15)
  5. Eric Paul Roorda (1996). «Genocide next door: the Good Neighbor policy, the Trujillo regime, and the Haitian massacre of 1937». Diplomatic History. 20 (3): 301–319. doi:10.1111/j.1467-7709.1996.tb00269.x 
  6. Capdevilla 1998, p. 10.
  7. Crassweller 1966, p. 156.
  8. Diederich, Bernard (1978). Trujillo, The Death of the Goat. [S.l.]: Little, Brown, and Co. ISBN 978-0-316-18440-3 
  9. «Golpe de Estado a Horacio». El Nacional 
  10. de Galindez, Jésus (1962) [1956]. L'Ère de Trujillo. Paris: Gallimard 
  11. a b Block 1941, p. 870–872.
  12. a b Capdevilla, Lauro (1998). La dictature de Trujillo, République dominicaine, 1930–1961. Paris, Montreal: L'Harmattan 
  13. Capdevilla 1998, p. 71.
  14. Sánchez Barría, Felipe (2012). "Reseña de La seducción del dictador: Política e imaginación popular en la era de Trujillo". Revista de Historia Iberoamericana 5: 131-132. ISSN 1989-2616. Acessado em 24 de maio de 2013.
  15. Crassweller 1966, p. 199–200.
  16. Block 1941, p. 672.
  17. Rohter, Larry (15 de fevereiro de 1997). «The Three Sisters, Avenged: A Dominican Drama». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 29 de abril de 2020 
  18. Crassweller 1966, p. 115.
  19. «Rafael Trujillo y Molina». Find A Grave. 2009. Consultado em 19 de maio de 2009 
  20. Castellanos, Eddy. «Solitaria, en cementerio poco importante, está la tumba de Trujillo» (em espanhol). Almomento.net. Consultado em 14 de novembro de 2011. Cópia arquivada em 14 de novembro de 2011 
  21. «Protest aborts Dominican tyrant's daughter's book debut». Dominican Today. 26 de fevereiro de 2010. Consultado em 11 de março de 2018. Cópia arquivada em 8 de dezembro de 2012 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Block, Maxine (1941). Current Biography Who's News and Why. [S.l.]: The H. W. Wilson Company. ISBN 9997376676 
  • Capdevilla, Lauro (1998). La dictature de Trujillo, République dominicaine, 1930–1961. [S.l.]: L'Harmattan. ISBN 9782296368415 
  • Crassweller, Robert D. (1966). The Life and Times of a Caribbean Dictator. [S.l.]: The Macmillan Company 
  • Diamond, Jared (2005). Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed. [S.l.]: Penguin. ISBN 0-14-303655-6 
  • Diederich, Bernard (1978). Trujillo, The Death of the Goat. [S.l.]: Little, Brown, and Co. ISBN 0-316-18440-3 
  • de Galindez, Jésus (1962). L'Ère de Trujillo. [S.l.]: Gallimard. ISBN 9782070226276 
  • Robert, Pack; Parini, Jay (1997). Introspections. [S.l.]: University Press of New England. ISBN 0-87451-773-7 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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