Rio Congo – Wikipédia, a enciclopédia livre

Congo (Lualaba, Zaire) [nota 1][1]

Rio Congo ou Zaire

Localização
Continente
País
Localização
Altitude
32 m
Coordenadas
Dimensões
Comprimento
4 700 km
Posição: 7
Hidrografia
Tipo
Bacia hidrográfica
Área da bacia
4 014 500[1] km²
País(es) da
bacia hidrográfica
Nascente
Montanhas do Vale do Rifte
Delta
Delta do Congo
Afluente
principal
Caudal médio
41 800 m³/s
Caudal máximo
67 000[1] m³/s
Débito mínimo
22 000[1] m³/s
Foz
Oceano Atlântico

Rio Congo, também conhecido como Rio Zaire,[1] é o segundo maior rio da África (após o rio Nilo) e o sétimo do mundo, com uma extensão total de 4 700 km.[1] É o primeiro da África e o segundo do mundo em volume de água,[2] chegando a debitar algo com um caudal de 67 000 m³/s de água no oceano Atlântico.[1]

História do Congo

[editar | editar código fonte]

O rio Congo ter-se-á formado há cerca 1,5 a 2 milhões de anos, durante o Pleistoceno.[3]

O primeiro europeu a chegar ao rio foi o navegador português Diogo Cão em 1483, que inclusive deu inicialmente seu nome ao Estuário do Congo. O rio recebe o seu nome do antigo Reino do Congo que se localizava nas terras em redor da sua foz.

Biodiversidade

[editar | editar código fonte]
Imagem de satélite do lago Malebo, uma formação natural do rio Congo próxima da aglomeração metropolitana transfronteiriça de Quinxassa-Brazavile.

A formação do Congo pode ter levado à especiação alopátrica do bonobo e do chimpanzé.[4] O bonobo é endêmico para as florestas úmidas da região, assim como outras espécies emblemáticas como o macaco, o Ocapi e o pavão-congolês.[5][6]

Em termos de vida aquática, a bacia do rio Congo tem uma grande riqueza de espécies, e é onde estão as mais altas concentrações endêmicas conhecidas.[7] Até hoje, quase 700 espécies de peixes foram registrados na Bacia do Congo, e grandes partes permanecem praticamente intocáveis.[8] Devido a esta e as grandes diferenças ecológicas entre as regiões da bacia, é muitas vezes dividida em várias ecorregiões (em vez ser uma única ecorregião). Entre essas ecorregiões está a das Cataratas-Baixo Congo, que sozinha tem mais de 300 espécies de peixes, incluindo cerca de 80 espécies endêmicas,[9] enquanto a parte sudoeste (Sub-Bacia do Cassai) sozinha tem cerca de 200 espécies de peixes, dos quais cerca de um quarto são endêmicas. [10] As famílias de peixes dominantes em algumas partes do rio são: Cyprinidae (carpa/ciprinídeos, como Labeo simpsoni), Mormyridae (peixes-elefante), Alestidae (peixe-tigre-africano), Mochokidae (peixe-gato) e Cichlidae (ciclídeos).[11] Entre as espécies nativas do rio estão o peixe-tigre-golias.[9][12] Há também inúmeros sapos endêmicos e caracóis.[11][13]

Diversas espécies de tartarugas, crocodilo-de-focinho-delgado, crocodilo-do-nilo e o crocodilo-anão são espécies nativas da bacia do rio Congo.

Já o estuário do Congo, em conjunto com o delta do Congo (um delta interior pouco antes da foz), forma um emaranhado de canais, ilhas, ilhotas, mangues e bancos de sedimentos, locais de reprodução de aves, crustáceos e peixes, servindo como importante fonte de renda e alimentação para as populações que vivem em suas margens.[14]

Quinxassa (capital da República Democrática do Congo) visto de Brazavile (capital da República do Congo), as duas capitais separadas pelo rio.

A principal extensão do rio atravessa a República Democrática do Congo como um "U" invertido e, perto da sua foz, estabelece a fronteira com Angola.[1]

Origina-se na realidade (curso mais extenso) no norte da Zâmbia (rio Chambeshi), desaguando no Lago Bangweulu, seguindo para o norte com o nome de Luapula desagua no Lago Moero e deste segue com o nome de Luvua até se encontrar com o rio Lualaba já no sul do território quinxassa-congolês, este por sua vez é considerado o curso formal, onde o volume de água já é bastante significativo, onde origina-se nas montanhas ao sul da região de Catanga. Quando o Lualaba encontra-se com o rio Lindi, recebe definitivamente o nome de rio Congo. No médio Lualaba, recebe as águas do Lago Tanganica, guiadas pelo seu escape (rio Lukuga). Os seus principais afluentes são: o rio Ubangui, pela margem direita, e o rio Cassai, pela margem esquerda. O seu regime depende das chuvas equatoriais e quase toda a sua bacia é coberta por impenetráveis florestas equatoriais.[1] É o único rio da Terra que atravessa duas vezes a linha do Equador.[2]

É o 2º rio do mundo em caudal (apenas ultrapassado pelo rio Amazonas), e é também o 2º em área da bacia hidrográfica (novamente a seguir ao Amazonas e apenas ligeiramente acima da do rio Mississippi).[2] É também o rio mais profundo do mundo, com 230 metros de profundidade no baixo Congo.

Banha duas capitais nacionais: Brazavile, na República do Congo e Quinxassa, na República Democrática do Congo.

Devido à constância do seu enorme caudal, é navegável por barcos de grande tonelagem até Matadi, na República Democrática do Congo.[15] No médio Congo, formam-se dois conjuntos de cataratas: as quedas de Livingstone e as ainda mais formidáveis quedas de Inga.[16] As referidas cataratas impedem a livre navegação até o lago Malebo (na conurbação transfronteiriça de Quinxassa-Brazavile), com o rio voltando a ser navegável até Quissangane, na confluência com o Lindi, quando surgem as quedas de Boiama.

Importância econômica do Congo

[editar | editar código fonte]
O início das Cataratas de Livingstone.

Embora as Cataratas de Livingstone impeçam o acesso da porção mais densamente povoada do rio ao mar, quase todo o Congo é facilmente navegável, especialmente entre Quinxassa e Quissangane. O rio Congo ainda é um local com grande fluxo de comércio, já que o país tem poucas estradas e ferrovias.[17]

Além disso, o estuário do Congo é uma área geopolítica sensível, pois é riquíssima em hidrocarbonetos, graças a imensa deposição de sedimentos do Congo.[18]

Poder energético

[editar | editar código fonte]

O rio Congo é o rio com o maior poder energético da África. Durante a estação chuvosa o fluxo do rio é de 50 mil metros cúbicos (1 800 000 pés cúbicos) de água por segundo que desaguam no Oceano Atlântico. Cientistas calcularam que a Bacia do Congo é responsável por 13% do potencial hidrelétrico mundial, o que seria suficiente para fornecer energia para toda a África subsariana.[19] Atualmente existem cerca de 40 usinas hidrelétricas na Bacia do Congo. A maior hidroelétrica será o Complexo Hidroelétrico de Inga (composto por 7 centrais hidroelétricas), baseadas nas Cataratas de Inga, a cerca de 200 km a sudoeste de Quinxassa.[19]

Em fevereiro de 2005, a Eskom (uma empresa estatal da África do Sul), anunciou uma proposta de parceria com a Sociedade Nacional de Eletricidade para aumentar a capacidade das duas centrais hidrelétricas de Inga que já estão em operação, além da construção de uma nova barragem. O projeto daria ao país 40 GW de potência instalada, o dobro da Hidrelétrica de Três Gargantas, na China.[20] Teme-se que estas novas barragens hidrelétricas possam levar à extinção de muitas das espécies de peixes endêmicos do rio.[9]

Notas

  1. No trajecto inicial, o nome é Lualaba, no trajecto principal Congo, no trajecto final Zaire.

Referências

  1. a b c d e f g h i j «The inland waters of Africa the Congo/Zaire System». FAO. Consultado em 19 de dezembro de 2019 
  2. a b c «The Congo River». Mongabay.com. Consultado em 19 de dezembro de 2010 
  3. Leonard C. Beadle (1981). The inland waters of tropical Africa: an introduction to tropical limnology. [S.l.]: Longman. p. 475. ISBN 9780582463417. Consultado em 2 de abril de 2011 
  4. Caswell JL, Mallick S, Richter DJ; et al. (2008). «Analysis of chimpanzee history based on genome sequence alignments». PLoS Genet. 4 (4): e1000057. PMC 2278377Acessível livremente. PMID 18421364. doi:10.1371/journal.pgen.1000057 
  5. Kingdon, J. (1997). The Kingdon Guide to African Mammals. Academic Press Limited, London. ISBN 0-12-408355-2.
  6. BirdLife International (2008)."Afropavo congensis". Lista Vermelha da IUCN.
  7. Dickman, Kyle (3 de novembro de 2009). «Evolution in the Deepest River in the World». Science & Nature. Smithsonian Magazine 
  8. Freshwater Ecoregions of the World (2008). Sudanic Congo – Oubangi. Arquivado em 5 de outubro de 2011, no Wayback Machine. Accessed 2 May 2011.
  9. a b c Norlander, Britt (April 20, 2009). Rough waters: one of the world's most turbulent rivers is home to a wide array of fish species. Now, large dams are threatening their future. Science World
  10. Freshwater Ecoregions of the World (2008). Kasai. Arquivado em 5 de outubro de 2011, no Wayback Machine. Accessed 2 May 2011.
  11. a b Freshwater Ecoregions of the World (2008). Upper Lualaba. Arquivado em 5 de outubro de 2011, no Wayback Machine. Accessed 2 May 2011.
  12. Kullander, S.O. (1998). A phylogeny and classification of the South American Cichlidae (Teleostei: Perciformes). pp. 461–498 in Malabarba, L., et al. (eds.), Phylogeny and Classification of Neotropical Fishes, Porto Alegre.
  13. Freshwater Ecoregions of the World (2008). Lower Congo Rapids. Arquivado em 5 de outubro de 2011, no Wayback Machine. Accessed 2 May 2011.
  14. ERM. Projecto Angola LNG, Relatório para Divulgação do ESHIA, Sumário Executivo. 2006.
  15. Jürgen Runge (2007). The Congo River, Central Africa in: Avijit Gupta (org.) Large Rivers: Geomorphology and Management. Chichester/West Sussex: Wiley. p. 309. 2063 páginas. ISBN 978-0-470-84987-3 
  16. «Inga Falls». World Waterfalls Database. 15 de outubro de 2006. Cópia arquivada em 12 de novembro de 2010 
  17. See, for instance, Thierry Michel's film Congo River
  18. O'Callaghan, Sheila. A história do petróleo em Angola. in: O Grupo Sonangol - Escritório da Sonangol em Londres. Londres: Impact Media, [s/d].
  19. a b Alain Nubourgh, Belgian Technical Cooperation (BTC) Arquivado em 2 de setembro de 2011, no Wayback Machine.. Weetlogs.scilogs.be (2010-04-27). Retrieved on 2011-11-29.
  20. Vasagar, Jeevan (25 de fevereiro de 2005). «Could a $50bn plan to tame this mighty river bring electricity to all of Africa?». World news. London: The Guardian. Consultado em 30 de abril de 2010 
  • François Neyt (2010). Fleuve Congo. Bruxelas: Mercator