Fórmula Mágica da Paz – Wikipédia, a enciclopédia livre

"Fórmula Mágica da Paz"
Canção de Racionais MCs
do álbum Sobrevivendo no Inferno
Lançamento 1997
Gênero(s) Rap
Gravadora(s) Cosa Nostra
Letra Mano Brown
Faixas de Sobrevivendo no Inferno

  1. Jorge da Capadócia
  2. 2 Genesis (Intro)
  3. Capítulo 4, Versículo 3
  4. Tô Ouvindo Alguém me Chamar
  5. Rapaz comum
  6. ....
  7. Diário de um detento
  8. Periferia é periferia (Em qualquer lugar)
  9. Qual mentira vou acreditar
  10. Mágico de Oz
  11. Fórmula mágica da paz
  12. Salve

"Fórmula Mágica da Paz" é uma canção do grupo de rap brasileiro Racionais MC's, composta por Edi Rock e Mano Brown, esta canção esta presente no álbum Sobrevivendo no Inferno, de 1997.

Histórico[editar | editar código-fonte]

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Mano Brown contou que compôs a canção entre 1996, quando morava na Cohab:

Aí o que acontece, problema de moradia na minha vida sempre foi muito constante, sempre foi o que, o problema da minha vida foi moradia.[1]

Em outro trecho da entrevista, o compositor explicou sua ideia na época era expressar sua "lealdade a uma quebrada" e a possibilidade de viver em um bairro mesmo com graves sociais problemas, mas que mais tarde passou a entender as pessoas que querem sair de um bairro carente:

Eu aprendi a entender isso. Porque existem lugares onde o problema é crônico, não vai resolver. Como você vai resolver uma situação de uma favela?[1]

Conteúdo lírico[editar | editar código-fonte]

Composta e cantada por Mano Brown, "Fórmula Mágica da Paz" narra em primeira pessoa a visão do morador de sobre a dura realidade de sua comunidade pobre,[2] anunciado logo no primeiro verso da letra ("Essa porra é um campo minado"). No segundo verso, o narrador cogita abandonar o local ("Quantas vezes eu pensei em me jogar daqui"), mas ele pondera e expressa lealdade a sua "quebrada" ("Mas, aí, minha área é tudo o que eu tenho / A minha vida é aqui e eu não preciso sair / É muito fácil fugir mas eu não vou / Não vou trair quem eu fui, quem eu sou").

O narrador esforça-se em não ficar alheio aos acontecimentos à sua volta ("Eu tento adivinhar o que você mais precisa"), se revelando preocupado com os problemas cotidianos de sua "quebrada", como a falta de moradia ("Levantar sua goma") e os conhecidos na cadeia ("Um advogado pra tirar seu mano").[3]

Outra preocupação do narrador, presente o tempo todo na narrativa, é com a morte.[2] Embora agradeça "a Deus e aos Orixás" por ter escapado dela, ele é consciente de sua dimensão numérica ("Muito velório rolou de lá pra cá"), demonstrando pesar pelas mães que perdem seus filhos ("Qual a próxima mãe que vai chorar?"), e ciente de a morte é quase o destino inevitável para "outros manos" que "foram longe demais/ Cemitério São Luís aqui jaz.[3]

Ainda que por poucos momentos, o narrador abre uma brecha para a contemplação e o lirismo,[2] uma "sublimação dos sentidos, algum sentimento de elevação ou de alegria" segundo a psicanalista Maria Rita Kehl,[4] quando ele acorda cedo "pra ver, em uma sentir a brisa de manhã e o sol nascer". Em seguida, relembra sua infância ("Quinze anos atrás eu tava ali no meio / Lembrei de quando era pequeno, eu e os cara...") ao contemplar o céu repleto de pipas, o que Kehl compara a uma "Madeleine dos pobres", onde as pipas criam um espaço de beleza que se eleva sobre o "campo minado" da miséria cotidiana.[4]

Mas logo a morte violenta reaparece na narrativa. A "fórmula mágica" proposta do narrador para escapar desse destino é recusar a violência das armas ("Descanse o seu gatilho") e buscar a paz ("Demorou, mas hoje eu posso compreender, que malandragem de verdade é viver").[5]

Base musical[editar | editar código-fonte]

KL Jay criou a base para a letra da canção a partir de "Attitudes", do grupo de R&B The Bar-Kays.

Veja também[editar | editar código-fonte]

Ligação externa[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Íntegra da entrevista de Mano Brown ao Roda Viva da TV Cultura - O Globo, 25 de setembro de 2007
  2. a b c Salles, Ecio de (2005). O Sub-reptício Sublime em Meio ao Caos (PDF). Rio de Janeiro: NP13 - Comunicação e Cultura das Minorias (XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação) 
  3. a b Araujo, Maria do Socorro Brito (2009). Nas quebradas da voz - O lugar e a mãe na crônica poética do rap (PDF). Rio de Janeiro: UFRJ. Consultado em 28 de fevereiro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 3 de março de 2016 
  4. a b Kehl, Maria Rita (1999). Radicais, Raciais, Racionais: a grande fratria do rap na periferia de São Paulo (PDF). São Paulo: Revista São Paulo em Perspectiva (Seade) 
  5. Patrocínio, Paulo Roberto Tonani do (2010). Escritos à margem: a presença de escritores de periferia na cena literária contemporânea (PDF). Rio de Janeiro: PUC-Rio 
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