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Ruão

Rouen

  Comuna francesa França  
Vista de Ruão
Vista de Ruão
Vista de Ruão
Símbolos
Brasão de armas de Ruão
Brasão de armas
Gentílico Rouennais
Localização
Ruão está localizado em: França
Ruão
Localização de Ruão na França
Coordenadas 49° 26' 38" N 1° 06' 12" E
País  França
Região Normandia
Departamento Sena Marítimo
Administração
Prefeito Yvon Robert; (2020-2026)
Características geográficas
Área total 21,38 km²
População total (2018) [1] 112 965 hab.
Densidade 5 283,7 hab./km²
Altitude máxima 152 m
Altitude mínima 2 m
Código Postal 76000, 76100
Código INSEE 76540
Sítio www.rouen.fr

Ruão[2] (em francês e em normando: Rouen) é uma cidade localizada na região histórica da Normandia, no noroeste da França. Uma das mais prósperas cidades do norte europeu na Idade Média, Ruão é, hoje, a capital da região francesa da Normandia e do departamento do Sena Marítimo. Segundo o censo demográfico francês de 2014, possui uma população de 110 618 habitantes, sendo atualmente a 36° cidade mais populosa da França.

Foi fundada no século I, na época do imperador Augusto, como Rotômago (em latim: Rotomagus). Nos séculos posteriores se desenvolveu, assim como sofreu mudanças com a chegada dos povos bávaros e do cristianismo. Mais tarde, no século IX, foi invadida pelos viquingues de Rollo, e a região de Ruão passou a se chamar Normandia a partir de 911, com o Tratado de Saint-Clair-sur-Epte. Posteriormente, como capital da Normandia, foi anexada ao reino da França e tornou-se uma cidade importante na Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra. Durante o período renascentista floresceu e prosperou economicamente e artisticamente; sua arquitetura foi influenciada pelo gótico. Durante a industrialização foi urbanizada e passou a ter um trem local. Após a ocupação da França pela Alemanha nazista em 1940, mais de 2 mil pessoas morreram nos bombardeiros.

É uma cidade turística com importantes atrações turísticas locais, como o Museu Marítimo, Fluvial e Portuário de Ruão, fundado em 1999 com mais de 2 mil obras expostas, e o edifício gótico da Catedral de Ruão, que recebeu Filipe II de França em 1204, após a anexação da Normandia ao reino da França.

Geografia e população[editar | editar código-fonte]

A cidade foi estabelecida na margem direita do rio Sena e, posteriormente, expandiu-se para a margem esquerda. Ruão tem atualmente cerca de 111 000 habitantes.[3] Em 2006, tinha 523 236 habitantes na região metropolitana.[4]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O local é evidenciado nas formas Ratumacos (casa da moeda dos Veliocasses), Ρατό-μαγος (Ratomagos, Ptolomeu), Ratomagos (Rota de Antonino, Peutinger), Rotomagus (Amiano Marcelino, Notitia dignitatum),[5] in Rodomo em 779, Rodomo, Rodom, Rothom na Idade Média, Ruëm em 1130, Roüan sob o Antigo Regime, etc.

François de Beaurepaire nota uma alternância das formas em Rato- e em Roto-. O elemento Roto- se encontra na Normandia em Le Vaudreuil (Eure, anteriormente Rotoialum, Rothoialensis villa 584; com gaulês *ialon "local limpo, clareira" cf. galês tir ial[6]). Quanto a Rato-, é observado em Reviers (Calvados, Radaverum 1077, com gaulês var- / ver- "água, rio"[7]).

Xavier Delamarre[8] considera implicitamente Rato- neste caso, como uma variante de Roto-, acrescentando sobre Ratumacos inscrito nas moedas dos Veliocasses : "Mas esta é talvez uma outra palavra." O significado de *roto- é restituído de acordo com o irlandês antigo roth "corrida" e o galês rhod "corrida, roda, objeto redondo" (cf. latim rota "roda", alemão Rad "roda"), a partir do Indo-Europeu *ret(h) "correr, andar na carruagem",[9] de daí a importância deduzida em gaulês de "roda" ou "corrida de carruagens". A interpretação do segundo elemento é mais assegurado: ele vem do gaulês *magos "campo" , depois "mercado" cf. irlandês antigo mag "plano, campo", bretão antigo ma "local, localização".[10] O sentido geral de *Rotomagos seria então o de "mercado da roda", ou ainda de "pista de corrida" em termos da paixão sentida pelos Celtas pelas corridas de bigas.[9]

Em francês, a cidade é chamada de Rouen, tendo o nome sido traduzido para português como Ruão.[11][12][13][14][15][16][17]

História[editar | editar código-fonte]

Ruão foi fundada na época do imperador Augusto (r. 27 a.C.-14 d.C.), no século I, com o nome de Rotômago (em latim: Rotomagus). Foi no século III que a cidade romana alcançou seu período de maior desenvolvimento, sabendo-se da existência de um anfiteatro e termas. Nos séculos seguintes, a cidade sofreu com as invasões dos povos bárbaros e presenciou a chegada definitiva do cristianismo.[18]

No século IX, a cidade foi invadida pelos viquingues (normandos), e Ruão, junto com a região circundante (a partir de então, chamada Normandia), foi cedida aos conquistadores escandinavos no Tratado de Saint-Clair-sur-Epte (911). O chefe viquingue Rollo tornou-se, assim, o primeiro duque da Normandia. Um dos duques, Guilherme, o Conquistador, conquistou a Inglaterra em 1066 e ligou Ruão às possessões normandas nas Ilhas Britânicas.[19]

Vista de Ruão e do Sena no século XVI (Georg Braun; Frans Hogenberg: Civitates Orbis Terrarum, 1572)

O ducado normando terminou em 1204, quando Filipe II invadiu Ruão e anexou a Normandia ao reino da França. A cidade continuou sendo um importante centro comercial, chegando a ser a segunda cidade do reino. A partir de meados do século XII é construída a Catedral de Ruão, em estilo gótico, terminada em grande parte em 1250.[20] A Guerra dos cem anos com a Inglaterra, além da peste negra, foram fonte de muitos problemas para a cidade no fim da Idade Média.[19] Uma revolta popular ocorrida em 1382 foi duramente esmagada pelas forças reais. A cidade perdeu seus privilégios comerciais no comércio do Sena, o que favoreceu Paris. No contexto da guerra, e após a Batalha de Azincourt (1415), os ingleses cercaram e tomaram Ruão em 1419. É na cidade controlada pelos ingleses que foi aprisionada e executada Joana d'Arc, em 30 de maio de 1431.

Na Renascença, a cidade viveu um grande desenvolvimento econômico graças à pesca, os tecidos de lã e a tapeçaria, além de outros produtos como o sal, que os navegadores de Ruão traziam de lugares como Setúbal, em Portugal. Na busca de pigmentos para os tecidos, os comerciantes da cidade interessaram-se pelo pau-brasil, fonte de um pigmento vermelho, o que fez de Ruão o principal porto de entrada desta madeira na Europa no século XVI. No campo artístico, floresceu uma arquitetura renascentista com muitos elementos góticos, como no Hotel de Bourgtheroulde e no Palácio de Justiça, ambos construídos entre fins do século XV e inícios do seguinte. No século XVI, seguiram os trabalhos na catedral medieval da cidade, cujo portal central foi completado entre 1509 e 1521.[21] Na obra da catedral, trabalhou o escultor João de Ruão, que, mais tarde, instalou-se em Coimbra e tornando-se um dos escultores mais importantes do Renascimento Português.[22]

Johannes Bosboom: "Vista de Ruão" (1839)

O século XVII é de relativa estagnação para a cidade, que, porém, continua a ser parte importante na economia francesa, participando ainda na colonização da Nova França, no Quebeque. No século XVIII, Ruão é parte ativa no comércio triangular entre África, onde eram adquiridos escravos, e as colônias francesas das Antilhas, onde os escravos eram trocados por açúcar.[21] Além disso, a cidade é um centro industrial de têxteis, como o trabalho com algodão transformando-se na base da economia.

Igreja de Saint-Maclou

A Revolução Francesa é relativamente moderada em Ruão. Os bens do clero são nacionalizados e a catedral gótica é transformada em um templo dedicado à razão. A pobreza é enorme: num censo de fins do século XVIII, há 50 000 indigentes numa população total de 80 000 habitantes.[3]

A industrialização chega no século XIX na forma de fábricas de tecidos instaladas ao redor de Ruão, nos vales dos rios Cailly e Robec, assim como na margem esquerda do Sena. O trem passa a ligar a cidade a Paris em 1843. O urbanismo da cidade é modernizado com a criação de novas ruas e praças, e são construídas gares, teatros e museus. A vida cultural é muito ativa, com nomes como o escritor Gustave Flaubert (nascido em Ruão em 1821) e o poeta Guy de Maupassant, que estudou na cidade. Também é famosa a obra dos pintores impressionistas na cidade, especialmente a série de obras de Claude Monet retratando a Catedral de Ruão.[3][23]

Em 1940, a cidade foi invadida por tropas alemãs. Durante o domínio nazista, que durou quatro anos, a cidade foi destruída em bombardeios que mataram aproximadamente 2 000 pessoas. Ruão foi liberada em 1944 por tropas canadenses. Seguiu-se um longo período de reconstrução.[3] Na segunda metade do século XX, o crescimento demográfico da cidade fez com que novos bairros fossem construídos. O centro histórico foi revalorizado e várias ruas foram transformadas em zonas sem carros.[3]

Geminação[editar | editar código-fonte]

Atrações culturais[editar | editar código-fonte]

Monumentos[editar | editar código-fonte]

Ruão é famosa pelos seus vários monumentos.[29][30] Particularmente importantes são os edifícios góticos da cidade, como a Catedral de Ruão, começada em 1145 e terminada apenas no século XVI,[20] a Igreja abacial de Saint-Ouen, começada em 1380, e a pequena Igreja de Saint-Maclou, construída entre 1437 e 1517 em estilo gótico flamejante. Destacam-se ainda a Place du Vieux Marché, praça onde a heroína Joana d'Arc foi queimada viva em 1431, e o Palácio de Justiça, construído a partir de 1499 e considerado um dos melhores exemplos de arquitetura civil gótica do final da Idade Média na França.

Entrada do Hôtel de Bourgtheroulde

Do início do século XVI datam o Gabinete das Finanças (começado em 1509) e o Hotel de Bourgtheroulde, este último um magnífico palácio urbano construído para a família Le Roux em uma mistura entre os estilos gótico e renascentista. Também no século XVI foi construído um dos cartões-postais da cidade: o Grande-Relógio (Gros-Horloge) instalado num arco sobre uma rua. No interior da estrutura renascentista funciona um museu.[31]

Museus[editar | editar código-fonte]

Infraestrutura[editar | editar código-fonte]

Trem do Metrô de Ruão na saída da estação Théâtre des Arts

Transportes[editar | editar código-fonte]

Transportes Públicos[editar | editar código-fonte]

Transportes ferroviários[editar | editar código-fonte]

Ruão possui uma estação principal, a Gare de Rouen Rive Droite, com uma frequência de cerca de 7 milhões de passageiros em 2015. Esta estação está conectada à rede TGV e Intercités Normandie às redes e TER da Normandie (ex TER Haute-Normandie e Basse-Normandie), Nord -Pas-de-Calais e Picardie. Ela oferece acesso direto ao tramway. É o assunto de trabalhos de modernização (acessibilidade, comércios, etc., fim da construção até junho de 2017).

Ruão tinha, antes Segunda Guerra Mundial, outras três estações: Rouen-Orléans, Rouen-Martainville e Saint-Sever. Esta última deverá ser reconvertida em estação para aliviar a Gare de Rouen Rive Droite que não pode ser ampliada. O início do serviço está previsto até 2030 na melhor das hipóteses.

Transportes aéreos[editar | editar código-fonte]

Ruão é servida pelo Aeroporto de Ruão localizado em Boos quilômetro a leste. O aeroporto acolhe cerca de 50 000 passageiros anuais, sendo 25 000 de ida e outros de volta. Uma linha de ônibus liga o aeroporto à aglomeração. Havia uma linha regular, mas foi fechada em novembro de 2009. O aeroporto conhece grandes dificuldades financeiras ainda em 2016, mas continua em serviço.

Transportes rodoviários[editar | editar código-fonte]

Ruão está na convergência de eixos viários, incluindo a autoroute A13 Paris-Caen, a autoroute A28 Abbeville-Tours e a autoroute A150 Ruão-Yvetot.

Educação[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Populations légales 2018. Recensement de la population Régions, départements, arrondissements, cantons et communes». www.insee.fr (em francês). INSEE. 28 de dezembro de 2020. Consultado em 13 de abril de 2021 
  2. «Ruão | Infopédia» 
  3. a b c d e Jean Braunstein. Histoire de Rouen: Du 18ème à aujourd'hui no sítio do Office de Tourisme de Rouen (em francês)
  4. INSEE, statistiques locales de l'aire urbaine de Rouen (em francês)
  5. A. et J. PICARD Les Noms des communes et des anciennes paroisses de la Seine-Maritime. François de Beaurepaire, Marianne Mulon. Paris. 1979. p. 180. ISBN=2-7084-0040-1. Obra publicada com o apoio do CNRS. p. 130
  6. Xavier Delamarre, Dictionnaire de la langue gauloise, Paris, éditions Errance, 2003, p. 185.
  7. Xavier Delamarre, Dictionnaire de la langue gauloise, Paris, éditions Errance, 2003, p. 300.
  8. Dictionnaire de la langue gauloise, Paris, éditions Errance, 2003, p. 261 - 262.
  9. a b Xavier Delamarre, Dictionnaire de la langue gauloise, Paris, éditions Errance, 2003
  10. Xavier Delamarre, Dictionnaire de la langue gauloise, Paris, éditions Errance, 2003, p. 213.
  11. Na Folha de S. Paulo: «"Em Ruão, a heroína e santa nacional Joana D'Arc foi queimada viva"» ; "«Além de Paris, o Sena corta Ruão, quase na desembocadura no canal da Mancha» "; "«As muitas versões que a catedral de Ruão era capaz de assumir nas telas de Monet comprovavam uma verdade científica - a de que a luz tem cor» "
  12. «O Globo (Rio de Janeiro): "Os ossos estavam numa curva do Rio Sena, perto de Ruão, na região da Normandia, na França."» 
  13. "Atrás da catedral de Ruão" é o título de um famoso conto do escritor brasileiro Mário de Andrade, cuja história se passa na cidade francesa de Ruão
  14. «Dicionário Michaelis (Brasil)» 
  15. Dicionário Aurélio (Brasil): "ruão: tecido de linho que se fabricava em Ruão (França)."
  16. «Lei n. 1.892/1953 (Brasil), que autorizou transferência de restos mortais de Ruão, França, para o Brasil» 
  17. ARDAGH, A. e JONES, C. Grandes impérios e civilizações: França, uma civilização essencial. Volume 1. Madri. Edições Del Prado. 1997. p. 14-15.
  18. Jean Braunstein. Histoire de Rouen: L'Antiquité no sítio do Office de Tourisme de Rouen (em francês)
  19. a b Jean Braunstein. Histoire de Rouen: Le Moyen-Ageno sítio do Office de Tourisme de Rouen (em francês)
  20. a b La Cathedrale de Rouen expliquée aux visiteurs (cathedrale-rouen.net) no sítio da Paróquia de Nossa Senhora de Ruão (em francês)
  21. a b Jean Braunstein. Histoire de Rouen: Du 16ème au 18ème siècle no sítio do Office de Tourisme de Rouen (em francês)
  22. Renée Plouin. Jean de Rouen (actif de 1510 à 1572) na Encyclopædia Universalis France (em francês)
  23. Pays de l'impressionnisme: Monet et la campagne des cathédrales no sítio do Office de Tourisme de Rouen (em francês)
  24. «Cópia arquivada». Consultado em 4 de abril de 2017. Arquivado do original em 18 de maio de 2015 
  25. «Cópia arquivada». Consultado em 4 de abril de 2017. Arquivado do original em 11 de março de 2016 
  26. «Cópia arquivada». Consultado em 4 de abril de 2017. Arquivado do original em 7 de março de 2016 
  27. «Cópia arquivada». Consultado em 4 de abril de 2017. Arquivado do original em 6 de março de 2016 
  28. [1]
  29. Monumentos da cidade no sítio da Municipalidade de Ruão (em francês)
  30. Monumentos da cidade no sítio do Office de Tourisme de Rouen (em francês)
  31. Gros-Horloge no sítio da Municipalidade de Ruão (em francês)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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