Jacques Le Balleur – Wikipédia, a enciclopédia livre

Jacques Le Balleur, frequentemente confundido com João de Bolés,[1] foi um ferreiro huguenote,[2] nascido na França em data incerta e educado em Genebra.[3] Em 1557 foi enviado por Jean Calvino, junto com outros cinco missionários, para ministrar os franceses da expedição de Villegaignon ao Brasil, a França Antártica.

Ministro calvinista, participou do primeiro culto evangélico do Brasil em 10 de Março de 1557; no dia 21 celebraria a primeira Santa Ceia. Este espírito de tolerância não durou muito. Em virtude de questões teológicas, Villegaignon passou a perseguir os colonos huguenotes, incitado pelo ex-frade dominicano Jean de Cointac.

Com a passagem de um navio que seguiria para França (o "Les Jacques"), os colonos expulsos resolveram retornar seu país. "Mesmo não se opondo ao embarque, Villegaignon enviou instruções secretas para serem entregues ao primeiro juiz em França, dizendo para que se executassem os huguenotes como traidores e hereges." [4] No entanto estas instruções acabaram não servindo diretamente para alguns dos colonos, pois, ao perceber o risco de naufrágio, cinco deles – Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon e Jacques Le Balleur – voltaram à terra firme.[5] Villegaignon os aprisionou imediatamente e exigiu uma resposta, por escrito, em doze horas, a uma série de questionamentos teológicos. Os huguenotes presos ofereceram a resposta por meio da redação de um documento conhecido como Confissão de Fé da Guanabara.[6]

Como os colonos reformados recusaram-se a abjurar suas convicções religiosas, Villegaignon os condenou a morte. "Bourdel, Verneuil e Bourdon foram estrangulados e lançados ao mar. André Lafon, sendo o único alfaiate da colônia, teve a vida poupada sob a condição de que não divulgasse as suas ideias religiosas".[5] O único que conseguiu fugir foi Jacques Le Balleur e vadeou até São Vicente, sendo poupado de ser devorado pelos índios por estar com um livro, que os Tupinambás pensaram ser a tão esperada e prometida Bíblia, que era tida como um amuleto. Tratava-se de uma peça de Rabelais.

Em São Vicente, Le Balleur pregou a fé cristã a partir do ponto de vista calvinista, levando os jesuítas a forçarem a Câmara a prendê-lo em 1559. Foi torturado para dar informações estratégicas do Forte Coligny. Foi levado a Salvador, onde Mem de Sá concordou em condená-lo por ser seguidor da fé protestante, e onde foi executado em abril de 1567, na presença do padre José de Anchieta.[2]

Referências

  1. VIOTTI, Hélio Abranches (2008). Anchieta, o apóstolo do Brasil. pág.129) "Na inexplicável confusão entre João de Bolés e Jacques LeBalleur, chega Álvaro Reis ao ponto de criar uma hipótese desnatural e absolutamente desnecessária, a de que o nome completo do mártir seria Jean Jacques LeBalleur!". [S.l.]: Edições Loyola. pp. (Digitalização parcial por Google livros) 340. ISBN 8515012316 
  2. a b ROCHA POMBO, José Francisco da. História do Brasil. Rio de Janeiro: W. M. Jackson (1935), vol. 3, p. 514. Cf. REIS, Álvaro. O martyr Le Balleur. Rio de Janeiro, s/ed (1917); FERREIRA, Franklin. A presença dos reformados franceses no Brasil colonial, página 15: "Jacques Le Balleur foi poupado, pois era ferreiro. Isto praticamente marcou o fim da colônia francesa, e encerrou a tragédia da Guanabara." (o grifo não está no texto original)
    Nota de rodapé 54: "Após conseguir viver escondido, Jacques Le Balleur foi preso pelos portugueses nas cercanias de Bertioga. Ele foi enviado para Salvador, na Bahia, que era a sede do governo colonial, onde foi julgado pelo crime de “invasão” e “heresia”, isto em 1559. Em abril de 1567 foi queimado, sendo auxiliar do carrasco, José de Anchieta, para consternação dos católicos." (o grifo não está no texto original).
  3. «Primórdios do Protestantismo em São Paulo». Mackenzie. Consultado em 4 de novembro de 2013 
  4. Apud Ferreira, A presença dos reformadores franceses no Brasil Colonial, p. 10.
  5. a b Matos, A "França Antártica".
  6. Transcrita em Crespin, A tragédia da Guanabara pp. 65-71.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • LABORIE, Jean-Claude. "Le huguenot au Brèsil: à travers les documents portugais (1560 - 1584)". In: Revue de l'Histoire du Protestantisme Français, novembre-decembre
  • LESSA, Vicente Themudo. Anchieta e o supplicio de Balleur. 1934
  • REIS, Álvaro. O martyr Le Balleur. Rio de Janeiro, 1917.
  • RODRIGUES, Pe. Pedro. Codex da vida de José d'Anchieta. 1607. Biblioteca Nacional de Lisboa.


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