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 Nota: Este artigo é sobre Segunda Internacional (1889-1916). Para Internacional Socialista (1951), veja Internacional Socialista.
Segunda Internacional
Fundador Friedrich Engels
Fundação 14 de julho de 1889
Dissolução 1916
Ideologia Socialismo
Comunismo
Marxismo
Antecessor Associação Internacional dos Trabalhadores
(antecessor não legítimo)
Sucessor Internacional Operária e Socialista
União de Partidos Socialistas para a Ação Internacional
Comintern

A Segunda Internacional (1889-1916) ou Internacional Socialista ou ainda Internacional Operária foi uma organização dos partidos socialistas e operários criada principalmente por iniciativa de Friedrich Engels, por ocasião do Congresso Internacional de Paris, em 14 de julho de 1889. Do congresso participaram delegações de vinte países.[1]

Embora sem a participação do ainda poderoso movimento anarco-sindicalista e dos sindicatos, a Segunda Internacional representou a continuidade do trabalho da extinta Primeira Internacional, dissolvida nos anos 1870, e existiu até 1916.

No período que se seguiu ao colapso da Primeira Internacional, os movimentos trabalhista e socialista cresceram de maneira praticamente independente em cada país, mantendo apenas uma tênue ligação. Entre 1876 e 1889 não houve qualquer vínculo estável. Eventualmente havia conferências internacionais de trabalhadores, convocadas ad hoc por diferentes entidades: 1876, em Berna; 1877, em Ghent; 1881, em Chur; 1883 e 1886, em Paris; 1888, em Londres.

Em 1889 houve um avanço, quando o Congresso Internacional de Paris decidiu promover a realização de congressos internacionais periodicamente. O Congresso de Paris de fato consistiu de duas conferências, convocadas separadamente — uma sendo marxista e a outra possibilista ou moderada. Alguns anarquistas que estiveram presentes ao congresso, defenderam a concentração da luta dos trabalhadores essencialmente no terreno econômico, rejeitando a divisão política, mas eles foram excluídos do congresso, em razão das claras divergências táticas.

Posteriormente foram realizados congressos unificados em Bruxelas (1891), em Zurique (1893) e em Londres (1896). De todo modo, em geral, o ano de 1889 é considerado como o ponto de partida da Segunda ou "Nova Internacional", embora somente em 1900, durante o Congresso de Paris daquele ano, tenha sido adotada uma constituição definitiva para a Nova Internacional. Foi então criado o Bureau Socialista Internacional, integrado por representantes de cada seção nacional filiada, com um executivo, um secretário remunerado e um escritório central. Os membros do Bureau se reuniam pelo menos uma vez por ano. O escritório central foi instalado em Bruxelas. O presidente, o secretário e o executivo, encarregados das atividades permanentes da Internacional, eram membros da seção belga. Émile Vandervelde e Camille Huysmans do Partido Trabalhista Belga foram o seu presidente e secretário, respectivamente. Vladimir Ilyich Lenin foi membro desde 1905.

Entre as ações da Segunda Internacional incluem-se a declaração, em 1889, do 1.º de maio como Dia Internacional dos Trabalhadores e, em 1910, a declaração do 8 de março como Dia Internacional da Mulher. Além disso, a Segunda Internacional iniciou a campanha internacional pela jornada de trabalho de oito horas.[2]

Baseada, tal como a Primeira Internacional, no conceito de luta de classes, a Segunda Internacional orientou-se, até o início do século XX, pelo marxismo. Mas algumas correntes se desenvolvem à direita da Internacional, pregando o abandono do princípio segundo o qual "a emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores" — um princípio revolucionário da Primeira Internacional — e recomendando privilegiar o parlamentarismo e o reformismo. Mas em 1904, o congresso segue a posição do revolucionário Jules Guesde contra o reformista Jean Jaurès, escolha oposta ao resultado das eleições, que deram 31 deputados a Jaurès e 12 a Guesde.

Socialistas e comunistas[editar | editar código-fonte]

O assassinato de Jean Jaurès, líder da Seção Francesa da Internacional Operária (SFIO), poucos dias antes do início da guerra, simbolizou o fracasso da doutrina antimilitarista da Segunda Internacional.

Após a irrupção da I Guerra Mundial, os líderes socialistas (com exceção dos russos e do sérvios), votaram a favor dos créditos militares pedidos pelos respectivos governos. Os militantes fiéis ao internacionalismo e ao pacifismo denunciaram o que consideraram uma traição por parte da maioria e militaram contra a guerra, o que provocou a sua exclusão da Segunda Internacional. Esse foi o caso, por exemplo,de de Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht, na Alemanha. Alguns desses militantes hostis à guerra seriam mais tarde chamados "comunistas", por oposição a seus ex-companheiros socialistas. Outros oponentes da guerra formariam a ala esquerda dos partidos socialistas (socialistas revolucionários).

Durante o conflito, duas conferências — a de Zimmerwald, em 1915, e sobretudo a de Kiental, em 1916, ambas na Suíça — reuniram os militantes da esquerda da Internacional que às vezes eram excluídos, para se opor à guerra e aos dirigentes socialistas que a apoiaram. Na Conferência de Zimmerwald, os socialistas contrários à guerra tentaram manter a unidade internacional contra o social-patriotismo dos dirigentes social-democratas.

A Segunda Internacional foi afinal dissolvida em 1916, dado que os vários partidos nacionais que a compunham não se mantiveram como uma frente unida contra a guerra, em geral apoiando as posições dos governos dos respectivos países.

A partir de então, a Internacional se manteve apenas formalmente na Suíça (neutra durante a guerra), como a Internacional de Berna.

Em 1920, a Segunda Internacional foi refundada. No entanto, alguns partidos socialistas europeus se recusaram a aderir a essa Internacional ressuscitada e fortemente influenciados pelo austromarxismo. Decidiram, então, formar a União de Partidos Socialistas para a Ação Internacional (UPSAI), que ficou conhecida como "Segunda Internacional e meia", "Internacional dois e meio" ou, ainda, "União de Viena". Em 1923, a UPSAI e a Segunda Internacional se fundiram para formar a Internacional Operária e Socialista, de corte social-democrata, que existiu até 1940. Após a Segunda Guerra Mundial, foi constituída uma nova Internacional Socialista, que manteve a linha política da Internacional Operária e Socialista e existe até hoje.

A exclusão dos anarquistas[editar | editar código-fonte]

Os anarquistas tenderam a ser excluídos da Segunda Internacional. Entretanto, "o anarquismo, de fato, dominou de fato o Congresso de Londres da Segunda Internacional".[3] Tal exclusão recebeu críticas socialistas não autoritários presentes às reuniões.[4]

Foi dito que, em algum momento, a Segunda Internacional se tornara "um campo de batalha sobre a questão do socialismo libertário versus socialismo autoritário." Os socialistas libertários "não só se apresentaram efetivamente como defensores dos direitos das minorias mas também provocaram os marxistas alemães, fazendo-os mostrar sua intolerância ditatorial, o que contribuiu para evitar que o movimento trabalhista britânico seguisse a orientação marxista, indicada por líderes como Henry Hyndman".[5]

Congressos da Segunda Internacional[editar | editar código-fonte]

  1. 1889: Congresso Internacional dos Trabalhadores de Paris, 1889
  2. 1891: Congresso Internacional Socialista-Trabalhista de Bruxelas, 1891
  3. 1893: Congresso Socialista e Trabalhista de Zurique, 1893
  4. 1896: Internacional Socialista dos Trabalhadores e Congresso dos Sindicatos, em Londres, 1896
  5. 1900: Congresso da Internacional Socialista, em Paris, 1900
  6. 1904: Congresso da Internacional Socialista, Amsterdam, 1904
  7. 1907: Congresso da Internacional Socialista, Stuttgart, 1907
  8. 1910: Copenhagen
  9. 1912: Basel(Congresso Extraordinário)

América Latina[editar | editar código-fonte]

Na América Latina, a Internacional teve duas seções: o Partido Socialista da Argentina e o Partido Socialista do Uruguai.[6]

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Rubio, José Luis. Las internacionales obreras en América. Madrid: 1971. p. 42.
  2. Rubio, José Luis. Las internacionales obreras en América. Madrid: 1971. p. 43
  3. George Woodcock. Anarchism: A History of Libertarian Ideas and Movements (1962), pp 263-264
  4. "Assim como todas as lideranças anarquistas, Keir Hardie e Tom Mann apareceram no palco para fazer discursos afirmando os direitos das minorias, e William Morris, pouco antes de morrer, enviou uma mensagem dizendo que só a doença o impedira de somar sua voz ao coro de protesto." George Woodcock. Anarchism: A History of Libertarian Ideas and Movements (1962). pp 263-264
  5. George Woodcock. Anarchism: A History of Libertarian Ideas and Movements (1962). pgs 263-264
  6. Rubio, José Luis. Las internacionales obreras en América. Madrid: 1971. p. 49

Ligações externas[editar | editar código-fonte]