Romance – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para outros significados, veja Romance (desambiguação).

Um romance é uma obra extensa de ficção narrativa geralmente escrita em prosa e publicada como livro.[1] Segundo Margaret Doody, o romance tem "uma história contínua e abrangente de cerca de dois mil anos", com suas origens no romance grego e romano antigo, no romance de cavalaria medieval e na tradição da novela renascentista italiana.[2] A forma do romance antigo foi revivida pelo romantismo, nos romances históricos de Walter Scott e no romance gótico.[3]

O romance moderno

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Herdeiro da epopeia, o romance moderno é tipicamente um gênero narrativo, assim como a novela e o conto.

A distinção entre romance e novela não é clara, mas costuma-se definir que no romance há um paralelo de várias ações, enquanto na novela há uma concatenação de ações individualizadas. No romance, uma personagem pode surgir a meio da história e desaparecer depois de cumprir sua função. Outra distinção importante é que no romance o final é um enfraquecimento de uma combinação e ligação de elementos heterogêneos, não o clímax.[4]

Há de notar que o romance tornou-se gênero preferencial a partir do Romantismo, por isso ficando o termo romance associado a este. Entretanto o Realismo teria no romance sua base fundamental, pois apenas este permitia a minúcia descritiva, que exporia os problemas sociais.

Dom Quixote de La Mancha, escrito no início do século XVII, é geralmente considerado como o precursor do romance moderno.[5] Na tentativa de parodiar o romance de cavalaria, Miguel de Cervantes não só escreveu um dos grandes clássicos da literatura, como ajudou a firmar o gênero que viria substituir a epopeia, a qual, já agonizante, desapareceria no século XVIII, com o advento da revolução industrial. O romance é, segundo Hegel, a epopeia burguesa moderna.[6]

O romance chega à modernidade com Balzac e à plenitude com Proust, Joyce e Faulkner. A partir destes últimos a ordem cronológica é desfeita: passado, presente e futuro são fundidos.

A partir de meados do século XX, intensifica-se a discussão em torno de uma provável crise do romance, sua possível morte. Essa morte teria ocorrido por volta dos anos 1950. Na França Alain Robbe-Grillet, Claude Simon, Robert Pinget, Nathalie Sarraute, Marguerite Duras, Michel Butor, entre outros, rejeitam o conceito do romance cuja função é contar uma história e delinear personagens conforme as convenções realistas do século XIX. Esses autores transgridem também outros valores do romance tradicional, tais como tempo, espaço, ação, repudiando a noção de verossimilhança. Sartre diz que, ao destruírem o romance, esses escritores estariam, na verdade, renovando-o, influenciados principalmente pelo cinema. Trata-se do nouveau roman ("novo romance"), movimento que coloca em discussão as bases tradicionais da literatura.

Em 1936, os Estados Unidos viviam a época clássica do cinema falado. Antes de ser influenciado pelo cinema, o romance influenciou-o, a ponto de, nas décadas de 1930 e 1940, a indústria cinematográfica ter privilegiado os filmes narrativos e grandes romancistas terem sido contratados pelos estúdios para escreverem roteiros. Mesmo assim em 1936 Scott Fitzgerald escrevia: "vi que o romance, que na minha maturidade era o meio mais forte e flexível de transmitir pensamento e emoção de um ser humano para outro, estava ficando subordinado a uma arte mecânica... só tinha condições de refletir os pensamentos mais batidos, as emoções mais óbvias. Era uma arte em que as palavras eram subordinadas às imagens..." Fitzgerald foi o primeiro escritor a perceber que o romance estava sendo suplantado pelo cinema, mas continuou acreditando que, como arte, o romance sempre seria superior. Antes disso, na década de 20, com a publicação do Ulisses, passou-se a afirmar que o livro de Joyce era o ápice do romance, que depois dele o romancista deveria ater-se ao mínimo, outros diziam que Ulisses era a paródia final do romance, como quem assina embaixo da frase de Kierkegaard: Toda fase histórica termina com a paródia de si mesma.

No Brasil os anos 1950 foram férteis: 1956, por exemplo, é considerado um dos grandes marcos literários do país; foram publicados naquele ano O encontro marcado, de Fernando Sabino; Doramundo, de Geraldo Ferraz; Vila dos Confins, de Mário Palmério e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Ainda desta década é Gabriela, Cravo e Canela (1958), de Jorge Amado. A trilogia O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, teve seu primeiro volume, O continente, publicado em 1949 e O retrato, em 1951.

Crise do romance

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Já em 1880 falava-se em crise do romance. Naquele ano foi feita uma enquete sobre o assunto na França, e Jules Renard disse que o romance havia morrido.[carece de fontes?] E em uma época de Zola, André Gide, Valéry; mais adiante surgiriam Proust, Joyce, Kafka, Robert Musil. Numa entrevista, Gabriel Garcia-Márquez reitera sua crença no gênero: "se você diz que o romance está morto, não é o romance, é você que está morto".

Justamente quando se discutia se os recursos do romance estariam realmente esgotados, se seus dias estavam mesmo contados, surge o que ficou conhecido como o boom da literatura latino-americana: Julio Cortázar, Vargas Llosa, Gabriel Garcia-Márquez, Carlos Fuentes, Cabrera Infante, Miguel Ángel Asturias, Alejo Carpentier, etc. Era o descobrimento do realismo mágico.

O romance sofre concorrência do desenvolvimento do jornalismo, o cinema, o rádio, a TV; e mais recentemente os computadores e a Internet. O que se tem visto, no entanto, são os rivais se transformarem em aliados do romance: a imprensa escrita veio influenciar e divulgar a literatura, com o cinema a mesma coisa acontece. A Internet também vem se transformando numa divulgadora da literatura.

Em Repertório, Michel Butor diz que o romance é o laboratório da narrativa. E não há espaço mais propício para se fazer novas experiências do que um laboratório. Uma literatura que pretende representar o mundo só o fará se acompanhar as mudanças desse mundo. É preciso, então, mudar a própria noção de romance.

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Referências

  1. "Novel", A Glossary of Literary Terms (9th Edition), M. H. Abrams and Geoffrey Gall Harpham, Wadsworth Cengage Learning, Boston, 2009, p. 226.
  2. Margaret Anne Doody, The True Story of the Novel. New Brunswick, NJ: Rutgers University Press, 1996, rept. 1997, p. 1. Retrieved 25 April 2014.
  3. J. A. Cuddon, Dictionary of Literary Terms & Literary Theory, ed., 4th edition, revised C. E. Preston. London: Penguin, 1999, pp. 76o-2.
  4. Costa, Sérgio Roberto (2008). Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica Editora. p. 207 
  5. "Rumo a uma poética da personagem cervantina. Reflexões sobre a construção do personagem no 'Quixote'." In Dom Quixote: a letra os caminhos VIEIRA, Maria Augusta da Costa (org.). São Paulo: Edusp, 2006; p. 212.
  6. MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1974, p.400.