Arquitetura barroca – Wikipédia, a enciclopédia livre

Fachada da Igreja de San Borromeo, em Noto, Sicilia.
Série de artigos sobre
História da arquitetura

Arquitetura da Pré-História

Neolítica | Rupestre

Arquitetura antiga

Egípcia | Clássica | Grega | Romana

Arquitetura da Idade Média

Bizantina | Carolíngia | Otoniana | Românica | Gótica

Arquitetura do Renascimento
Maneirismo
Arquitetura barroca

Rococó | Neoclássica

Arquitetura do século XIX

Neogótico | Arts & Crafts | Revivalista | Protomoderna | Eclética | Art nouveau

Arquitetura moderna

Art déco | Bauhaus | International style | Orgânica | Googie | Brutalista | Construtivista

Arquitetura pós-moderna

High-tech | Desconstrutivista | Regionalista crítica | Clássica-nova | Neomoderna | Neofuturista


Por geografia

Portugal | Brasil | Américas | África | Europa | Islão | Oriental

Por tipologia

Civil | Militar | Religiosa | Vernacular

A arquitetura barroca (AO 1945: arquitectura barroca) é o estilo arquitectónico praticado durante o período barroco, que, precedido pelo Renascimento e maneirismo, inicia-se a partir do século XVII, durante o período do absolutismo,[1] e decorre até a primeira metade do século XVIII.[2] A palavra portuguesa “barroco” define uma pérola de formato irregular (pérola imperfeita).

Na arquitetura barroca, a expressão típica são as igrejas, construídas em grande quantidade durante o movimento de Contrarreforma. Rejeitando a simetria do renascimento, destacam o dinamismo e a imponência, reforçados pela emotividade conseguida através de meandros, elementos contorcidos e espirais, produzindo diferentes efeitos visuais, tanto nas fachadas quanto no desenho dos interiores. 

Quanto à arquitetura sacra, compõe-se de variados elementos que pretendem dar o efeito de intensa emoção e grandeza. O teto elevado e elaborado com elementos de escultura dá uma dimensão do infinito; as janelas permitem a penetração da luz de modo a destacar as principais esculturas; as colunas transmitem uma impressão de poder e de movimento.

Considerando que o Renascimento contou com a riqueza e o poder dos tribunais italianos e era uma mistura de forças seculares e religiosas, o Barroco foi, pelo menos inicialmente, diretamente ligada à Contrarreforma, um movimento dentro da Igreja Católica a reformar-se, em resposta à Reforma Protestante.[3] A arquitetura barroca e seus enfeites eram por outro lado mais acessíveis para as emoções e, por outro lado, uma declaração visível da riqueza e do poder da Igreja. O novo estilo manifestou-se, em particular, no contexto das novas ordens religiosas, como os Teatinos e os jesuítas que visam melhorar a piedade popular.

Contexto histórico[editar | editar código-fonte]

O século XVII foi um período caracterizado por uma variedade de tendências nunca antes experimentadas. A concepção do cosmos tinha sido completamente revolucionada no século anterior, enquanto que as divisões desenvolvidas no interior da Igreja haviam-se tornado símbolo de uma desintegração de um mundo unificado e absoluto. No campo da arte, o sentimento de dúvida e a consequente alienação do indivíduo haviam encontrado expressão no maneirismo.

Entre finais do século XVI e princípios do século XVII poder-se-ia observar alterações na atitude humana. Descartes, tendo aprendido que de tudo se podia duvidar, chegara à conclusão de que a dúvida era a única certeza; separando o ato de duvidar de qualquer elemento desconhecido, ele acabou por escrutinar os fundamentos do cepticismo. O homem voltaria então a perseguir a certeza, escolhendo entre as alternativas que lhe eram oferecidas na época; o novo mundo tornou-se "pluralístico", oferecendo ao homem uma variedade de escolhas e alternativas, tanto de carácter religioso como filosófico, económico e político.[4]

Enquanto que o universo renascentista era reservado e estático, a atitude fundamental da época barroca tornou-se, por conseguinte, o de pertencer a um sistema absoluto e integrado, mas ao mesmo tempo abeto e dinâmico. Tal postura foi favorecida pelas grandes viagens de exploração, pela descoberta de um mundo mais amplo, pela colonização e desenvolvimento da pesquisa científica. Isto determinou um aumento da especialização da atividade humana, com a consequente rotura do binómio arte e ciência, combinação esta que havia criado as bases do homem universal do Renascimento.[5]

A destruição do velho mundo culminou com a Guerra dos Trinta Anos, que no início do século XVII paralisou parte da Europa Central. Neste período, a reforma protestante difunde-se por várias partes da Europa, dando início ao desenvolvimento de diversas igrejas reformadas. A consequente Contra-reforma, iniciada pela igreja católica com o Concílio de Trento, teve repercussões significativas nas artes: fomentou importância didáctica das imagens e foram definidas uma série de normas no campo das artes, acentuando a distinção entre o clero e os fiéis.[6] Esta postura estendeu-se a todas as religiões do mundo católico, graças ao trabalho dos jesuítas e, apesar do seu carácter rígido e defensivo, favoreceu o desenvolvimento da arte barroca. De facto, no século XVII, a Igreja Católica procurava um compromisso com o poder político, parando de lutar contra as intromissões da realidade histórica[7] e tentando conciliar as questões da fé com as inerentes à vida mundana; por esta razão o barroco tornou-se num estilo capaz de expressar tanto os dogmas da fé como as frivolidades da mundanidade.[6]

Esta dupla expressão da arte barroca pode ser encontrada no ordenamento urbano idealizado por Domenico Fontana em Roma, durante o pontificado de Sisto V: a melhoria das coligações entre as igrejas mais importantes da cidade conduziu à formação d amplas praças ornamentadas com obeliscos e fontes, tornando-se portanto, símbolo de uma vitalidade e de um dinamismo não apenas religioso.[8]

Periodização[editar | editar código-fonte]

A arquitetura barroca, que se prenuncia já em meados do século XVI nalgumas obras de Miguel Ângelo, desenvolveu-se em Roma e atingiu maior expressão entre 1630 e 1670; difundiu-se na restante península e no mundo ocidental, afirmando-se no século XVII e decorrendo até à primeira metade do século XVIII; quando Roma voltar-se-ia, de novo, para o classicismo, a exemplo de Paris.[9]

Em Itália, o primeiro período barroco corresponde à atividade de artista e arquitetos como Carlo Maderno, Annibale Carracci, Caravaggio, Peter Paul Rubens. Um segundo período surge a partir da terceira década do século XVII, com as obras de Gian Lorenzo Bernini, Pietro de Cortona e Francesco Borromini, que fizeram de Roma o maior centro de atrações artísticas de toda a Europa. Mais precisamente nos pontificados de Urbano VIII Barberini, de Inocêncio X Pamphili e Alexandre VII Chigi, o barroco torna-se num estilo internacional que da capital dos Estados Pontifícios e sede do papado católico, se difunde por todo o mundo ocidental.[8] O termo está relacionado com a decadência da Santa Sé, principalmente após a morte do Papa Alexandre VII, em 1667;[10] a destituição de Gian Lorenzo Bernini do projeto de ampliação do Louvre coincide com o início do declínio de Roma como principal centro irradiador de influência artística, e a afirmação de Paris neste contexto.[11]

Em França, a periodização do Barroco não está relacionada à obra individual de artistas, mas deve-se sobretudo à política cultural de Luís XIV que tratou de identificar este estilo com o nome do próprio soberano.[12] Recorde-se, aliás, que em finais do século XVII, a revogação do Édito de Nantes provocou a migração de numerosos huguenotes franceses nos Países Baixos e na Inglaterra: o primeiro caso, representaria o fim da autonomia da comunidade local, desenvolvida há algumas décadas com a ascensão política e cultural de Amesterdão; no segundo caso, a migração francesa coincide com o ponto de viragem da arquitetura barroca na Inglaterra.[12]

A influência do barroco não se restringiu apenas ao século XVII; em bem verdade, no início do século XVIII, a afirmação do Rococó, que embora não seja uma simples continuação do primeiro,[13] pôde ser entendido como uma última fase do Barroco.[14]

Características da arquitetura barroca[editar | editar código-fonte]

Contrariamente à tese de que o barroco teve origem no maneirismo,[15] diversos estudos sustentam que foi o classicismo tardio que deu início ao novo estilo.[16] De facto, a arquitetura maneirista não foi suficientemente revolucionária ao ponto de alterar radicalmente, no sentido espacial e não apenas a nível ornamental, o estilo da antiguidade para fins populares e retóricos num ambiente contra-reformístico;[16] por outras palavras, o maneirismo não correspondia às exigências artísticas da Contrarreforma, por carecer de características relativas à clareza, realismo e intensidade emotiva requeridas pela Igreja do final do século XVI.[17]

Já no século XVI, Miguel Ângelo havia prenunciado o barroco nas formas colossais e maciças da cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma;[9] as alternâncias de proporções e forças expressadas pelo mesmo arquiteto no vestíbulo da Biblioteca Medicea Laurenziana adicionadas à enorme cornija do Palácio Farnésio tinham despertado, à época, reações, justamente pela veemente alteração das proporções clássicas. Não obstante, noutras obras, Miguel Ângelo tinha cedido à influência da corrente maneirista. Entretanto, apenas quando o maneirismo chegava ao fim é que se redescobriria Miguel Ângelo como o pai do barroco.[9]

As principais características do barroco definem-se como uma reação à simetria e às formas rígidas do Renascimento: utilizam o dinamismo plástico, a suntuosidade e a imponência, reforçados por intensa emotividade conseguida através de sinuosidades, elementos contorcidos e espirais, produzindo diferentes efeitos perspéticos e ilusórios, tanto nas fachadas quanto no desenho das plantas e dos interiores das edificações. A intenção da criação de ilusão do movimento; combinação e abundância de linhas opostas que reforçam o efeito cénico;[1] o uso de jogos de claro-escuro pela construção de massas salientes e reentrantes (sinuosas ou lisas). Os elementos construtivos usados como elementos puramente decorativos: uso de colunas torsas, helicoidais, duplas ou triplas e escalonadas; os frontões são compostos ou interrompidos, que reforçam o movimento ascensional das fachadas; o uso de decorações naturalistas convertem-se em elementos característicos do estilo.[1]

O Barroco, no entanto, não se limitou a reavaliar novas tendências dos antigos padrões, mas criou uma nova concepção espacial, com a interpenetração das partes resultantes de uma visão espacial unitária, da qual são exemplo as igrejas San Carlo alle Quattro Fontane e Sant'Ivo alla Sapienza de Borromini, ou ainda, a Basílica de Vierzehnheiligen de Johann Balthasar Neumann.[18] Neste contexto, o historiador Bruno Zevi definiu o barroco como a libertação espacial, libertação mental das regras dos tratadistas, das convenções, da geometria elementar e da estática. É a libertação da simetria e da antitese entre o espaço e interior e o espaço exterior.[19]

O século XVII propusera, contudo, uma multiplicidade de sistemas religiosos, filosóficos e políticos; não é possível, portanto, determinar um conceito unitário da arquitetura barroca. Porém, todos os sistemas barrocos tinham em comum o facto de operarem através da "persuasão", da "participação", do "transporte", que se traduziram em termos de centralização, integração e extensão espacial.[20]

Temas da arquitectura barroca[editar | editar código-fonte]

Urbanismo[editar | editar código-fonte]

Em 1585, o papa Sisto V deu início aos trabalhos de transformação urbanística de Roma, contratando Domenico Fontana para vincular os principais edifícios religiosos da cidade por meio de grandes eixos estradais rectilíneos. O projecto, que tinha como propósito enfatizar o papel de Roma como "cidade santa", lançou premissas para uma série de transformações semelhantes em vários centros por toda a Europa.[21]

Assim, à planimetria centralizada e fechada das cidades ideais renascentistas,[22] contrapôs-se a concepção barroca da "cidade capital", mais dinâmica e aberta face os seus próprios confins, mas ao mesmo tempo um ponto de referência para todo o território. Em Roma, os pontos focais do panorama urbano foram demarcados com a utilização dos antigos obeliscos egípcios e altas cúpulas; por outro lado, em Paris, os nós do sistema rodoviário foram definidos por praças simétricas, centradas em torno da estátua do soberano.

Do ponto de vista geral, a praça barroca abandonou a sua tradicional função cívica e pública, para se tornar um meio de exaltação da ideologia política ou religiosa, como no caso do chamado "palace-royale" francês (como por exemplo, a Place Dauphine e a Place des Vosges) e da Praça de São Pedro em Roma.[23]

Igreja[editar | editar código-fonte]

Santa Susanna, Roma

Como ponto de partida da arquitectura barroca pode considerar-se a Igreja de Jesus de Roma, construída a partir de 1568 sob o projecto de Jacopo Vignola.[24] O edifício, que representa uma síntese entre a arquitectura renascentista, maneirista e barroca, satisfazia plenamente as novas exigências contra-reformistas: a disposição longitudinal da planta permitia acolher o maior número de fiéis, enquanto a planta em cruz latina com numerosos absidíolos representava um retorno à tradição do Concílio de Trento.

Por outro lado, a presença de uma cúpula sublinhava a centralidade do espaço face o fundo da nave, e presagiava a busca por uma integração entre o esquema longitudinal e o centralizado.[25] Além disso, a fachada, construída de acordo com o projeto de Giacomo della Porta, antecipava os elementos mais marcadamente barrocos, comparáveis com os alçados de Santa Susanna e Sant'Andrea della Valle.[26]

O barroco e a religião[editar | editar código-fonte]

O Concílio de Trento, o 19º concílio ecuménico, convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade de fé e a disciplina eclesiástica, realizou-se de 1545 a 1563, no contexto da reação da Igreja Católica à cisão vivida na Europa do século XVI, diante da Reforma Protestante. É conhecido como o Concílio da Contra-Reforma e foi o mais longo da história da Igreja.[2]

O Concílio emitiu numerosos decretos disciplinares, em oposição aos protestantes e estandardizou a missa, abolindo largamente as variações locais. Regulou também as obrigações dos bispos e confirmou a presença de Cristo na eucaristia.

Definiu, de forma explícita, que a arte deve estar a serviço dos ritos da Igreja, através de imagens, tidas como elementos mediadores entre a humanidade e Deus. Os protestantes iconoclastas criticam precisamente esse amplo uso de imagens sagradas. Para os teóricos da Contra-Reforma, no entanto, tais imagens constituem um meio privilegiado de doutrina cristã e da história sagrada.

O barroco e a forma[editar | editar código-fonte]

Em termos artísticos, o barroco via utilizar a escala como valor plástico de primeira grandeza. Os efeitos volumétricos são também elementos essenciais na arquitectura barroca.

Principais artistas e obras da arquitetura barroca[editar | editar código-fonte]

Os últimos edifícios romanos de Michelangelo, particularmente a Basílica de São Pedro, podem ser considerados precursores da arquitetura barroca. Seu discípulo Giacomo della Porta continuou esse trabalho em Roma, especialmente na fachada da igreja jesuíta Il Gesù, o que leva diretamente para a mais importante fachada da igreja do início do barroco, Santa Susanna (1603), de Carlo Maderno.[27]

Características distintivas de artistas da arquitetura barroca podem incluir:

Igreja de Sant'Agnese in Agone

Galeria[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c N. Pevsner, J. Fleming, H. Honour, Dizionario di architettura, Turim 1981, Barocco.
  2. a b Ana Lucia Santana. «Barroco». InfoEscola. Consultado em 2 de junho de 2013 
  3. O Concílio de Trento (1545–1563) é geralmente considerado como o início da Contra-Reforma.
  4. C. Norberg - Schulz, Architettura Barocca, Martellago (Veneza) 1998, p. 5.
  5. C. Norberg - Schulz, Architettura Barocca, cit., p. 6.
  6. a b R. De Fusco, Mille anni d'architettura in Europa, Bari 1999, p. 339.
  7. A. Hauser, Storia sociale dell'arte, Torino 1956, volume II, p. 283.
  8. a b R. De Fusco, Mille anni d'architettura in Europa, cit., p. 340.
  9. a b c N. Pevsner, Storia dell'architettura europea, Bari 1998, p. 154.
  10. R. De Fusco, Mille anni d'architettura in Europa, cit., pp. 337-338.
  11. R. De Fusco, Mille anni d'architettura in Europa, cit., p. 341.
  12. a b R. De Fusco, Mille anni d'architettura in Europa, cit., p. 338.
  13. R. De Fusco, Mille anni d'architettura in Europa, cit., p. 409.
  14. N. Pevsner, J. Fleming, H. Honour, Dizionario di architettura, cit., capítulo Rococò.
  15. Esta tese, que afirma, em rigor, uma continuidade entre o Classicismo (o Renascimento), Maneirismo e Barroco, serve apenas como terminações convencionais e sintéticas (e, portanto, imprecisas) voltadas para a realidade e complexidade dos vários projetos arquitectónicos, que foi suportada por ilustres estudiosos. Veja-se por exemplo: Arnaldo Bruschi, Borromini, manierismo spaziale oltre il barocco, 1978; Manfredo Tafuri, L'architettura del manierismo nel cinquecento europeo, 1966.
  16. a b R. De Fusco, Mille anni d'architettura in Europa, cit., p. 305.
  17. R. Wittkower, Arte e architettura in Italia, 1600-1750, Torino 2012, p. 7.
  18. B. Zevi, Saper vedere l'architettura, Turim, 2012, pp. 88-89.
  19. B. Zevi, Saper vedere l'architettura, cit., p. 86.
  20. C. Norberg - Schulz, Architettura Barocca, cit., p. 204.
  21. W. Muller, G. Vogel, Atlante d'architettura. Storia dell'architettura dalle origini all'età contemporanea. Tavole e testi, Rozzano (Milano) 1997, p. 403.
  22. W. Muller, G. Vogel, Atlante d'architettura, cit., p. 399.
  23. C. Norberg - Schulz, Architettura Barocca, cit., p. 12.
  24. C. Norberg - Schulz, Architettura Barocca, cit., p. 13.
  25. D. Gioseffi, La cupola vaticana, Trieste 1960, pp. 95-96.
  26. R. De Fusco, Mille anni d'architettura in Europa, cit., p. 351.
  27. Para a discussão da fachada de Maderno, veja Wittkower R., Art & Architecture in Italy 1600–1750, 1985 edn, p. 111.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Arquitetura barroca