Voo Eastern Air Lines 375 – Wikipédia, a enciclopédia livre

Voo Eastern Air Lines 375
Acidente aéreo
Voo Eastern Air Lines 375
Destroços da aeronave recolhidos pelo Civil Aeronautics Board. Os sobreviventes do acidente estavam concentrados nessa seção da fuselagem.
Sumário
Data 4 de outubro de 1960
Causa Colisão com pássaros
Local Estados UnidosBaía de Boston, próximo ao Aeroporto Logan
Origem Boston
Escala Filadélfia, Charlotte
Destino Atlanta
Passageiros 67
Tripulantes 5
Mortos 62
Feridos 10
Sobreviventes 10
Aeronave
Modelo Estados Unidos Lockheed L-188 Electra
Operador Estados Unidos Eastern Air Lines
Prefixo N5533
Primeiro voo 1959

O Voo Eastern Air Lines 375 era uma linha aérea da empresa homônima e ligava os aeroportos de Logan, Boston e Atlanta, através de escalas em Filadélfia e Charlotte. No dia 4 de outubro de 1960, o Lockheed L-188 Electra registro N5533 realizava essa linha aérea quando mergulhou na baia de Boston, matando 62 ocupantes e ferindo outros 10.[1] A análise do acidente revelou que uma colisão com pássaros havia causado o súbito mergulho na baía.[2]

Aeronave[editar | editar código-fonte]

No início da década de 1950, a Lockheed dominava ao mercado de aeronaves comerciais de longo percurso com os quadrimotores Constellation enquanto que suas rivais Douglas e Convair se concentravam no desenvolvimento de aeronaves a jato e turboélice para a aviação regional.

Em meados da década de 1950, a empresa aérea Capital Airlines procurou a Lockheed e sugeriu o desenvolvimento de uma aeronave turboélice para ser utilizada no mercado da aviação regional. Após o desinteresse da Lockheed, a Capital optou por adquirir 41 Vickers Viscount, após a empresa britânica conseguir vender 51 aeronaves para a Trans-Canada Air Lines. A aquisição dos Viscount pela Capital impulsionou as vendas da aeronave britânica nos Estados Unidos, incentivando as encomendas da Continental e Northeast Airlines.[3]

O crescimento das vendas do Vickers Viscount na América do Norte assustou a Lockheed, que assim lançou o projeto da aeronave bimotor CL-303, com capacidade para até 70 passageiros, atendendo um pedido da American Airlines. Posteriormente a American rejeitou o projeto e a Lockheed não conseguiu outros compradores para o projeto. O modelo 188 foi projetado após revisão de algumas exigências da American que encomendara 35 aeronaves. A Lockheed conseguiu outra encomenda da Eastern Airlines, viabilizando o projeto. Batizado de Electra, o bimotor realizou seu primeiro voo em 6 de dezembro de 1957.

Após entrar em serviço em janeiro de 1959, o Electra teve suas vendas arruinadas após a ocorrência de três acidentes fatais em um intervalo de um ano. Os acidentes obrigaram a FAA manter em terra todos os Electra até que as causas dos acidentes fossem descobertas. Após a colaboração da NASA, descobriu-se que o Electra tinha erros de projeto nas asas, cujos suportes dos motores eram frágeis ao ponto da vibração dos motores durante o voo causarem fissuras e separação das asas da fuselagem em pleno voo. A Lockheed investiu em um caro programa de modernização dos modelos já comercializados. As perdas com o projeto do Electra chegaram a 57 milhões, obrigando a empresa americana a encerrar a produção do modelo, também pressionada pela falta de novos clientes, em 1961.[4]

Acidente[editar | editar código-fonte]

Após realizar o voo 444 entre Nova Iorque e Boston, o Lockheed L188 Electra registro N5533 foi preparado nos hangares do aeroporto Logan para a realização do voo 375 entre Boston e Atlanta, com escalas previstas em Filadélfia e Charlotte.[5] Após os 67 passageiros serem embarcados, os 5 tripulantes assumiram seus postos e iniciaram o voo 375 da Eastern Air Lines.[2]

O Lockheed Electra correu os 2134 metros da pista 09 do aeroporto Logan, decolando às 5h39 min, rumo a Fliadélfia. Cerca de seis segundo após a decolagem, o Electra cruzou com um bando de estorninhos, de forma que alguns se chocaram com a aeronave. Subitamente, os motores 1,2 e 4 do Electra entraram em pane. A tripulação tentou retornar ao aeroporto Logan, porém o único motor em funcionamento não conseguiu manter o Electra no ar, de forma que o mesmo mergulhou nas águas da Baía de Boston. Com o forte impacto, a fuselagem se dividiu em duas partes. A cauda da aeronave flutuou por algum tempo e permitiu o resgate de 10 ocupantes por barcos de resgate enquanto que o resto do Electra afundou matando 62 ocupantes da aeronave.[2]

Investigações[editar | editar código-fonte]

Lockheed L-188 Electra da Eastern Air Lines, similar ao avião destruído. Com a chegada de novas aeronaves a jato e outros modelos de turboélice, o Electra foi retirado do transporte de passageiros e empregado pela Eastern no transporte de cargas.

As investigações, conduzidas pelo Civil Aeronautics Board, foram facilitadas pelo recolhimento de grande parte dos destroços. Durante a análise dos motores, foram descobertos restos de pássaros no interior dos mesmos.[6] Assim, foi determinado que após a decolagem do aeroporto Logan, o Electra colidiu com um bando de estorninhos (cujos restos foram identificados por peritos em ornitologia do Museu Nacional de História Natural). Dezenas de aves foram sugadas pelos motores 1,2 e 4 que sobrecarregados, entraram em pane. Com apenas o motor nº 3 em funcionamento, o Electra mergulhou sem controle nas águas da Baía de Boston. O forte impacto com as águas separou a fuselagem em duas partes, de forma que os sobreviventes da queda estavam concentrados na cauda da aeronave.[2]

Consequências[editar | editar código-fonte]

O acidente com o voo Eastern 375 foi um divisor de águas na história da aviação comercial dos Estados Unidos.[7] Pela primeira vez, o risco aviário foi estudado com atenção pela FAA, de forma a minimizar novas ocorrências.[8]

O acidente também contribuiu para prejudicar ainda mais a imagem do Electra. Alguns meses depois, a Lockheed encerrou a linha de produção da aeronave.[4]

Referências

  1. AP, UPI, JB (5 de outubro de 1960). «Explodiu um turbo-jacto (segundo em 2 semanas) com 72 pessoas a bordo». Jornal do Brasil, Ano LXX, edição 234, página 6. Consultado em 13 de junho de 2013 
  2. a b c d Gianfranco Beting. «Golden Falcon down! -A tragédia do Eastern 375». Jetsite. Consultado em 16 de junho de 2013. Arquivado do original em 2 de maio de 2012 
  3. «Production list by construction number». Vickers Viscount Network. Consultado em 16 de junho de 2013 
  4. a b U.S. Centennial of Flight Commission (março de 2003). «Lockheed in Mid-Century». Internet Archive Wayback Machine. Consultado em 21 de junho de 2013 
  5. UPI (5 de outubro de 1960). «60 muertos al caer un avión Electra en Boston». El Tiempo (Colômbia), Ano 49, número 16974, páginas 1 e 19. Consultado em 13 de junho de 2013 
  6. AFP/UPI (6 de outubro de 1960). «Tordos na queda do Electra». Folha de S. Paulo, Ano XXXVI , edição 11186 página 1. Consultado em 21 de junho de 2013 
  7. José Antonio Sazdjian Júnio (2003). «Homem X Pássaro: a disputa pelo espaço aéreo». Segurança de Voo. Consultado em 19 de junho de 2013 [ligação inativa]
  8. Henrique Rubens Balta de Oliveira (30 de agosto de 2012). «Risco Aviário e Resíduos Sólidos Urbanos» (PDF). 5º Simpósio de Segurança de Voo - Instituto de Pesquisas e Ensaios em Voo (IPEV)/ Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA)/ Força Aérea Brasileira. Consultado em 19 de junho de 2013 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]