Floriano de Lima Brayner – Wikipédia, a enciclopédia livre

Floriano de Lima Brayner
Floriano de Lima Brayner
Dados pessoais
Nascimento 2 de janeiro de 1897
Cidade da Parahyba
Morte 3 de fevereiro de 1983 (86 anos)
Rio de Janeiro
Vida militar
País  Brasil
Força Exército
Hierarquia Marechal
Comandos
Batalhas Segunda Guerra Mundial

Floriano de Lima Brayner GOAGCA (Cidade da Parahyba, 2 de janeiro de 1897Rio de Janeiro, 3 de fevereiro de 1983) foi um marechal brasileiro, que exerceu o cargo de Chefe de Estado-Maior da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Início da carreira militar[editar | editar código-fonte]

Nasceu na Cidade da Parahyba, atual João Pessoa, no dia 2 de janeiro de 1897, filho de João das Neves Lima Brayner e de Ana C. Brayner. Ingressou na Escola Militar do Realengo em maio de 1913. Foi declarado aspirante-a-oficial da arma de Infantaria em fevereiro de 1918 e promovido a segundo tenente em maio do mesmo ano.[1]

Em fevereiro de 1922, foi classificado no 6º Batalhão de Caçadores, sediado em Ipameri. Promovido a primeiro tenente em setembro desse ano, serviu nessa unidade até junho de 1927. Entre setembro e dezembro de 1925, serviu sob as ordens do coronel Álvaro Mariante, cujo destacamento operava no estado de Goiás na repressão à Coluna Prestes.[1]

Ainda em 1927, foi transferido para o 22º Batalhão de Caçadores, sediado na capital paraibana. Em fevereiro de 1928, ingressou na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, no Rio de Janeiro. Foi promovido a capitão em novembro desse ano e concluiu o curso em dezembro.[1]

Permaneceu como instrutor da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais até março de 1931. Em seguida, foi matriculado na Escola de Estado-Maior. Concluiu o curso em janeiro de 1934, sendo promovido a major em outubro do mesmo ano.[1]

Oficial Superior[editar | editar código-fonte]

Entre maio de 1935 e dezembro de 1936, exerceu a função de oficial de gabinete do ministro da Guerra, General João Gomes Ribeiro Filho. Em seguida, foi classificado no 32º Batalhão de Caçadores, sediado em Blumenau. Entre janeiro e maio de 1937 estagiou no Exército Francês.[1]

Foi Instrutor-Chefe do curso de Infantaria da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, de dezembro de 1937 a dezembro de 1939. Em janeiro de 1940, retornou ao 32º Batalhão de Caçadores. Foi promovido a tenente-coronel em maio de 1940. Em janeiro de 1941, foi designado para exercer funções de instrução e direção na Escola Militar do Realengo, onde permaneceu até junho de 1943.[1]

Promovido a coronel em abril de 1943, em julho foi escolhido para estagiar nos Estados Unidos. Na ocasião, já iam avançadas as negociações que visavam à participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. O Brasil deveria enviar tropas para o exterior, em íntima conexão com os norte-americanos. Assim, abriram-se cursos especiais de emergência para militares brasileiros. Lima Brayner cursou a Escola de Comando e Estado-Maior de Fort Leavenworth e estagiou no Estado-Maior da 100ª Divisão, em Fort Jackson.[1]

Na Força Expedicionária Brasileira[editar | editar código-fonte]

Em outubro de 1943, criou-se no Brasil a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), com a finalidade de participar dos combates na Europa. A 1ª DIE, que viria a se tornar conhecida como Força Expedicionária Brasileira (FEB), era comandada pelo general João Batista Mascarenhas de Morais. Brayner chefiou o Estado-Maior da FEB a partir de janeiro de 1944, e foi portanto uma das mais altas autoridades entre os oficiais brasileiros integrantes da Força. Não obstante, em diversos momentos demonstrou graves desentendimentos em relação a como eram utilizados os combatentes brasileiros.[1]

Segundo relata em suas memórias de guerra (A verdade sobre a FEB), já em abril de 1944 criticava o empirismo que caracterizava os preparativos militares e a lentidão na organização do transporte de tropas. Além disso, discordava da maneira como se negociara a cooperação militar com os Estados Unidos, que a seu ver originara sérios desentendimentos e a instalação de um grande número de tropas estrangeiras em Natal. Responsabilizava por esses fatos o chefe do Estado-Maior do Exército, general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, e o regime ditatorial de Getúlio Vargas, que impedia os trabalhos parlamentares e cerceava a discussão nacional de questões dessa relevância. Criticava ainda o acordo econômico-militar firmado com os americanos em 23 de maio de 1942, afirmando que só trouxera prejuízos ao Brasil.[1]

Em maio de 1944, Brayner passou a integrar o estado-maior especial que tinha a missão de planejar e executar o embarque da 1ª DIE, juntamente com os tenentes-coronéis Amaury Kruel, Humberto Castelo Branco e dois oficiais norte-americanos. No dia 2 de julho, partiu para Nápoles, a bordo do navio General Mann, na condição de chefe do Estado-Maior Divisionário, órgão intermediário entre o comando e os organismos de execução. Seguia na mesma viagem o 1º Escalão da FEB, comandado pelo general Mascarenhas de Morais.[1]

Em agosto de 1944, a 1ª DIE foi incorporada ao V Exército norte-americano, estacionado na Tarquinia, passando a operar como uma “grande unidade”. Na ocasião, Brayner reformulou seu estado-maior, criando serviços de destacamento: saúde, inteligência e polícia. Em outubro do mesmo ano, compareceu, juntamente com o comandante da FEB, a uma reunião de comandantes de grandes unidades, realizada em Passo di Futa. Nessa reunião, avaliou-se o estado geral das tropas norte-americanas, considerado precário, e tomaram-se diversas decisões, algumas das quais atribuíam aos combatentes brasileiros grandes responsabilidades. Segundo afirma em suas memórias, ele considerava essas tarefas muito superiores às forças e à experiência das tropas da FEB.[1]

O coronel Brayner deixou essa reunião com a convicção de que se devia organizar um grupo de oficiais do Estado-Maior da FEB para atuar junto ao comando do V Exército norte-americano. Em seu livro, relata que entrou em choque com o tenente-coronel Castello Branco, chefe da seção de operações do Estado-Maior, a quem teria acusado de obstar as iniciativas no sentido de conseguir um maior entrosamento com os oficiais norte-americanos, de maneira a abrir a discussão sobre o emprego das tropas brasileiras.[1]

Quando, no inverno de 1944/1945, as tropas brasileiras foram incumbidas de tomar a localidade de Monte Castello, ponto de defesa alemã de Castelnuovo, principal objetivo militar da região, acirraram-se as discordâncias entre sua posição e a do comando norte-americano e de seus companheiros do Estado-Maior. Das tropas estacionadas na região, apenas as brasileiras receberam encargos de combate, embora fossem as menos aparelhadas e capacitadas para enfrentar o rigor do inverno europeu. Entre 27 de novembro e 12 de dezembro de 1944, quatro ofensivas foram rechaçadas pelos alemães, provocando um total de 350 mortes e ferimentos em centenas de combatentes da FEB.[1]

Em janeiro de 1945, Brayner viajou ao Brasil em missão oficial junto ao governo, precisando fazer declarações para tranquilizar a opinião pública que, apesar da censura, se alarmava com notícias que falavam de pesadas baixas entre os combatentes brasileiros. Em visita ao Estado-Maior do Exército, concluiu que reinava ali total desinformação a respeito do teatro de operações na Itália.[1]

Após a tomada de Monte Castello pela FEB em 21 de fevereiro de 1945, Brayner concluiu, em face do alto preço pago em vidas e das condições de combate, que a imposição feita pelos norte-americanos às tropas brasileiras contrariara todas as doutrinas de guerra, com características de primarismo e desumanidade por parte do comando do V Exército.[1]

No dia 19 de abril, Brayner foi encarregado pelo general Mascarenhas de Morais de negociar em Collecchio, no vale do rio Pó, a rendição incondicional de 15 mil soldados alemães, proposta por 30 de seus oficiais. No dia seguinte, praticamente todos os prisioneiros e equipamentos bélicos já estavam recolhidos. Encerrada a campanha militar do V Exército e da FEB em 2 de maio, as tropas brasileiras estacionaram em Francolise, aguardando o retorno ao Brasil, onde já ia avançado o processo de reconstitucionalização, reforçado pela derrota dos exércitos fascistas.[1]

Com a iminência da volta dos combatentes, criou-se um destacamento precursor, incumbido de preparar, no Brasil, o retorno das tropas. Iniciava-se assim o desmembramento do estado-maior divisionário, a que Brayner se opôs por considerar a medida prematura e por entendê-la como uma manobra do governo para esvaziar a FEB. No seu entender, essa manobra se confirmou quando a chegada ao Rio de Janeiro do general Mascarenhas de Morais foi transferida à última hora do Aeroporto Santos Dumont para a Base Aérea de Santa Cruz, onde se poderiam evitar manifestações populares.[1]

Após a Guerra[editar | editar código-fonte]

Em 20 de outubro de 1945, Brayner foi incumbido por Góis Monteiro de regressar à Itália para assumir o posto de adido militar à embaixada brasileira, função que exerceu a partir do dia 27 de novembro. Na ocasião, apenas ele não foi servir no Estado-Maior do Exército, ao contrário dos demais chefes de seção do Estado-Maior da FEB.[1]

Em julho de 1946, foi designado para viajar ao Peru, representando o Brasil na posse do presidente José Luis Bustamante y Rivero.[1]

Oficial General[editar | editar código-fonte]

Em janeiro de 1947, foi promovido a general de brigada. Em setembro desse ano, foi nomeado primeiro-subchefe do Estado-Maior do Exército, cargo que ocuparia até fevereiro de 1949. Nesse ínterim, em janeiro de 1948, integrou a Comissão Militar Brasil-EUA. Em 1949, representou o Brasil na conferência de Genebra, para proteção às vítimas e aos prisioneiros de guerra.[1]

Em fevereiro de 1952, foi designado para a chefia da Secretaria Geral de Administração do Exército. Em setembro desse ano, foi promovido a general de divisão.[1]

Comandou a 2.ª Divisão de Infantaria, em São Paulo, entre 15 de setembro de 1953 e 26 de abril de 1954.[3]

No dia 11 de novembro de 1955, colocou-se contra o golpe militar liderado pelo general Henrique Lott, movimento que segundo seus articuladores visava neutralizar uma conspiração em preparo e assegurar a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek. O movimento provocou o impedimento dos presidentes da República Carlos Luz, em exercício, e João Café Filho, licenciado, empossando na chefia da nação o vice-presidente do Senado, Nereu Ramos. Apesar disso, Brayner foi nomeado chefe do Gabinete Militar do novo presidente, permanecendo no cargo de 11 de novembro de 1955 a 31 de janeiro de 1956.[1]

Entre 23 de agosto de 1956 e 16 de julho de 1958 comandou a 1ª Região Militar, no Rio de Janeiro.[4]

Também prestou assessoria militar à Delegação Permanente do Brasil junto à Organização das Nações Unidas, de julho de 1956 a março de 1959. Foi promovido a general de exército em julho de 1958.[1]

Comandou o III Exército, de 23 de agosto a 23 de novembro de 1958.[5]

A 17 de Maio de 1958 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Avis e a 25 de Março de 1968 foi elevado a Grã-Cruz da mesma Ordem de Portugal.[6]

Em seguida, foi Chefe do Estado-Maior do Exército, de 28 de novembro de 1958 a 14 de abril de 1961.[7]

Nomeado Ministro do Superior Tribunal Militar, exerceu esse cargo entre 20 de junho de 1961 a 2 de janeiro de 1967.[8]

Ao deixar o STM por ter atingido o limite de idade para o cargo, Brayner impetrou mandado de segurança contra o decreto do dia 3 de janeiro de 1967, assinado pelo presidente da República, Humberto Castello Branco, que o reformara no posto de general de exército, quando deveria ascender ao posto de marechal. A ação teve êxito e Brayner recebeu a promoção, contada a partir do decreto de reforma.[1]

Escreveu os seguintes livros:

  • A verdade sobre a FEB, memórias de um chefe de estado-maior na campanha da Itália (1943-1945). Civilização Brasileira, 1968.
  • Luzes sobre memórias. Civilização Brasileira, 1973.
  • Recordando os Bravos. Civilização Brasileira, 1977.

Faleceu no Rio de Janeiro no dia 3 de fevereiro de 1983.[1]


Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z «Biografia de Floriano de Lima Brayner no site do CPDOC/FGV». Consultado em 30 de novembro de 2021 
  2. «Biografia em projeto de lei da Câmara Municipal de São Paulo» (PDF). Consultado em 14 de julho de 2013. Arquivado do original (PDF) em 13 de dezembro de 2014 
  3. «Galeria de Comandantes da 2ª Divisão de Exército». Consultado em 1 de outubro de 2020 
  4. «Galeria de Comandantes da 1ª Região Militar». Consultado em 12 de dezembro de 2014 
  5. «Ex-Comandantes do CMS». Consultado em 27 de janeiro de 2021 
  6. «Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Floriano de Lima Brayner". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 2 de abril de 2016 
  7. «Ex-Chefes do EME». Consultado em 27 de janeiro de 2021 
  8. «Ministros do STM desde 1808; Ministro 226» (PDF). Consultado em 30 de novembro de 2021 


Precedido por
---

1º Comandante da 2.ª Divisão de Infantaria

1953 — 1954
Sucedido por
Tasso de Oliveira Tinoco
Precedido por
José Bina Machado

16º Chefe do Gabinete Militar da Presidência da República

1955 — 1956
Sucedido por
Nélson de Melo
Precedido por
Antônio José de Lima Câmara

35º Comandante da 1ª RM

1956 — 1958
Sucedido por
João V. de Amorim e Mello
Precedido por
Jaime de Almeida

13º Comandante do III Exército

1958
Sucedido por
Osvino Ferreira Alves
Precedido por
Zeno Estillac Leal

30º Chefe do Estado-Maior do Exército

1958 - 1961
Sucedido por
Emílio Rodrigues Ribas Júnior