Tratado bizantino-veneziano de 1082 – Wikipédia, a enciclopédia livre

Tratado de 1082
Tratado bizantino-veneziano de 1082
Tratado bizantino-veneziano de 1082
Império Bizantino à época do tratado
Tipo Pacto de comércio e defesa
Signatário(a)(s) Império de Niceia, República de Veneza
Assinado 1082
Tari de Roberto Guiscardo

O tratado bizantino-veneziano de 1082 foi um pacto de comércio e defesa entre o Império Bizantino e a República de Veneza, na forma de uma bula dourada emitida pelo imperador Aleixo I Comneno (r. 1081–1118). Nos anos anteriores ao tratado, o Império Bizantino estava sofrendo inúmeros reveses frente ao avanço normando na Itália, bem como na costa balcânica do Adriático, em grande parte devido a falência da marinha bizantina.

O tratado, que tinha por objetivo a aquisição da ajuda militar veneziana nas guerras contra os normandos, forneceu a República de Veneza grandes concessões comerciais, tendo grande impacto em ambos os Estados. Com ele, Veneza construiu seu império marítimo mediterrâneo às custas dos bizantinos, ao mesmo tempo que o Império Bizantino ficou economicamente debilitado, o que a longo prazo contribuiu para sua decadência e queda definitiva.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

No início do século XI, as províncias bizantinas no sul da Itália enfrentaram os normandos, que chegaram à Itália. Durante o período de conflito entre Constantinopla e Roma que terminou com o Grande Cisma, os normandos começaram a avançar, lenta, mas firmemente, na Itália bizantina.[1] Régio, a capital do tagma da Calábria, foi capturada em 1060 por Roberto Guiscardo, seguido por Otranto em 1068. Bari, a principal fortaleza bizantina na Apúlia, foi sitiada em agosto de 1068 e caiu em abril de 1071.[2][3] No início do reinado do imperador Aleixo I Comneno (r. 1081–1118), o império enfrentou um ataque formidável dos normandos de Roberto Guiscardo e de seu filho, Boemundo de Tarento, que capturaram Dirráquio[4] e Corfu,[5] e sitiaram Lárissa na Tessália.[6]

A República de Veneza ao longo de sua história manteve laços estreitos com o Império Bizantino, primeiro como província fronteiriça, e depois, conforme a autoridade bizantina esmoreceu no Ocidente, como parceira comercial.[7] No último quartel do século XI, a marinha bizantina era uma sombra do que tinha sido no passado, tendo declinado por negligência, incompetência dos seus oficiais e falta de fundos.[8] Em vista de tal situação calamitosa, Aleixo I Comneno foi forçado a pedir ajuda aos venezianos que na década de 1070 já tinham assegurado o seu controle no Adriático e na Dalmácia contra os Normandos.[9]

Proposições e consequências[editar | editar código-fonte]

Iluminura de Aleixo I Comneno (r. 1081–1118)

Em vista de ajuda militar contra esta ameaça, o Império Bizantino, por meio de um bula dourada emitida por Aleixo I, fez um grande número de concessões comerciais à República de Veneza de Domenico Selvo.[7] De acordo com o tratado, os bizantinos permitiam aos venezianos o direito de comércio através do império sem a imposição de taxas.[10] A eles também foi permitido controlar os principais estabelecimentos portuários de Constantinopla, junto com o controle de vários ofícios público chave.[11] O tratado também garantiu várias honras ao doge de Veneza, junto com uma renda.[10] Finalmente, aos venezianos foi garantido o distrito (em grego: έμβολο; romaniz.:émbolo) deles na capital, com lojas, uma igreja e uma padaria.[12]

A ajuda militar prometida pela República de Veneza nunca chegou realmente. Os venezianos não fizeram nada para parar os normandos, mas colheram grandes benefícios de suas novas vantagens.[11] Mais adiante, durante o reinado do imperador João II Comneno (r. 1118–1143), filho e sucessor de Aleixo I, o Império Bizantino recusou-se a renovar o acordo comercial de 1082 com Veneza, o que provocou retaliações por parte dos venezianos, que sitiaram muitas ilhas do Egeu, forçando o imperador a reconsiderar.[13]

Segundo o historiador Timothy E. Gregory, esta série de concessões foi o marco fundador do império marítimo de Veneza.[10] A habilidade bizantina de recuperar-se após suas perdas foi significativamente reduzida, devido à imensa receita que deixou de receber ao permitir aos venezianos comercializar livremente sem a imposição de tributos. Isto sufocou o poder de recuperação do império e, em última análise, começou seu declínio terminal.[11] Segundo o historiador John Birkenmeier:

A falta de uma marinha de Bizâncio [Império Bizantino] [...] significou que Veneza pôde extorquir regularmente privilégios econômicos, decidir se invasores como os normandos ou os cruzados entravam no império, e impedir quaisquer tentativas bizantinas para restringir as atividades comerciais ou navais venezianas.
 
John W. Birkenmeier. The Development of the Komnenian Army: 1081–1180. 2002.[14].

Referências

  1. «Relations with Italy and Western Europe» (em inglês). Consultado em 16 de setembro de 2012. Cópia arquivada em 6 de outubro de 2014 
  2. Hooper 1996, p. 82.
  3. Stephenson 2000, p. 157.
  4. Harris 2003, p. 34.
  5. Dicks 1977, p. 58.
  6. Fine 1991, p. 282.
  7. a b Nicovich 2009, p. 1.
  8. Haldon 1999, p. 91.
  9. Nicol 1992, p. 55–58.
  10. a b c Gregory 2010, p. 291.
  11. a b c Bideleux 2006, p. 55.
  12. Constable 2003, p. 153.
  13. Norwich 1995, p. 70.
  14. Birkenmeier 2002, p. 39.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bideleux, Robert; Ian Jeffries (2006). A History of Eastern Europe: Crisis and Change. Londres: Routledge. ISBN 1134719841 
  • Birkenmeier, John W. (2002). The Development of the Komnenian Army: 1081–1180. Leida: Brill. ISBN 90-04-11710-5 
  • Constable, Olivia Remie (2003). Housing the Stranger in the Mediterranean World: Lodging, Trade, and Travel in Late Antiquity and the Middle Ages. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0521819180 
  • Dicks, Brian (1977). Corfu (em inglês). Universidade de Michigan: David and Charles 
  • Fine, John Van Antwerp (1991). The Early Medieval Balkans: A Critical Survey from the Sixth to the Late Twelfth Century. Ann Arbor, Michigan: University of Michigan Press. ISBN 978-0-472-08149-3 
  • Gregory, Timothy E. (2010). A History of Byzantium. Nova Jérsei, EUA: John Wiley & Sons. ISBN 140518471X 
  • Haldon, John (1999). «Fighting for Peace: Attitudes to Warfare in Byzantium». Warfare, State and Society in the Byzantine World, 565–1204. Londres: Routledge. ISBN 1-85728-495-X 
  • Harris, Jonathan (2003). Byzantium and the Crusades (em inglês). Hambledon e Londres: A&C Black. ISBN 1-85285-298-4 
  • Hooper, Nicholas; Matthew Bennett (1996). «The Cambridge Illustrated Atlas of Warfare: The Middle Ages, 768–1487». The Cambridge Illustrated Atlas of Warfare: The Middle Ages, 768–1487. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-44049-1 
  • Nicovich, John Mark (2009). «The poverty of the Patriarchate of Grado and the Byzantine–VenetianTreaty of 1082». Mediterranean Historical Review. 24 (1): 1-16 
  • Norwich, John Julius (1995). Byzantium: The Decline and Fall (em inglês). Londres: Penguin. ISBN 0679416501