Husni al-Za'im – Wikipédia, a enciclopédia livre

Husni al-Za'im
حسني الزعيم
Presidente da Síria.º [[Presidente da Síria]]
Período 11 de abril de 1949
a 14 de agosto de 1949
Antecessor(a) Shukri al-Quwatli
Sucessor(a) Hashim al-Atassi
23º Primeiro-Ministro da Síria
Período 17 de abril de 1949
a 26 de junho de 1949
Antecessor(a) Khalid al-Azm
Sucessor(a) Muhsin al-Barazi
Dados pessoais
Nascimento 11 de maio de 1897
Império Otomano Alepo, vilaiete de Alepo, Império Otomano
Morte 14 de agosto de 1949
Damasco, Síria
Partido Partido Social Nacionalista Sírio
Religião Islã
Profissão Estadista
Soldado
Serviço militar
Lealdade
Serviço/ramo Império Otomano Exército Otomano
França Exército Francês
Exército Árabe Sírio
Anos de serviço 1917–1949
Graduação General de Brigada
Conflitos Guerra árabe-israelense de 1948

Husni al-Za'im (em árabe: حسني الزعيم Ḥusnī az-Za'īm; 11 de maio de 1897 - 14 de agosto de 1949) foi um militar e político sírio. Husni al-Za'im, cuja família é de ascendência curda, fora um oficial do exército otomano.[1] Depois que a França instituiu o seu mandato colonial sobre a Síria, após a Primeira Guerra Mundial, se tornou um oficial do exército francês. Após a independência da Síria tornou-se Chefe do Estado-Maior, e conduziu o exército sírio em uma guerra com o exército israelense na guerra árabe-israelense de 1948. A derrota das forças da Liga Árabe naquela guerra abalou a Síria e minou a confiança na caótica democracia parlamentar do país, permitindo-lhe tomar o poder em 1949. No entanto, seu governo como chefe de estado seria breve: ele foi executado em poucos meses.

Golpe de 1949[editar | editar código-fonte]

Em 11 de abril de 1949, al-Za'im tomou o poder em um golpe de Estado. O golpe, de acordo com registros desclassificados e declarações de ex-agentes da CIA,[2] foi patrocinado pelos Estados Unidos via CIA.[3][4] A maioria das evidências atualmente disponíveis sugere que a decisão de iniciar um golpe foi de Za'im sozinho, mas Za'im se beneficiou de algum grau de assistência americana no planejamento da operação.[5] Quatro dias após o golpe que derrubou o regime democrático, o governo sírio ratificou o controverso acordo sobre o oleoduto Trans-Arabian (Tapline).[6][7]

O presidente da Síria, Shukri al-Kuwatli, foi brevemente preso, mas, em seguida, liberado para exílio no Egito. Al-Za'im também encarcerou muitos líderes políticos, como Munir al-Ajlani, a quem acusou de conspirar para derrubar a república. O golpe foi realizado com o apoio discreto da embaixada estadunidense, e, possivelmente, auxiliado pelo Partido Social Nacionalista Sírio, embora o próprio al-Za'im não seja conhecido por ter sido membro. Entre os oficiais que prestaram assistência na tomada de poder de al-Za'im estavam Adib al-Shishakli e Sami al-Hinnawi, ambos os quais se tornariam mais tarde líderes militares do país.

A tomada de poder de Al-Za'im, o primeiro golpe militar na história da Síria, teria efeitos duradouros, pois destruiu o frágil e falho governo democrático do país e desencadeou uma série de revoltas militares cada vez mais violentas. Mais dois golpes seguiriam em agosto e dezembro de 1949.

Regime[editar | editar código-fonte]

Cúpula Sírio-Libanesa de julho de 1949. A partir da esquerda: Muhsin al-Barazi, Husni az-Za'im, Riad as-Solh e Béchara el-Khoury.

Embora seu governo foi relativamente ameno, sem execuções de opositores políticos e com poucas prisões de dissidentes, al-Za'im rapidamente fez inimigos. Suas políticas seculares e propostas para a emancipação das mulheres concedendo-lhes o voto e sugerindo que elas deveriam abandonar a prática islâmica do uso do véu, criou uma celeuma entre os líderes religiosos muçulmanos (o sufrágio feminino só foi alcançado durante a terceira administração civil de Hashim al-Atassi, um forte opositor do regime militar). Ele é creditado por dar apoio ao direito das mulheres de votar e concorrer a cargos públicos na Síria. A lei vinha sendo debatida no Parlamento sírio desde 1920 e nenhum líder ousou apoiá-la, exceto Zaim. Al-Za'im trabalhou duro para abolir o uso do fez, alegando que era um acessório de cabeça antiquado retirado dos tempos do Império Otomano.

Durante os 137 dias de seu governo na Síria, al-Za'im não executou ninguém. Ele tinha punições inventivas para aqueles que o desobedeceram, no entanto. Quando a qualidade do pão caiu para níveis inaceitáveis, Zaim ordenou que todos os padeiros andassem sobre o cascalho, descalços, até que o sangue escorresse de seus pés.[8]

O aumento dos impostos também prejudicou os empresários, ​​e os nacionalistas árabes ainda fumegavam sobre sua assinatura de um cessar-fogo com Israel, bem como seus acordos com empresas petrolíferas dos Estados Unidos para a construção do Gasoduto Trans-Arábico. Ele fez uma proposta de paz para Israel oferecendo instalar 300 mil refugiados palestinos na Síria, em troca de modificações de fronteira ao longo da linha de cessar-fogo e metade do Lago de Tiberíades de Israel.[9] O assentamento dos refugiados foi condicionado à assistência externa suficiente para a economia síria. A proposta foi atendida de forma muito lenta por Tel-Aviv e não foi tratada com seriedade.[10]

Sem apoio popular, al-Za'im foi derrubado depois de apenas quatro meses e meio por seus colegas, Adib al-Shishakli e Sami al-Hinnawi. Como al-Hinnawi assumiu o poder como líder de uma junta militar, Husni al-Za'im foi rapidamente enviado à prisão de Mezze em Damasco, e executado junto com o primeiro-ministro Muhsin al-Barazi.

Família[editar | editar código-fonte]

A esposa de Husni al-Za'im, Nouran, foi a primeira-dama da Síria de abril a agosto de 1949. O casamento ocorreu em 1947, dois anos antes de Husni al-Za'im se tornar presidente da república. Para agradar sua jovem esposa, Zaim pediu a sua cunhada Kariman, de 11 anos, que morasse com eles em Damasco. Ele também a tratou como uma irmã e a mandou para o Lycée Laïc, uma das melhores escolas preparatórias da cidade. Outra irmã, Orfan, os visitava com frequência e adquiriu o hábito de brincar com um guarda, Abdel Hamid Sarraj (o chefe de segurança do gabinete do presidente que se tornou chefe do departamento de inteligência e ministro do interior durante os anos de união com o Egito).[8]

Durante a incidência da prisão de al-Za'im, e quando os guardas vieram prendê-lo, Zaim se vestiu e se despediu de sua esposa grávida. "Relaxe", ele pediu a ela, "em breve estarei de volta para receber nosso primeiro bebê juntos!" Niveen (sua filha) disse: "Minha mãe e tia me disseram que o sofá em que estavam sentados estava crivado de balas. Sarraj sabia de antemão que um ataque estava chegando e disse-lhes para subirem para protegê-los do perigo." Menos de uma semana antes do golpe - que levou à execução por pelotão de fuzilamento de Za'im e seu primeiro-ministro Muhsen al-Barazi - os primos de Nouran o procuraram, dizendo que haviam confirmado informações de inteligência, dizendo que Sami al-Hinnawi (seu camarada da guerra de 1948) planejava matá-lo. Za'im convocou Hinnawi e perguntou diretamente: "Sami, meus cunhados estão me dizendo que você quer me matar." Hinnawi respondeu: "Impossível. Como posso matar meu líder e amigo?" Depois que o presidente foi preso em 14 de agosto, Nouran e sua irmã foram mantidas em prisão domiciliar por uma semana inteira. "Nenhuma comida foi trazida para a casa", disse Niveen. Um guarda senegalês tentou ajudá-los passando sua própria comida pela janela.[8]

Referências

  1. Rejwan, Nissim (2008). Arabs in the Mirror: Images and self-images from pre-Islamic to modern times (em inglês) 1ª ed. Austin: University of Texas Press. p. 152. ISBN 978-0292717275. OCLC 234192357 
  2. Wilford, Hugh (2013). America's Great Game: The CIA's Secret Arabists and the Making of the Modern Middle East (em inglês). Nova York: Basic Books. p. 94, 101. ISBN 9780465019656. OCLC 855507173 
  3. Little, Douglas (1990). «Cold War and Covert Action: The United States and Syria, 1945-1958». Middle East Journal (em inglês). Vol. 44 (Nº 1). JSTOR 4328056. Consultado em 20 de janeiro de 2023 
  4. Gerolymatos, André (2010). Castles Made of Sand: A Century of Anglo-American Espionage and Intervention in the Middle East (em inglês) 1ª ed. Nova York: Thomas Dunne Books. ISBN 978-0312355692. OCLC 606785225. Miles Copeland, ex-agente da CIA, descreveu como ele e Stephen Meade apoiaram Zaim, e fontes de arquivos americanos confirmam que foi durante esse período que Meade estabeleceu ligações com elementos extremistas de direita do exército sírio, que acabaram realizando o golpe. 
  5. Wilford, Hugh (2013). America's Great Game: The CIA's Secret Arabists and the Making of the Modern Middle East (em inglês). Nova York: Basic Books. p. 100–103, 107–108. ISBN 9780465019656. OCLC 855507173 
  6. Gendzier, Irene L. (2006). Notes from the Minefield: United States intervention in Lebanon and the Middle East, 1945-1958 (em inglês). Nova York: Columbia University Press. p. 98. ISBN 978-0231140119. OCLC 144526680. Investigações recentes indicam que os agentes da CIA, Miles Copeland e Stephen Meade, estiveram diretamente envolvidos no golpe no qual o coronel sírio Husni Za'im tomou o poder. Segundo o então ex-agente da CIA Wilbur Eveland, o golpe foi executado para obter a ratificação síria do TAPLINE. 
  7. Barr, James (2018). Lords of the Desert: Britain's struggle with America to dominate the Middle East (em inglês). Londres: Simon & Schuster. p. 102. ISBN 9781471139796. OCLC 1050332930 
  8. a b c Sudki, Farah (Novembro de 2008). «The story of Nouran and Husni al-Za'im». Damasco, Síria. Forward Magazine (em inglês) 
  9. Sosland, Jeffrey K. (2007). Cooperating Rivals: The riparian politics of the Jordan River Basin (em inglês). Albany: State University of New York Press. p. 32. ISBN 978-0791472026. OCLC 76073899 
  10. Berger, Elmer (1993). Peace for Palestine: First lost opportunity (em inglês). Gainesville, Fla.: University Press of Florida. p. 264. ISBN 978-0813012070. OCLC 44954554 


Precedido por
Shukri al-Kuwatli
Presidente da Síria
1949 (3 meses)
Sucedido por
Hashim al-Atassi (regime militar)