Seleção de grupo – Wikipédia, a enciclopédia livre

Em biologia evolutiva, seleção de grupo refere-se à ideia de que os alelos podem fixar-se ou espalhar numa população devido aos benefícios que fornecem aos grupos, seja qual for o seu efeito na aptidão dos indivíduos dentro desse grupo.

A teoria da seleção de grupo foi originalmente postulada para explicar comportamentos observados nas sociedades humanas e animais que parecem beneficiar o grupo, mesmo quando resulta em prejuízo individual.[1] Ainda não há um consenso entre biólogos sobre este processo, embora haja um ressurgimento de novos modelos de seleção de grupo nos últimos anos. Há dúvidas de que a seleção de grupo possa ser forte o bastante a fazer com que indivíduos sacrifiquem seus próprios interesses a fim de perpetuar seu grupo. Em ambiente natural é muito difícil imaginar a seleção de grupo predominar a seleção individual e estabelecer um comportamento individual desvantajoso. Em laboratório, porém, é possível criar condições extremas que permitem a seleção de grupo.[2]

Experimentos[editar | editar código-fonte]

Em laboratório[editar | editar código-fonte]

O experimento de Wade com o besouro-da-farinha, Tribolium castaneum, é um desses casos. Wade trabalhou com três tratamentos: controle, alta fecundidade e baixa fecundidade. Para cada uma havia 48 colônias diferentes de T. castaneum. Cada uma teve 37 dias para reprodução, e após esse tempo foram formadas outras 48 colônias compostas por 16 indivíduos das colônias velhas. Ele selecionou uma nova geração de colônias para baixa fecundidade a partir de colônias com baixa densidade ao final do prazo reprodutivo, e o contrário para selecionar colônias de alta fecundidade. Ele repetiu o processo por vários ciclos. O resultado, como esperado, foi que a densidade populacional nas linhagens de baixa fecundidade diminuiu em relação às de alta fecundidade, o que é explicado pela seleção de grupo.[3]

Muir (1995) aplicou o experimento de Wade em galinhas poedeiras. Em granjas, galinhas que põem mais ovos podem ser “anti-sociais”, utilizando recursos desproporcionalmente ou até mesmo agredindo as demais. Então Muir separou as aves em grupos de 9 indivíduos, e a cada geração selecionava o grupo mais produtivo. A produtividade praticamente dobrou em menos de 5 gerações. As galinhas foram selecionadas para serem menos egoístas e, como consequência, melhoraram a vida social das aves, o que é interessante no contexto agrícola.[4]

Na natureza[editar | editar código-fonte]

Wilson e Colwell (1981) apresentam algumas evidências indiretas de um modelo de seleção de grupo para espécie do gênero de ácaros nectívoros Rhinoseius, os quais são dispersos por beija-flores da família Trochilidae. Alguns ácaros deste gênero tem a característica de descender mais fêmeas do que machos. A reprodução dos indivíduos acontece no interior da flor, onde um ou poucos machos podem fecundar todas as fêmeas. Grupos de ácaros que possuam alta freqüência de alelos desviando a proporção sexual em favor das fêmeas contribuem com mais descendentes passíveis de dispersão do que grupos que não possuem tal alelo. Neste caso, tem-se que uma quantidade mínima de machos em uma população contribui efetivamente para melhor perpetuação da espécie, uma vez que não é necessário disputa por fêmeas nem território, e o gasto energético é convergido à reprodução.[5]

Seleção de grupo e o sexo[editar | editar código-fonte]

Figura 2. Cladócero heterogônico.

Assume-se que o sexo seja desvantajoso para o indivíduo, com um custo de 50% de seus genes, porém, em relação ao grupo, há melhores condições de perpetuação com reduzida taxa e extinção para as populações, uma vez que se acumulam adaptações mais rapidamente pelo cruzamento genético, além da desvantagem de um indivíduo assexuado sofrer uma mutação deletéria. Desta forma, a desvantagem do indivíduo realizar reprodução sexuada compensa o grupo com uma menor taxa de extinção, o que apóia a teoria de seleção de grupo.

Pelo olhar dos que não aceitam a seleção de grupo, este argumento não é convincente. Para estes, procura-se em primeiro lugar o benefício em nível de espécie (seleção individual), e não de grupo. Sendo assim, as espécies sexuadas realizam este tipo de reprodução porque é benéfica para a espécie esta forma de se reproduzir. O mesmo para as assexuadas.

Os mesmo não acreditam na evolução de adaptações desvantajosas para o indivíduo, mesmo que para o bem de todo grupo. Williams (1975) analisou espécies heterogônicas e, com sua famosa objeção do argumento do equilíbrio, ajuda a contradizer a seleção de grupo. Determinadas espécies tem a capacidade de se reproduzir tanto sexuada como assexuadamente, o que é determinado pelas condições ambientais. Algumas utilizam o tipo sexuado quando as condições são desfavoráveis, e a assexuada quando favoráveis. A conclusão chegada é que o que determina o tipo de reprodução é o benefício individual, e não do grupo. Os ciclos reprodutivos nestas espécies dependem de um equilíbrio das formas de reprodução a fim de perpetuar o indivíduo, e consequentemente a espécie. Neste caso a seleção de grupo é descartada.

Mesmo com fortes argumentos não se tem nada exato, tratando-se de ciência. A prole sexuada de cladóceros produz ovos especiais de inverno, os quais são adaptados a esta condição climática. Um cladócero que não realizasse reprodução sexuada no inverno perderia sua fase hibernal. Na prática, a perda do sexo detentor do ovo de inverno precisaria de duas mutações: uma para a perda do sexo e outra para transferir o fenótipo do ovo de inverno para os assexuados. Apesar de um pouco confuso, desta forma o argumento de Williams (1975) não é bem delimitado.[6]


Referências

  1. The Controversy of the Group Selection Theory - uma revisão de "Science Creative Quarterly" (blog)
  2. Mark Ridley, Evolução, 3ª edição, 2006, p 328-334
  3. Mark Ridley, Evolução, 3ª edição, 2006, p 331
  4. Mark Ridley, Evolução, 3ª edição, 2006, p 333
  5. Douglas J. Futuyma, Biologia Evolutiva, 2ª edição, 1986, p 280
  6. Mark Ridley, Evolução, 3ª edição, 2006, p 346-348