Voo Cruzeiro do Sul 144 (1963) – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para o outro voo Cruzeiro do Sul 144 que caiu em 1970, veja Voo Cruzeiro do Sul 114 (1970).
Voo Cruzeiro do Sul 144
Acidente aéreo
Voo Cruzeiro do Sul 144 (1963)
Convair 340 da Lufthansa, estacionado no Aeroporto de Londres Heathrow em 1955, similar ao avião destruído.
Sumário
Data 3 de maio de 1963
Causa Falha de motores
Local Brasil Planalto Paulista,São Paulo
Origem Brasil Aeroporto de Congonhas, São Paulo
Destino Brasil Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro
Passageiros 44
Tripulantes 6
Mortos 37
Feridos 13
Sobreviventes 13
Aeronave
Modelo Estados Unidos Convair 340
Operador Brasil Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul
Prefixo PP-CDW, apelidado Sirius
Primeiro voo 1954

O voo Cruzeiro do Sul 144 foi uma rota comercial doméstica, operada pela companhia Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, partindo de Belo Horizonte com destino ao Rio de Janeiro, com escalas em Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo. Na noite de 3 de maio de 1963, a aeronave que realizava essa rota, um Convair 340 prefixo PP-CDW, decolou do Aeroporto de Congonhas em São Paulo às 19h30, com destino ao Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro.[1] Logo depois da decolagem, a tripulação foi alertada por um aviso sonoro de incêndio em um dos motores e tentou retornar ao aeroporto. Durante a manobra, a aeronave perdeu altitude e caiu, causando a morte de 37 ocupantes e ferimentos em outros treze.[2]

Aeronave[editar | editar código-fonte]

Em 1946, a Cruzeiro do Sul ganharia do governo brasileiro o direito de explorar voos entre o Brasil, Porto Rico e os Estados Unidos. Para atender essas rotas, a empresa adquiriu 3 aeronaves Douglas DC-4. Porém a Cruzeiro exigiria subvenção do governo brasileiro para operar essas rotas, o que não seria aceito pelas autoridades, de forma que a empresa desistiria de operar as mesmas. Com isso, os DC-4 operariam brevemente em rotas nacionais até serem devolvidos em 1952.[3] Para substituí-los, a Cruzeiro do Sul encomendaria entre 1954 e 1960 19 aeronaves Convair, sendo 10 CV240 usados (adquiridos da American Airlines), 4 CV340 e 5 CV440. As primeiras aeronaves seriam os CV340, com o primeiro deles recebido em março de 1954. Essa aeronave seria fabricada em 1954, tendo recebido o número de série 159 e seria registrada como PP-CDW. Nessa época a Cruzeiro do Sul batizaria seus aviões com nomes de estelas. As aeronaves Convair 240/340/440 prestariam serviços na Cruzeiro do Sul até 1967 quando seriam substituídas pelos NAMC YS-11.[4] Das 19 aeronaves operadas, 6 seriam perdidas em acidentes. Isso contribuiria para a substituição precoce dos Convair.

Aeronave Prefixo[5] Modelo Observações
Regulus[6] PP-CET CV-240 Retirado de serviço em 1967
Aldebaran[7] PP-CEU CV-240 Retirado de serviço em 1967
Betelgeuse.[8] PP-CEV CV-240 Destruído em S. Paulo em 15/1/63[9]
Polaris PP-CEW CV-240 Retirado de serviço em 1967
Não identificado PP-CEY CV-240 Retirado de serviço em 1967
Dube.[8] PP-CEZ CV-240 Destruído em Vitória em 9/5/62
Rígel[10] PP-CFA CV-240 Retirado de serviço em 1967
Não identificado PP-CFB CV-240 Retirado de serviço em 1967
Não identificado PP-CFC CV-240 Retirado de serviço em 1967
Alderamin PP-CFD CV-240 Acidentado, sem vítimas, no Rio de Janeiro em 20/5/1965,tendo sofrido perda total.[11]
Sirius.[8] PP-CDW CV 340 Destruído em S. Paulo em 3/5/63
Canopus PP-CDY CV-340 Acidentado, sem vítimas, em Parnaíba em 22/1/1963, tendo sofrido perda total.
Vega PP-CDZ CV-340 Retirado de serviço em 1967
Antares[12] PP-CEA CV-340 Retirado de serviço em 1967
Castor PP-CEN CV-440 Retirado de serviço em 1967
Polúx PP-CEO CV-440 Retirado de serviço em 1967
Alcyon.[8] PP-CEP CV-440 Destruído em Curitiba em 16/6/58
Procyon PP-CER CV-440 Retirado de serviço em 1967
Altair[13] PP-CFE CV-440 Substituiria o Alcyon. Retirado de serviço em 1967

Acidente[editar | editar código-fonte]

Após um atraso de quarenta minutos, causado pela substituição por conta de defeito, da aeronave original que realizaria o voo das 19 horas da Ponte Aérea,[2] a aeronave decolaria do Aeroporto de Congonhas somente às 19h40 min. Logo após a decolagem, soaria na cabine os alarmes de incêndio e o de superaquecimento do motor nº 2 (lado direito). O piloto declarou emergência e iniciou os procedimentos para pouso. Para combater o grave problema, a tripulação optou por desligar e embandeirar o motor nº 2 e acionar os extintores de emergência para extinguir o fogo desse motor. Durante breve contato com a torre de controle de Congonhas, a tripulação solicitou confirmação visual de incêndio no motor nº 2. Ao travar contato visual com a aeronave, o controlador de voo não encontrou sinais de fogo nos motores da aeronave e transmitiu a informação para a tripulação do Sirius. Apesar de não ter sido detectado fogo no motor, a campainha do alarme de incêndio ainda soava. Com isso, a tripulação julgou se tratar de um alarme falso, porém manteve a decisão de realizar um pouso de emergência.[8]

Durante os procedimentos de pouso, ocorreu uma tentativa mal sucedida de religamento do motor nº 2 e a hélice desse motor desligado giraria em falso, causando grande arrasto, prejudicando a estabilidade da aeronave. Após iniciar uma curva para se posicionar na direção da pista, a aeronave perdeu sustentação e caiu sobre uma residência localizada no número 2356 da Avenida Piassanguaba, próxima ao aeroporto, incendiando-se em seguida. Apesar do forte impacto com o solo, doze passageiros (entre eles o ator Renato Consorte) e um tripulante sobreviveriam ao acidente.[8] Entre os mortos estava o deputado Miguel Bahury, responsável por presidir uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara dos Deputados, cujo intuito era investigar as causas do grande número de acidentes aéreos ocorridos no país naquela época.[14] A criação dessa comissão seria motivada pelo acidente com outro Convair 340 durante o Voo REAL Transportes Aéreos 435, no qual a esposa do deputado Bahury perderia a vida.

Consequências[editar | editar código-fonte]

Ainda no dia 3, o voo das 23 horas da Ponte Aérea sofreria um incidente, com a explosão em terra de um motor de outro Convair 340 da Cruzeiro, fazendo muitos passageiros desistirem de voar naquele momento. O acidente evidenciaria a precariedade das operações de voo no Brasil, principalmente na manutenção de aeronaves.[2]

Durante as investigações, foi constatado que o motor nº 2 do Sirius havia apresentado problemas durante outro voo com destino a Porto Alegre, tendo sido reparado, testado e aprovado por equipes de manutenção da Cruzeiro do Sul naquele aeroporto. Posteriormente seria constatado que o alarme de incêndio era, na verdade, um alarme falso (enquanto que a ocorrência real era um superaquecimento do motor nº 2). Por conta do alarme falso, a tripulação acionou os extintores do motor n° 2. Durante a tentativa de religá-lo, os tripulantes se esqueceriam de desligar os extintores, que quando acionados desligavam automaticamente o fluxo de combustível e o comando elétrico do motor. Esse erro poderia ter sido cometido pelos pilotos da Cruzeiro pelo fato de os mesmos estarem familiarizados com as cabines dos Convair CV240 e CV440, que eram idênticas, ao contrário das cabines dos Convair CV-340. Falhas técnicas em aeronaves eram comuns nessa época da aviação nacional e evidenciariam a falta de uma manutenção eficiente.[8]

A Cruzeiro do Sul operava dezenove aeronaves Convair, tendo perdido seis em acidentes. Esses acidentes contribuiriam para a aposentadoria precoce dessas aeronaves na empresa.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • SILVA, Carlos Ari Cesar Germano da; O rastro da bruxa: história da aviação comercial brasileira no século XX através dos seus acidentes; Porto Alegre Editora EDIPUCRS, 2008, pp 190–193.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Voo TAM 3054

Referências

  1. «Incendiou-se o avião com 49 pessoa a bordo». A Noite. Memória BN. 4 de maio de 1963 
  2. a b c Jornal do Brasil (4 de maio de 1963). «Avião caiu em São Paulo: 33 mortos e 16 feridos». Ano LXXIII, número 102, paginas 1 e 4. Consultado em 13 de agosto de 2012 
  3. «A História». Cruzeiro Virtual. Consultado em 13 de agosto de 2012 
  4. «Frota Cruzeiro do Sul». Aviação Comercial. Consultado em 13 de agosto de 2012 
  5. «Syndicato Condor». Postcards of former Airlines. Consultado em 21 de julho de 2012 
  6. «Convair 240 Regulus». AirlineHobby.com. Consultado em 13 de agosto de 2012 
  7. Vito Cedrini (10 de setembro de 1966). «Convair 240 Aldebaran». Airliners.net. Consultado em 13 de agosto de 2012 
  8. a b c d e f g SILVA, Carlos Ari Cesar Germano da (2008). O rastro da bruxa: história da aviação comercial brasileira no século XX através dos seus acidentes. [S.l.]: Editora EDIPUCRS, Porto Alegre. pp. 190–193. ISBN 978-85-7430-760-2 
  9. Gianfranco Beting. «Acidentes Gerais - Convair 240». Jetsite. Consultado em 13 de agosto de 2012 
  10. Vito Cedrini (13 de maio de 1965). «Convair 240 Rígel». Airliners.net. Consultado em 13 de agosto de 2012 
  11. Gianfranco Beting. «Acidentes Gerais - Convair 240». Jetsite. Consultado em 13 de agosto de 2012 
  12. Mel Lawrence (março de 1962). «Convair 340 Antares». Airliners.net. Consultado em 13 de agosto de 2012 
  13. Helio Bastos Salmon (novembro de 1966). «Convair 440 Altair». Airliners.net. Consultado em 13 de agosto de 2012 
  14. Última Hora (4 de maio de 1963). «Deputado M. Bahury entre os 30 mortos do avião em chamas». Ano XII, Edição nº 4039, página 1 - Arquivo Público do Estado de S. Paulo (Acervo Última Hora). Consultado em 13 de agosto de 2012 
  15. Folha de S. Paulo (5 de maio de 1963). «Combatia insegurança em voo;morreu no Convair». Ano XLII, número 12376, página 6. Consultado em 13 de agosto de 2012 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]