Verso – Wikipédia, a enciclopédia livre

Poema "Preságio", de Fernando Pessoa
O verso é cada linha formada por um modo de escrita descontínuo.

Verso é o nome dado a cada "linha" de um texto escrito em modo descontínuo. O verso será tratado musicalmente ao longo da composição textual, de acordo com padrões próprios de métrica, e organizado em conjunto com outros versos, formando estrofes. Por extensão, é também o nome dado ao estilo de escrita em modo descontínuo, em oposição à prosa.[1][2]

É a modalidade de escrita padrão das composições musicais, sendo também muito utilizado na literatura, principalmente em poemas.

Segundo Olavo Bilac e Guimarães Passos, "compreende-se por verso - ou metro - o ajuntamento de palavras, ou ainda uma só palavra, com pausas obrigadas e determinado número de sílabas, redundando em música".[3]

Um exemplo de texto escrito em versos é a Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, cuja primeira estrofe é a seguinte:

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.

Cada verso do texto é heptassílabo e possui uma cesura na terceira sílaba métrica, com exceção do terceiro verso que, para imprimir uma variação no ritmo do texto, desloca a cesura para a segunda sílaba. A partir dessa estrutura, o texto se organiza poeticamente, produzindo diversos efeitos estilísticos, como a rima entre o segundo e quarto verso e o quiasmo com "gorjeiam" no terceiro e quarto.

Na música[editar | editar código-fonte]

O verso nasceu com a música. Para se criar textos que pudessem ser cantados ao longo da composição musical, os compositores criaram os versos. Cada sílaba métrica é tratada como uma nota musical (sendo as sílabas tônicas e átonas como notas fortes e fracas, respectivamente) e encaixada no compasso da música.

Oh! que saudosa lembrança
Tenho de ti, ó Sião
Terra que eu tanto amo
Pois és do meu coração

A canção acima (Saudosa lembrança, do pastor Adriano Nobre) possui um ritmo 3/4 e cada verso possui sete sílabas métricas, cantadas ao longo de doze batidas. O autor, para ajustar o canto ao ritmo da música, escandiu-os de modo que a primeira, quarta e sétima (e oitava, se tiver) sílaba de cada verso seja cantada junto às batidas forte de cada compasso, respectivamente.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Oh! que sau do sa lem bran -an -an ça
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Te nho de ti ó Si ão
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Te rra que eu tan to a -a -a mo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Pois és do meu co ra ção

Assim, escandindo e cantando os versos segundo o compasso da música, é possível declamar textos de acordo e harmonizá-los com a música.

Na literatura[editar | editar código-fonte]

Pintura de Francisco Petrarca
Francisco Petrarca foi um dos principais poetas da literatura ocidental.

Em sua concepção, os versos eram sempre cantados. Com o tempo, os versos feitos apenas para recitar (sem acompanhamento musical) começaram a ser cultivados. Já encontramos exemplares em diversos salmos bíblicos e odes horacianas. Mas foi somente com o Renascimento que os versos estritamente literários se consolidaram em nossa cultura, mais especificamente com o movimento dolce stil novo, com poetas como Francisco Petrarca e Dante Alighieri.[4]

Em versos desse tipo, a variação entre sílabas átonas e tônicas é muito mais livre. O verso não está mais sujeito ao compasso musical e pode se dispor da forma que quiser, prezando apenas pela harmonia com os outros.

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar;
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer quanto sente,
Não sabe o que há de dizer;
Fala, parece que mente;
Cala, parece esquecer.

O trecho acima - do poema "Presságio", de Fernando Pessoa -, constituído por versos heptassílabos (ou redondilhas maiores), vemos que a variação entre sílabas tônicas a átonas é inconstante. Por vezes, como no primeiro verso, há tônicas vizinhas. Além disso, há a ocorrências de tônicas secundárias, que são sílabas que podem ser tônicas, dependendo da pronúncia do poema.[5] O quinto verso, da segunda estrofe, pode ser pronunciado de pelo menos duas maneiras: com uma tônica secundária em quem - "Quem quer dizer quanto sente" - ou com uma tônica secundária em quer - "Quem quer dizer quanto sente".

Tipos de verso[editar | editar código-fonte]

Desenho de Manuel Said Ali
Manuel Said Ali, autor do livro "Versificação portuguesa"

Além das células métricas, os versos podem ser classificados em agudos, graves e esdrúxulos. Um verso agudo é aquele em que a última palavra é oxítona; o verso grave é aquele em que a última palavra é paroxítona; e o verso esdrúxulo é aquele em que a última palavra é proparoxítona. Os termos também podem ser utilizados, na poética, para designar palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, respectivamente.[6]

A variação entre versos agudos, graves e esdrúxulos pode gerar muitos efeitos rítmicos. Segundo Said Ali:

A terminação em sílaba átona dá-nos impressão de um movimento rítmico perfeito, que suavemente descai e acaba no ponto onde deve. Sentimo-nos, pelo contrário, como que forçados a uma parada súbita, antes do tempo próprio, quando chegamos ao fim de algum verso agudo interposto entre os graves.[7]

Justamente por causa disso, os versos agudos são muito utilizados para demarcar porções textuais em um poema. Nos versos abaixo, de Casimiro de Abreu:

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais;
Que amor! que sonhos! que flores!
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais.

O poeta faz uso desse efeito para dividir a estrofe em duas porções: a primeira falando da sua saudade, e a segunda descrevendo a sua infância, cada uma com quatro versos heptassílabos.

Referências

  1. «Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de verso». Dicionário Caldas Aulete. Consultado em 14 de outubro de 2023 
  2. MOISÉS, Massaud (2012). A criação literária: poesia e prosa. São Paulo: Cultrix. p. 75. ISBN 978-85-316-1181-0 
  3. BILAC, Olavo Brás Martins dos Guimarães; PASSOS, Sebastião Cícero dos Guimarães (1905). Tratado de versificação. Rio de Janeiro: Francisco Alves. p. 34 
  4. CARPEAUX, Otto Maria (2012). A Idade Média por Carpeaux. Rio de Janeiro: LeYa. pp. 122–125. ISBN 978-85-8044-526-8 
  5. PROENÇA, Cavalcanti (1955). Ritmo e poesia. [S.l.]: Organização Simões. pp. 12–13 
  6. «O fenômeno da tônica secundária em palavras de quatro ou mais sílabas». comofazerumpoema. Consultado em 14 de outubro de 2023 
  7. ALI, M. Said (2006). Versificação portuguesa. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. p. 19. ISBN 85-314-0498-3 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • BILAC, Olavo Brás Martins dos Guimarães; PASSOS, Sebastião Cícero dos Guimarães (1905). Tratado de versificação. Rio de Janeiro: Francisco Alves.
  • PROENÇA, Cavalcanti (1955). Ritmo e poesia. [S.I.]: Organização Simões.
  • ALI, M. Said (2006). Versificação portuguesa. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. ISBN 85-314-0498-3.


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