Talaíde – Wikipédia, a enciclopédia livre

Talaíde
Localização
Localização nos concelhos de Cascais, Oeiras e Sintra.
Localização nos concelhos de Cascais, Oeiras e Sintra.
Localização nos concelhos de Cascais, Oeiras e Sintra.
Coordenadas 38° 44' 14" N 9° 18' 46" O
País Portugal
Região Área Metropolitana de Lisboa
Concelho Cascais
Oeiras
Sintra
Freguesia São Domingos de Rana
Porto Salvo
Rio de Mouro

Talaíde é uma povoação portuguesa, dividida entre as freguesias de São Domingos de Rana (concelho de Cascais), Porto Salvo (concelho de Oeiras) e Rio de Mouro (concelho de Sintra). A localidade cresceu de uma forma linear ao longo da Estrada de Talaíde, e forma atualmente um contínuo urbano com o lugar de Leião. A sua proximidade com o Taguspark também influenciou o seu crescimento mais a norte.[1]

O seu topónimo possui diversas teorias quanto à sua origem. J. Diogo Correia especula que tenha derivado do diminutivo de talaia, cognato de atalaia, um lugar alto a partir de onde se vigia.[2] No entanto, ressalva a necessidade de um melhor conhecimento da origem de outros topónimos com terminação em -ide de modo a compreender o seu surgimento. Por sua parte, José de Encarnação aposta na raíz latina do nome, que teria derivado de talauitus («a terra de Talaus», nome de um proprietário notável ou chefe local).

Os vestígios mais antigos da permanência humana no actual território do concelho de Cascais remontam ao Paleolítico, há 1 500 000 anos, e foram encontrados na jazida do Serigado, a norte de Talaíde, que se destaca pelo conjunto de materiais líticos aí recolhidos. No Neolítico, a ausência de estruturas megalíticas dolménicas deve-se, certamente, à destruição destes monumentos no passado. A sua eventual existência, ficou no entanto, registada através do topónimo Antas, na parte norte de Talaíde. Já no Calcolítico, Talaíde possuía um dos mais importantes povoados do concelho de Cascais. Hoje encontra-se práticamente destruído devido à extracção de pedra, que se fez sentir nos anos 60 do século passado. Esta jazida deu fragmentos de grandes taças tipo Palmela, de bordo decorado, da cultura do vaso campaniforme. E nela também apareceram inúmeros vestígios de telhas do referido período. São também de relevância os vestígios encontrados do período romano, como a Ara Romana de Talaíde e o acervo metálico encontrado na Necrópole de inumação, tardo-romana visigótica de Talaíde (atualmente à guarda do município de Cascais na Biblioteca-Museu Condes Castro de Guimarães).

A Necrópole tardo romano - visigótica de Talaíde séculos III e o VIII d.c.

Nunca será de mais repetir quanto foi atentatório do património histórico-cultural do concelho ter-se levado por diante uma urbanização onde se havia identificado importante cemitério dos primórdios da Idade Média, a norte da escola primária, sem que previamente aí se procedesse a escavações sistemáticas. Guilherme Cardoso ainda conseguiu escavar vinte e nove sepulturas que, para além dos esqueletos, continham moedas romanas, brincos, anéis, pulseiras, fivelas, colares, facas e pregos. Se alguns destes objetos -como-os pregos – se podem relacionar com o caixão em que os cadáveres eram depositados, os demais dão-nos conta de como, nessa época, se pensava que, mesmo após a morte, se carecia daqueles adornos que haviam feito os encantos de quem, em vida os usou.

Quem quiser saber mais pormenores acerca desta importante descoberta poderá ler o artigo publicado no nº5 (1995) da revista da Câmara Municipal de Oeiras «Estudos Arqueológicos de Oeiras», onde, a página 315-339, três especialistas- João Luís Cardoso, Guilherme Cardoso e Maria F, Guerra- fazem a sua pormenorizada caracterização e integração cultural e dão conta dos resultados das análises não destrutivas feitas ao espólio metálico, para se determinar com exatidão que tipo de materiais foram utilizados e em que percentagem.

Concluem os autores que «estamos em presença de um necrópole que poderá a situar-se entre os séculos III e o VIII d.c., tanto pela tipologia das peças mais importantes como pelas datações radiométricas efetuadas». (José d` Encarnação in Jornal da Região – Cascais ,22 de dezembro de 1999)

Tomé Dias de Talaíde 1345

Não aparece habitualmente nos livros a povoação de Talaíde, mormente nos livros que dizem respeito ao concelho de Cascais, exactamente por ser terra de fronteira. É curioso, porém, verificar que habita em Talaíde Tomé Dias, uma das testemunhas do auto de partilhas dos bens de Lourenço Martins do Avelar, copeiro – mor da Rainha D. Beatriz e um dos homens célebres da história cascalense. Pois Lourenço do Avelar, tinha uma quinta lá para as bandas de Aljafami e Rio de Mouro e, por ocasião dessas partilhas, em Sintra, a 2 de Agosto de 1345, lá vem no documento a referência ao tal Tomé Dias de que, ao certo, nada mais se sabe. Contudo, isso prova que o topónimo já existia nessa primeira metade do século XIV, como afirma o professor José da Encarnação.

Talaíde no século de trezentos e durante a crise dinástica de 1383-1385 -Tomé Dias e Lourenço Anes ( ou Lourenço Eanes ) de Talaíde

Como já se referiu, um dos poucos registos relativos á povoação e população de Talaíde, desde a Idade Média até ao século de oitocentos, foi encontrado por ocasião dumas partilhas, em Sintra, a 2 de Agosto de 1345, onde vem num documento a referência a um Tomé Dias de Talaíde., provando que o topónimo já existia nessa primeira metade do século XIV.E também, não deixa de ser interessante, verificar na monografia “ Abastecer as cidades em contexto de guerra “ de Miguel Gomes Martins, no relato sobre o cerco de Lisboa pelos castelhanos e a repercussão que este teve nos seus arredores, no período que imediatamente precedeu à vitória de Aljubarrota, a menção de um Lourenço Anes de Talaíde, foreiro do Hospital de D. Maria de Aboim, que explorava um casal em Talaíde!

A leitura dos pequenos trechos remetem, por assim dizer para várias pesquisas e conclusões: primeiro, a da existência de fontes históricas, a saber; o Arquivo Municipal de Lisboa - Livro I do Hospital de Dona Maria de Aboim, doc. 12 e doc 13, que se referem a Talaíde, e a de que porventura no século de trezentos, o povoado de Talaíde , teria um ou vários casais, que em conjunto com o Casal de S. Marcos no  termo de Sintra, foram propriedade de Dona Maria de Aboim, filha de D. João Peres de Aboim, mordomo-mor de D. Afonso III,  e que foi casada com o fidalgo espanhol D. João Fernandes de Límia, e que mais tarde ao fundar um hospital com designação de Hospital de Dona Maria de Aboim, legou esses casais à administração do referido hospital, passando a ser sua propriedade. Por outro lado que a passagem por Talaíde, das hostes castelhanas que porventura vinham de Sintra ou de Cascais, praças que tinham tomado o partido de D. Beatriz, e a sua devassa dos campos agrícolas circundantes, aquando do cerco de Lisboa, foi efectiva. E por fim o realçar da importância da produção agrícola existente neste pequeno povoado, que fora destruída pelos castelhanos, não podendo os seus rendeiros acorrer ao apelo do Mestre de Avis para fornecer de víveres a cercada Lisboa. Assim se transcrevem os pequenos trechos da referida monografia alusivos a Lourenço Anes de Talaíde:

Durante o cerco de Lisboa ( 1383 – 1384), o Mestre de Avis de modo a aprovisionar a cidade resolveu conceder um conjunto de isenções fiscais a todos aqueles que aí fornecessem mantimentos. Esperava-se com um tão aliciante - e até aí nunca antes concedido – conjunto de benefícios fiscais, que o comércio voltasse a fluir e, por outro lado, que os que antes do cerco tinham abandonado os campos e procurado refúgio na capital regressassem à sua actividade para que deles pudessem também usufruir. Ainda assim, poucos terão sido os que o fizeram, como Lourenço Anes, foreiro do Hospital de D. Maria de Aboim, que explorava um casal em Talaíde e que não ousou regressar a essa propriedade com receio dos contingentes inimigos estacionados em Sintra, preferindo antes permanecer em Lisboa pelo menos até ao Verão do ano seguinte.

Pois, muitos foram os produtos agrícolas que não foram colhidos e que por isso, acabaram por ser aproveitados pelo inimigo. Lourenço Anes de Talaíde, quando em 1388, foi questionado acerca das propriedades que tinha aforadas do Hospital de D. Maria de Aboim, respondeu que “ no primeiro ano ano dos dictos dous (1384) que teendo el  o dicto casal bem lavrado e semeado que el se colheo  a esta cidade com medo dos castelhanos que vierom sobre esta çidade  e (…) que no dicto ano que el tiinha sementado apanharom os imigos”(Arquivo Municipal de Lisboa, Livro I do Hospital de D. Maria de Aboim , doc.12, de 1388, Maio, 12)

Também o atrás referido Lourenço Anes se queixava que em virtude da guerra  perdera “ todolos gaados e bens movis que avia e que ora era tam pobre que nom tinha nenh~ua cousa e nem com que o adubar nem aproveitar o dicto casal”), que tinha aforado em Talaíde. (Arquivo Municipal de Lisboa, Livro I do Hospital de D. Maria de Aboim , doc.13, de 1386, Novembro, 11).

Depois de Agosto de 1385, voltavam a restabelecer-se as condições de segurança em redor de Lisboa, pelo que já era possível fazer com que o abastecimento de géneros se processasse, assim a produção o permitisse, de forma regular, ao mesmo tempo que os refugiados podiam regressar aos campos – ainda que lentamente -, como o nosso já conhecido Lourenço Anes de Talaíde que, finalmente, embora com inúmeros problemas para resolver, pôde voltar a explorar o casal que aforara anos antes. Ainda assim apesar da vitória na guerra contra Castela, em Lisboa, a luta contra a escassez e contra a fome continuava bem intensa e sem um fim à vista *.

Sobre as fontes:

Arquivo Municipal de Lisboa - Livro I  do Hospital de Dona Maria de Aboim, doc. 12

1388, Maio, 12, Lisboa, paço do concelho – João Martins, juíz, perdoa a Lourenço Eanes de Talaíde **  a renda relativa aos anos de 1384 e 1385, que devia ao Hospital de Dona Maria de Aboim, de um casal em Talaíde, devido a não ter obtido quaisquer proventos devido à guerra com Castela. Documento de perdão de dívida, escrito e validado pelo tabelião Fernão Peres e tendo como testemunhas, o tabelião João Anes II e o tabelião Gonçalo Simões.

Arquivo Municipal de Lisboa Livro 1º  do Hospital de Dona Maria de Aboim, doc. 13

1386, Novembro, 11, Lisboa, Hospital de Dona Maria de Aboim – Martim Gonçalves , na qualidade de provedor do Hospital de Dona Maria de Aboim, João Martins, alvazil do cível, e Gonçalo Vasques Carregueiro , procurador do concelho, reduzem a Lourenço Martins *** , durante quatro anos, de 90 para 60 libras, a renda que devia pagar por um casal situado em Talaíde, propriedade do hospital  e emprestam-lhe 150 libras para que o possa melhorar em virtude de se encontrar depauperado pela guerra com Castela.

O Hospital de Dona Maria de Aboim ****

Dona Maria de Aboim, filha de D. João Peres de Aboim, mordomo-mor de D. Afonso III, foi casada com o fidalgo espanhol D. João Fernandes de Límia. Já viúva desde 1316, sem descendência lavrou o seu testamento em Lisboa a 30 de Julho de 1337, (1375 na era de Cristo), no qual deixou fundado um hospital, falecendo nesse mesmo ano, com a designação de Hospital de Dona Maria de Aboim, que se destinava a dar abrigo, alimentação e uma pensão diária a dez mulheres pobres que deviam assistir na igreja à missa e rezar pela alma da instituidora do hospital, que as recolhera.

Esta instituição funcionava em várias casas de habitação que a fundadora possuía em Lisboa e para sustento do hospital Dona Maria de Aboim atribui um vasto conjunto de propriedades urbanas e rurais. As primeiras situavam-se em Lisboa, quanto às segundas localizavam-se em redor de Lisboa, e nas zonas em torno de Loures, de Sintra***** , e no termo de Torres Vedras.

Dona Maria incumbiu os seus testamenteiros para coordenar todo o processo de criação e posterior gestão instituição. Porém após a morte destes, a administração do hospital passou para o concelho de Lisboa, que deveria escolher o seu provedor. A sua extinção teve lugar em inícios do século XVI, momento da fundação de um grande hospital em Lisboa o de Todos-os-Santos.

  • "Abastecer as cidades em contexto de guerra" autor Miguel Gomes Martins e Arquivo Municipal de Lisboa e Instituto de Estudos Medievais
  • ** Lourenço Eanes ou Lourenço Anes de Talaíde
  • ** Lourenço Eanes ou Lourenço Anes de Talaíde
  • *** Será o mesmo Lourenço Eanes de Talaíde? Ou outro rendeiro do Hospital de Dona Maria de Aboim.
  • **** Fontes Medievais do arquivo Municipal de Lisboa para o Estudo dos Hospitais de Aurora Almada e Santos, Denise Santos, Nuno Martins, Sandra Cunha Pires, Sara de Menezes Loureiro
  • ***** Onde se devem incluir um ou vários casais em Talaíde e o Casal de S. Marcos, como já então aparece mencionado.

Legado Histórico e Património

  • A Ara Romana de Talaíde séc. I a.C
  • O altar de Talaíde foi encontrado por acaso, encostado a um muro. O altar que, a 23 de Janeiro de 1983, ao passar numa rua de Talaíde, Guilherme Cardoso descobriu, tristemente encostado a um muro, detém por isso, significado particular. Prontamente o proprietário, Efigénio Pedro Freire, o ofereceu para a coleção arqueológica do Museu-Biblioteca dos Condes de Castro Guimarães. Retirara a pedra, anos atrás, duma das paredes da casa, quando fizera obras e, sem ter a menor ideia do que se tratava, para ali a deixara, porque tinha um feitio fora do normal e lhe parecera coisa antiga.Depois de cuidadosamente limpa de caliças e argamassas, revelou um enigmático texto latino: AVGVS.ET HERMES.DEAE MAGISTRIDONVM Singelas regras, significado profundo. Queriam dizer que aquele altar, ora tosco e desengraçado, constituíra, em seu tempo, há dois mil anos atrás, a oferta que dois escravos, Augo e Hermes de seus nomes, dedicados ao culto de uma deusa – eles identificam-se como ‘’deae magistri’’, ‘’sacerdotes da deusa’’ – lhe haviam feito. Estariam contentes com as suas funções, que muito os nobilitavam perante a comunidade dos crentes ou mantinham a secreta esperança de que, feita a oferta, a deusa pudesse vir a interceder para que as suas vidas significativamente mudassem. Desconhecemos que deusa seria. Eles porém sabiam: a deusa cujo santuário depositaram a oferenda. Chegou a pensar-se que se tratava de Cíbele, uma deusa-mãe, senhora da fertilidade e das searas…Não há, todavia, prova que o justifique e nós ficamos apenas a saber que, algures, em plataforma sobranceira ao curso de água que atravessa Talaíde, existiu em tempos idos um local sagrado de muita devoção. ( Prof. José d`encarnação In Jornal da Região- Cascais de 06 de Março de 2002)
  • ARCHIPORT: Origem romana de Talaíde

Na pág. 7 da edição de hoje ( 20-12-1999) do Jornal da Região (Edição Cascais), sugiro uma origem latina para o topónimo Talaìde, povoação situada na freguesia de S. Domingos de Rana, concelho de Cascais. Permita-se-me que transcreva a parte do texto relativa a esse assunto: E donde virá esse nome? Pensava J. Diogo Correia  que seria derivado duma forma «talaia», corruptela popular de «atalaia», nome porque se designam muitas povoações que exercem função de sentinela, por se encontrarem, como é o caso de Talaíde, em zona de passagem, em vale estratégico. Sucede, contudo, que – quanto se saiba – o caso é único e a terminação em – ide aponta, mais verosimilmente, para uma origem latina, tal como acontece (já vimos) com Caparide.

Está demonstrada a ocupação romana do lugar: na sua «Carta Arqueológica do Concelho de Cascais», Guilherme Cardoso assinala a existência de fragmentos de telhas de grande espessura na borda da pedreira sobre a Ribeira de Quenena, o que pode indiciar a existência aí duma «villa», ou seja de uma casa senhorial, centro de exploração agrária, como, aliás outros vestígios também demonstram na encosta do lado de Oeiras.   Ocupação romana e até anterior, pois que se refere o achado de «lascas de sílex e fragmentos de cerâmica lisa e decorada do campaniforme» na pedreira a oeste da povoação, no sítio onde se ergueu um bairro de génese ilegal, elementos arqueológicos esses datáveis do período calcolítico, ou seja, de há mais de quatro mil anos.

Outros testemunhos há, como a descoberta de sepulturas, romanas umas, dos começos da Idade Média outras, sendo de salientar o achamento de um altar com inscrição, a provar que por ali existia, ao tempo dos Romanos, um santuário importante, dotado inclusive de um corpo sacerdotal. Não se me afigura, pois, despicienda a hipótese de o topónimo Talaíde provir de um vulgar «talauitus», eventualmente traduzível por «a terra de Talaus». Talaus é nome de homem, de origem pré- romana, e o radical Tala- é muito frequente na onomástica e na toponímia anterior à chegada dos Romanos à Península Ibérica. Penso que por aqui existiria um proprietário notável ou um chefe local e que, por isso mesmo, o sítio assim se tenha começado a identificar. Prof. Doutor José d`Encarnação, Instituto de Arqueologia, Palácio de Sub-Ripas3000-395 COIMBRA, 22 Dez. 1999

  • Capela de São Lourenço de Quenena, no lugar de Quenena, (provavelmente erigida no séc. XV). Resta uma imagem do referido santo de pedra policromada do séc XV–XVI, embora desprovida de cabeça, atualmente exposta na capela funerária da Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Abóboda.
  • Quinta de Santa Bárbara, Morgadio com Capela de 1735, Sobre o morgadio (Monteiro Bandeira) da Quinta de Santa Bárbara de Talaíde, Barcarena: D. GERARDA MARIA INÁCIA XAVIER MONTEIRO DE SAMPAIO E CASTRO (c. 1743), nascida na freguesia de Santa Maria, na Covilhã, e moradora na Quinta das Ameias. Casou a 1-01-1743 na freguesia dos Anjos, em Lisboa, nas segundas núpcias de DOMINGOS PIRES BANDEIRA (1701-1761), nascido a 30-01-1701 na freguesia dos Mártires, em Lisboa, cidade onde faleceu a 31-03-1761, administrador do morgado de Santa Bárbara de Talaide, familiar do Santo Ofício, escrivão da Real Câmara e do despacho ordinário da Mesa da Consciência e Ordens (22-08-1738), assim como gentil-homem da Casa do Cardeal da Cunha, e cavaleiro professo na Ordem de Cristo. Seu marido era um dos oito filhos de DOMINGOS PIRES BANDEIRA (1670-1755), baptizado a 22-12-1670 na freguesia de Santa Maria Maior, em Viana do Castelo, que veio muito novo para Lisboa onde enriqueceu no comércio, tendo falecido a 18-11-1755 na sua quinta de Santa Bárbara de Talaíde, freguesia de Barcarena, o qual foi familiar do Santo Ofício (Carta de 6-11-1722) e casou a 18-01-1696 na freguesia dos Mártires, em Lisboa, com D. Tomásia Maria Felizarda Diniz (n. 1672) baptizada a 25-09-1672 na freguesia de São Julião, em Lisboa. Foram também seus morgados: DOMINGOS PIRES MONTEIRO BANDEIRA (1747-1806), que nasceu a 22-02-1747 no palácio do Salitre (Alto do Salitre) e foi baptizado na paróquia de Santa Justa em Lisboa. Foi fidalgo cavaleiro da Casa Real (Alvará de 26-03-1778), do Conselho de Sua Majestade, assim como comendador da Ordem de Santiago e cavaleiro professo da Ordem de Cristo (Carta de 11-10-1769). Frequentou a Universidade de Paris onde se formou em Leis, tendo sido desembargador da Casa da Suplicação. Era coleccionador de obras de arte e foi poeta académico e amigo de Nicolau Tolentino, Filinto Elísio, e de Bocage. Por falecimento de seu pai a 31-03-1761, sucedeu-lhe no morgadio de Santa Bárbara de Talaíde em Barcarena, entre outras propriedades. Fez o seu testamento a 8-10-1781 «por estar próximo a partir para o Reino de França a curar-se de moléstia crónica ..». Faleceu a 29-08-1806, solteiro, sem geração, na sua casa situada na esquina Travessa da Água da Flor com a Rua da Atalaia, ao Bairro Alto em Lisboa, na freguesia da Encarnação, tendo recebido sepultura no extinto Convento de São Domingos. DOMINGOS PIRES MONTEIRO BANDEIRA (1782-1841), que nasceu a 7-05-1782 na freguesia de São Sebastião de Lagos, onde foi baptizado. Veio a falecer a 14-03-1841 na Carreira dos Cavalos (actual Rua de Gomes Freire), em Lisboa, vitima de hidropisia. Sucedeu nos ofícios, casas, vínculos e prazos – de Gorizos, Talaíde, etc. Foi fidalgo da Casa Real, cavaleiro professo e comendador da Ordem de Cristo, e cavaleiro da Ordem de Avis (30-10-1821). Seguiu a carreira das armas e assentou praça no Regimento de Lagos (1797). Foi capitão do Regimento de Cavalaria em Castelo Branco e passou ao Brasil como capitão ajudante de ordens do governador da Capitania-Geral de São Pedro do Sul, aí sendo promovido a tenente-coronel (12-10-1812).Em 1815 terá retornado a Portugal onde não ocupou mais cargos militares e, posteriormente, veio a tomar partido pela causa liberal durante o reinado de D. Miguel (1828-1834), pelo que foi preso 6-11-1831 em Lisboa, juntamente como os seus filhos DIOGO e DOMINGOS, com 19 e 16 anos de idade e ainda estudantes, todos sucessivamente encaminhados para prisão do Forte de São Julião da Barra (31-05-1832) e de Elvas (25-06-1832), assim como para o Castelo de Estremoz (1834). Em Fevereiro de 1833, ainda preso, pôs à venda as suas casas da Rua do Salitre, após o que, estando detido no Castelo de Estremoz, já no estertor da Guerra Civil que se agudizou, talvez doente ou temendo pela sua vida, aí dita o seu testamento a 6-02-1834. Nele declara deixar todos os prazos para sua mulher, nos quais se incluíam as quintas de Santo António dos Gorizos da Portela, as da Gança e da Godinha, bem como os de Talaíde, em Oeiras, e os prazos de Lisboa e das vilas da Covilhã e Fundão . Por morte da sua mulher todo este imenso património devia ficar para os filhos (que eram 12), em partes iguais. Tendo sobrevivido ao cárcere e à Guerra Civil, entretanto terminada (26-05-1834), vai ocupar o cargo de governador do Castelo de São Jorge em Lisboa (1836) e de 2.º Comandante do Real Colégio Militar. (In Heráldica e Genealogia, Divulgação de Heráldica, Genealogia e História – Monteiro Bandeira  27-02-2015 ).Não deixa também de ser interessante o aviso publicado na Gazeta de Lisboa ( com privilégio de Sua Magestade ) Num.41 do Ano de 1819 " quem quiser comprar a laranja, e limão da quinta de Santa Bárbara de Talaíde, em Porto Salvo, póde tratar com o seu dono no alto do Salitre, nº 215", morada onde se localizava um palácio da referida família.
  • A quinta de Santa Bárbara foi adquirida por Casimiro José Sabido no ínicio do século XX, não se sabendo se directamente dos Monteiro Bandeira,passando a ser residência de seus herdeiros Fernando José Figueiredo Sabido e sua esposa Maria do Carmo Bessone Basto Sabido, e mais tarde de seus filhos Carlos Fernando Bessone Basto Sabido e Maria Fernanda Bessone Basto Sabido Mesquita Carvalho, que deixaram descendência. Encontra-se actualmente desabitada. Registe-se ainda a existência de um painel em azulejo com a figura de Santa Bárbara em azul, colocada numas das paredes exteriores do casario, faltando confirmar a data da sua elaboração. In Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Abóboda Cascais 1980,pág. 28, Fernando Gomes, refere assim :" Próximo da ermida de NSª da Conceição, na actual Quinta de Stª. Bárbara de Talaíde, foi fundado um convento da Ordem de S. Domingos que, encerrado em 1910, seria totalmente remodelado em 1916, conforme se pode ler numa placa em azulejos colocada à entrada da actual edificação. Da antiga casa apenas restam alguns azulezos de sabor oitocentista e umas alminhas, dedicadas às almas do Purgatório, que se encontram todavia um pouco danificadas". Não parece, contudo que tenha existido um convento, mas sim uma capela como era usual em muitos morgadios, e que era de devoção a S. Domingos , de que os morgados inicais eram devotos, uma vez que eram familiares do Santo Ofício. A imagem de S. Domingos, talvez do séc. XVIII, ainda existe na posse da família Sabido.
  • Fontanário Casimiro José Sabido, de 1916.
  • Quinta do Serigado, de 1756. Vestígios quase desaparecidos devido ao avanço de novas urbanizações.
  • Casal do Penedo de Talaíde, que parece remontar ao séc. XIX ou talvez finais do séc XVIII, sendo adquirido pela firma J. Pimenta na década de 70 do século XX, foi totalmente destruído para construção dos Estaleiros do J. Pimenta, que deram origem ao actual Parque Empresarial de Talaíde, contudo ainda restam ruínas de um casal no referido lugar.
  • No burgo histórico ainda restam habitações do séc.XIX, como atesta a data de 1891, inscrita na chaminé de uma pequena casa junto á casa torreada de tipologia saloia em ruínas, esta também vestígio dessa época, situada no ínício da Praceta do Olival. Na mesma zona se localiza ainda casa onde nasceu Casimiro José Sabido, cujo pórtico ainda tem a base de um cruzeiro. Na praceta da Fé, também se verifica a existência de um pórtico que teria também um cruzeiro. Realce-se também uma casa com janelas de estilo português, situada na rua da Esperança, onde esteve instalada durante muitos anos a Drogaria de Talaíde. Na rua do Comércio verifica-se também a existência de uma casa saloia que tinha em anexo um alpendre onde se encontravam os fornos de lenha comunitários, que entretanto foram substituídos por uma oficina.
  • Ponte das Varandas, também designada por ponte de Talaíde, o nome que lhe foi atribuído, deriva de ter sido construída no local designado por "Varandas" cuja origem não se sabe, [carece de fontes?] Foi construída pela administração da I República entre 1919 e 1922, ano da sua inauguração.
  • Escola Primária Maria Amália Sabido, edificada em finais dos anos 30 ou príncipios dos anos 40 do século passado, começou afuncionar oficialmente em 1945. Actualmente, ampliada e remodelada, mantém contudo o edíficio original.
  • Sede do Grupo de Solidariedade Musical e Desportiva de Talaíde, originalmente um celeiro propriedade de Fernando José Figueiredo Sabido e talvez edificado anteriormente a 1930, desde 1941, data em que por contrato de arrendamento passou a ser sede,do então Grupo de Solidariedade e Instrução Musical de Talaíde, ao longo dos anos foi sofrendo alterações e ampliações que lhe deram a actual fachada, dentro das três que entretanto já tivera .Em 2015 passa para património municipal com contrato de cedência com o referido grupo.
  • Campo de Futebol Fernando Sabido, construído durante o ano de 1961, numa encosta pedregosa, imprópria para a agricultura, cedida por Fernando José Figueiredo Sabido, sob a égide do então Operário Futebol Clube de Talaíde, clube jurídicamente estabelecido em 1964, e que em 1967 pela integração do Grupo de Solidariedade e Instrução Musical de Talaíde, deu lugar ao actual Grupo de Solidariedade Musical e Desportiva de Talaíde. Foi totalmente remodelado em 2005, com a instalação do relvado sintético, suportada pela Câmara Municipal de Cascais, e remodelação dos balneários dos jogadores, em parte, pela Câmara Municipal de Oeiras, na presidência de Teresa Zambujo. Tendo a partir daí, com alguns melhoramentos o actual traçado.
  • Centro Paroquial de Talaíde e Creche Infantil, inaugurado em 1982, sob a égide do Padre Manuel da Costa Andrade, em 2016, sofre profundas alterações com uma ligeira alteração à fachada inicial.
  • Escola Secundária Aquilino Ribeiro, instalada na Avª. Domingos Vangelli, na área da freguesia de Porto Salvo, tal equipamento veio potencializar a oferta pública educativa na localidade e na freguesia.
  • Largo do Coreto, com projecto aprovado pela Câmara Municipal de Cascais em 1977, denominado por "Centro Cívico de Talaíde" , projecto constituído no essencial por um coreto um ringue desportivo, um jardim infantil e balneários públicos, projecto que no ínicio mobilizou a juventude e a população de Talaíde, por várias vicissitudes foi completamente abandonado, durante largos anos. Em 2014, a direcção do GSMD Talaíde, propôs a sua reabilitação no primeiro orçamento participativo de Cascais , não conseguindo votação suficiente por falta de empenho da população, no entanto tal facto e a mobilização da colectividade, chamou a atenção da professora Fernanda Gonçalves, presidente da Junta de São Domingos de Rana, que em 2017, sobre a sua égide, reabilitou o referido espaço com as condições míninas de usufruto da população e como já acontecia, tal espaço foi eleito para se realizarem as Festas de Talaíde. Este espaço encontra-se estruturado num espaço cimentado, adjacente a um jardim onde se incluem um coreto, com bancadas para a assistência, um parque infantil, e equipamentos de manutenção física.
  • Em 2012, a Câmara Municipal de Cascais deu início à reabilitação do núcleo histórico, com obras de reaquilificaçâo da margem da Ribeira das Parreiras, com a construção de uma ponte pedonal, a reabilitação do palco do salão da Colectividade, Salão Talaíde, e em 2017 com a requalificação dos passeios e acessos, junto desta e da Escola Primária.

Referências

  1. «Oeiras - Factos e Números». Câmara Municipal de Oeiras 
  2. Correia, J. Diogo (1964). Toponímia do Concelho de Cascais (PDF). Cascais: Câmara Municipal de Cascais 

Ver também[editar | editar código-fonte]

  • Carta Arqueológica do Concelho de Cascais", Guilherme Cardoso - Câmara Municipal de Cascais - 1991
  • A Necrópole Tardo-Romana e Medieval de Talaíde (Cascais) estudo Preliminar de Guilherme Cardoso e João Luís Cardoso.
  • A Necrópole Tardo-Romana e Medieval de Talaíde (Cascais).Caraterização e Integração Cultural. Análises Não Destrutivas do Espólio Metálico de J.L. Cardoso, G. Cardoso e M.F. Guerra in Estudos Arqueológicos de Oeiras, 5, Oeiras, Câmara Municipal, 1995, p.p. 315-339
  • Dos Segredos de Cascais. Os romanos e o seu amor à terra. O Altar de Talaíde de José d`Encarnação in Edições Colibri - Câmara Municipal de Cascais, 2009, p.p. 48-49.
  • Talaíde por onde se rasga a fronteira, artigo de José da Encarnação, in Jornal da Região - Cascais de 22 de Dez. 1999, pag. 7
  • Descoberta de grande valor arqueológico em Talaíde, Jornal da Costa do Sol, Cascais p.12, 03 Fev. 1983
  • Momento Decisivo para a Cultura Concelho- Prosseguem as Escavações no Cemitério Romano de Talaíde, Jornal da Costa do Sol., Cascais, p.5. 23 Agosto 1975
  • Acerca da Ara Descoberta em Talaíde ( Um santuário romano em Talaíde), Jornal da Costa do Sol, Cascais, pp.8 e 16, 28 Abril 1983
  • Há quase 2000 Anos! A deusa oriental Cibele foi Adorada em Talaíde, Jornal da Costa do Sol, Cascais, p. 5, 03 Janeiro 1985
  • A Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Abóboda - S. Domingos de Rana Cascais , Fernando Gomes, Cascais 1980
  • Registo fotográfico da freguesia de São Domingos de Rana e alguns apontamentos histórico- administrativos, Carlos A. Teixeira - Guilherme Cardoso - Junta de Freguesia de S. Domingos de Rana - 2003
  • Exposição Patrimónios de Cascais - Ed. Centro Cultural de Cascais, Cascais, Setembro 2003
  • Uma localidade, três concelhos. In reportagem do Jornal Costa do Sol de 08 Março 2007
  • Cantinhos de Cascais. Dois monumentos , duas divindades- O Altar de Talaíde. In Jornal da Região - Cascais de 6 Março 2002
  • O Centro Histórico de Talaíde - Item Património Pag. 84 /85, Agenda Cultural 43, Março, Abril 2010 CM Cascais.
  • Arquivo Municipal de Lisboa e Instituto de Estudos Medievais
  • "Abastecer as cidades em contexto de guerra" autor Miguel Gomes Martins
  • Fontes Medievais do arquivo Municipal de Lisboa para o Estudo dos Hospitais de Aurora Almada e Santos, Denise Santos, Nuno Martins, Sandra Cunha Pires, Sara de Menezes Loureiro