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Teatro Oficina
Teatro Oficina
Sede do Teatro Oficina
Tipo
  • empresa de teatro
Arquiteto Lina Bo Bardi e Edson Elito[1]
Construção 1958 (66 anos)[1]
Website teatroficina.com
Estado de conservação SP
Património nacional
Classificação Condephaat
Data 1983 (41 anos)[2]
Geografia
País Brasil
Cidade São Paulo

O Teatro Oficina Uzyna Uzona é a sede da companhia de teatro homônima de São Paulo, Brasil, foi liderada por José Celso Martinez Corrêa, o "Zé Celso", e que é a maior e uma das mais longevas companhias de teatro em atividade permanente do Brasil. Fundada em 1958 como a Companhia Teatro Oficina, que veio a formar a atual Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona, foi criada por Zé Celso Martinez Corrêa e outros estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, como Amir Haddad e Carlos Queiroz Telles.[3]

Desde sua profissionalização, em 1961, tem sua sede no bairro do Bixiga, São Paulo. O prédio atual era a sede do antigo Teatro Novos Comediantes, de uma companhia teatral mesmo nome.[4] Na década de 1960, o prédio foi adquirido pela companhia. No mesmo ano, no entanto, o teatro foi destruído por um incêndio e, posteriormente, remontagens de peças teatrais foram realizadas para levantar de fundos e reconstruir o prédio.[5]

Dezenas de obras de grande importância na dramaturgia ocidental e do Brasil foram encenadas pelo Teatro Oficina por centenas de artistas que trabalharam na história da companhia.[6]

O famoso projeto arquitetônico, projetado em 1992 e inaugurado em 1994, tem a assinatura de Lina Bo Bardi e Edson Elito. Atualmente, o Teatro Oficina tem uma disputa com o Grupo Silvio Santos, que pretende construir torres residenciais no terreno contíguo ao teatro, o que comprometeria irreversivelmente o projeto de Bo Bardi e Elito. Em 2015, o Teatro Oficina foi eleito pelo jornal The Guardian como o melhor teatro do mundo na categoria projeto arquitetônico.[7][8]

Histórico[editar | editar código-fonte]

Fase amadora (1958-1961)[editar | editar código-fonte]

A Companhia Teatro Oficina nasce em 1958, no encontro de artistas no Centro Acadêmico 11 de Agosto da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo; entre eles José Celso Martinez Corrêa, Renato Borghi, Etty Fraser, Fauzi Arap, Ronaldo Daniel e Amir Haddad.[1]

Em 1961, a companhia decide pela sua profissionalização e adquire o espaço que desde então é a sede do grupo, um edifício antigo onde funcionava um teatro espírita, o Teatro Novos Comediantes, na Rua Jaceguai.[4] Ao chegarem na locação, constatam que o antigo proprietário tinha removido todo o mobiliário e já que não havia mais a estrutura de um teatro no local. Nesta circunstância surge a primeira contribuição conjunta de arquitetura com a Companhia, sob o projeto arquitetônico de Joaquim Guedes: um palco no meio, duas arquibancadas se defrontando.[5]

Profissionalização e incêndio (1961-1973)[editar | editar código-fonte]

Zé Celso em meio aos escombros do Teatro Novos Comediantes em 1966.

São criadas a companhia profissional e a sala de espetáculos, com a encenação de "A Vida Impressa em Dólar", de Clifford Oddets. Foi feita uma reforma a partir de um projeto do arquiteto Joaquim Guedes, que criou o teatro como um "sanduiche", com duas plateias frente a frente e separadas pelo palco central, que assim permaneceu durante essa primeira fase da companhia.[1]

Em 1962, são levados à cena Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, e "Quatro Num Quarto", de Valentin Kataev. A peça Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, estreia em 1963. O grupo monta "Andorra", de Max Frisch, em 1964, ano do golpe militar no Brasil, e "Os Inimigos", de Máximo Gorki, em 1966. No ano de 1966, o teatro que até então possuía formato de arena, com duas plateias opostas, teve seu espaço cênico transformado por nova reforma, após um incêndio que o destruiu completamente.[1]

Em 1967, a apresentação de "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, traz notoriedade ao teatro, lançando o tropicalismo. Na Europa, o espetáculo torna o grupo internacionalmente conhecido. As montagens de "Galileu Galilei", 1968, e "Na Selva das Cidades", 1969, ambas de Bertolt Brecht, são o ápice do Oficina.[1]

Em 1971, com o lançamento do filme Prata Palomares, uma crise interna surge e a companhia se desfaz, ressurgindo posteriormente com outra equipe, mas ainda sob a liderança de José Celso e Renato Borghi, que patrocinam a vinda do grupo experimental estadunidense The Living Theatre. Com a apresentação da obra de criação coletiva "Gracias, Señor", surge o Oficina Usyna Uzona. A encenação seguinte é uma recriação autobiográfica de "As Três Irmãs", de Anton Tchekhov, 1972.[1]

Exílio de Zé Celso e ressurgimento[editar | editar código-fonte]

José Celso Martinez Correa e parte da companhia.
Eduardo Gudin se apresenta no evento 'El Grande Conserto' no Teatro Oficina, março de 2013

Em 1974, José Celso é detido e exilado pela ditadura militar brasileira. Ele vai morar em Portugal e retorna ao Brasil em 1979.[1] Em 1983, o prédio foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat), por sua importância histórica ao teatro brasileiro.[2] Em 1984, o local passa a ser oficialmente chamado de Teatro Oficina Uzyna Uzona.[1]

O prédio passa por um novo processo de reforma com base em um projeto criado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, em parceria com o arquiteto Edson Elito. Com a ideia central de aproximar a rua do espaço cênico, o teatro desenvolve-se através de uma faixa de pranchas de madeira com cerca de 1,5 metro de largura e 50 metros de comprimento entre o acesso frontal e dos fundos. A obra é concluída em 1994.[9][1] Em 2015, o jornal britânico The Guardian considerou o projeto arquitetônico do teatro como o "melhor do mundo" em sua categoria.[7]

A companhia volta chamar a atenção pública com a montagem "Ham-let", de Shakespeare, em 1993, que reinaugura o novo edifício do teatro.[9] Em 1996, a adaptação de "As Bacantes", de Eurípides, e, 1998, a encenação da peça "Cacilda!", do próprio José Celso, também têm boa repercussão. Entre 2002 e 2006, Zé Celso realiza a montagem da obra "Os Sertões", de Euclides da Cunha.[1]

Conflito com o Grupo Silvio Santos[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Grupo Silvio Santos
Vídeo da reunião entre Zé Celso, Silvio Santos, Eduardo Suplicy e João Doria, então prefeito de São Paulo.

O espaço onde está instalado o Teatro Oficina desencadeou uma disputa imobiliária entre José Celso e o empresário Silvio Santos. O teatro foi tombado em 1981 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) por ser uma referência artística e cultural. Ainda na década de 1980, o Grupo Silvio Santos adquiriu terrenos vizinhos ao teatro, com o objetivo de construir um prédio para o conglomerado de empresas no bairro.[10]

Durante décadas, José Celso e Silvio Santos se reuniram diversas vezes para tentar resolver o impasse do terreno. Em 4 de dezembro de 2018, o Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo realizou uma reunião para resolver um impasse entre José Celso e o Grupo Silvio Santos, que pretende construir prédios de até 100 metros de altura região, no Centro de São Paulo, o que prejudicaria a construção do teatro, que é tombado desde 2010 pelo patrimônio histórico nas esferas federal, estadual e municipal. Após a reunião, em que não houve consenso entre as partes, o MPF decidiu que ingressará com uma ação na Justiça buscando a preservação do patrimônio cultural. Para os representantes do diretor do teatro, o empreendimento não respeitaria a preservação do patrimônio tombado, tanto do edifício, quanto do bem imaterial a ser preservado.[11]

Em maio de 2018, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), deu parecer favorável para a construção dos prédios residenciais. Segundo o Iphan, o processo atende às normas relativas ao processo de tombamento e o parecer favorável refere-se "estritamente ao que se refere às delimitações de suas áreas de entorno e de tombamento". No caso do Teatro Oficina, que possui uma fachada com janela de vidro, a área que o Iphan impede a construção é definida por um cone visual com abertura de 45º a partir de cada lado da janela. Nesta área, nenhuma obra pode ser construída em uma faixa de 20 metros a partir da lateral oeste do teatro.[11]

A discussão por autorização para realizar construções ao redor do teatro oficina se arrasta há anos e Silvio Santos também realizou pedidos ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e no Condephaat, que avaliam a questão.[11] Em dezembro de 2019, o Conpresp aprovou o projeto das torres de Silvio Santos ao lado do Teatro Oficina.[12]

Em fevereiro de 2020, o projeto de lei 805/2017, que determinava a implementação do "Parque Bixiga" no local onde as torres residenciais seriam erguidas, foi aprovado por unanimidade em segunda votação na Câmara Municipal de São Paulo.[13] Em março do mesmo ano, no entanto, o então prefeito em exercício da cidade, Eduardo Tuma, vetou o projeto ao citar questões legais e financeiras.[14]

Em 19 de dezembro de 2023, o Ministério Público e a Prefeitura de São Paulo anunciaram que vão destinar 51 milhões de reais para a implantação do Parque do Rio Bixiga, ao lado do Teatro Oficina.[15]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k Itaú Cultural, ed. (10 de dezembro de 2017). «Teatro Oficina». Consultado em 30 de março de 2021 
  2. a b Condephaat (ed.). «Teatro Oficina». Consultado em 31 de março de 2021 
  3. Guerra, Marco Antonio. Carlos Queiroz Telles. História e Dramaturgia em Cena. São Paulo: Anna Blume, 2004.
  4. a b Cultural, Instituto Itaú. «Teatro Novos Comediantes». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 12 de abril de 2019 
  5. a b Cultural, Itaú. «Teatro Novos Comediantes». Ocupação. Consultado em 12 de abril de 2019 
  6. «Projeto do Teatro Oficina de Lina Bo Bardi é eleito o melhor do mundo pelo The Guardian». ArchDaily Brasil. 15 de dezembro de 2015 
  7. a b Moore, Rowan (11 de dezembro de 2015). «The 10 best theatres». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  8. «Projeto arquitetônico do Teat(r)o Oficina é melhor do mundo, diz jornal». Folha de S.Paulo 
  9. a b Matheus Pereira. archdaily, ed. «Clássicos da Arquitetura: Teatro Oficina / Lina Bo Bardi e Edson Elito». Consultado em 30 de março de 2021 
  10. «Dr. Abobrinha, do Castelo Rá-Tim-Bum, foi inspirado na história da disputa do Teatro Oficina com Grupo Silvio Santos, conta ator». G1. 6 de julho de 2023. Consultado em 7 de julho de 2023 
  11. a b c G1, ed. (5 de dezembro de 2018). «Reunião acaba sem acordo em impasse de Silvio Santos com Teatro Oficina». Consultado em 24 de novembro de 2019 
  12. Mônica Bergamo (18 de dezembro de 2018). Folha de S.Paulo, ed. «Conpresp aprova projeto de torres de Silvio Santos ao lado do Teatro Oficina». Consultado em 24 de novembro de 2019 
  13. Bárbara Muniz Vieira (12 de fevereiro de 2020). G1, ed. «Após 40 anos de disputa por terreno, projeto de criação do Parque Bixiga é aprovado em segunda votação na Câmara de SP». Consultado em 30 de março de 2021 
  14. G1, ed. (14 de março de 2020). «Prefeito em exercício, Tuma veta criação do Parque Bixiga». Consultado em 30 de março de 2021 
  15. Walace Lara (19 de dezembro de 2023). «Parque Bixiga deve sair do papel após acordo do MP e Prefeitura de SP destinar R$ 51 milhões para o terreno ao lado do Teatro Oficina». G1. Consultado em 5 de fevereiro de 2024 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • BRANDÃO, Tania. Oficina: o trabalho da crise. In: MONOGRAFIAS 1979. Rio de Janeiro: Inacen, 1979. p. 11-62.
  • CORRÊA, José Celso Martinez; STAAL, Ana Helena Camargo de (Org.). Zé Celso Martinez Corrêa: primeiro ato: cadernos, depoimentos, entrevistas 1958-1974. São Paulo: Editora 34, 1998.
  • DYONISOS. Rio de Janeiro, n. 26, 1982. Número especial sobre Teatro Oficina. Organização Fernando Peixoto.
  • LIMA, Mariangela Alves de. Eu sou índio. In: O NACIONAL e o popular na cultura brasileira: seminários - teatro. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 163-171.
  • MOSTAÇO, Edelcio. Teatro e política: Arena, Oficina e Opinião. São Paulo: Proposta Editorial, 1982.
  • NANDI, Ítala. Oficina: onde a arte não dormia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
  • SILVA, Armando Sérgio. Oficina: do teatro ao te-ato. São Paulo: Perspectiva: 1982.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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