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Sylvia Pankhurst
Sylvia Pankhurst
Sylvia Pankhurst em 1909
Nome completo Estelle Sylvia Pankhurst
Nascimento 5 de maio de 1882
Old Trafford, Manchester
Reino Unido Reino Unido
Morte 27 de setembro de 1960 (78 anos)
Adis Abeba
 Etiópia
Nacionalidade Britânica
Ocupação Ativista política

Estelle Sylvia Pankhurst (Manchester, 5 de Maio de 1882Adis Abeba, 27 de Setembro de 1960), filha de Emmeline Pankhurst, foi uma militante do movimento de sufrágio feminino e comunista proeminente

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Estelle Sylvia Pankhurst (mais tarde abandonou o seu primeiro nome) nasceu em Manchester, filha de Richard Pankhurst, um advogado, e de Emmeline Pankhurst. Ambos os seus pais eram membros do Partido Trabalhista Independente e preocupavam-se com a questão dos direitos das mulheres. Sylvia e as suas irmãs frequentaram a Manchester High School For Girls. As suas irmãs, Christabel e Adela também se tornaram sufragistas. Sylvia estudou Arte na Manchester School of Art e em 1900 conseguiu uma bolsa de estudos para a Royal College of Art em South Kensington, Londres.[1] Em 1907, Sylvia visitou algumas cidades industriais do Norte de Inglaterra e da Escócia onde pintou mulheres da classe trabalhadora nos seus locais de trabalho.[2]

Sufragista[editar | editar código-fonte]

Em 1906, Sylvia Pankhurst começou a trabalhar a tempo inteiro na Women's Social and Political Union (WSPU), em conjunto com a sua irmã Christabel e a sua mãe. Porém, ao contrário delas, manteve a sua afiliação com o movimento trabalhista e concentrou a sua atividade em campanhas locais com a Federação do Este de Londres da WSPU, ao invés de liderar a organização a nível nacional. Sylvia Pankhurst escreveu vários artigos para o jornal da WSPU, o Votes for Women e, em 1911, publicou um livro de teor propagandista da História da campanha da WSPU: The Suffragette: The History of the Women's Militant Suffrage Movement.[3]

Em 1914, Sylvia estava cada vez mais descontente com o rumo que a WSPU estava a tomar: enquanto que a WSPU se tinha tornado independente de qualquer partido político, Sylvia queria que fosse uma organização explicitamente socialista a lidar com as questões do sufrágio feminino. Nesse ano, ela abandonou a WSPU e criou a sua própria organização sufragista, a East London Federation of Suffragettes (ELFS) que, ao longo dos anos, mudou o seu nome para Women's Suffrage Federation (WSF) e, por fim, para Worker's Socialist Federation. Ela criou o jornal da WSF, o Women's Dreadnough que mais tarde se tornou o Worker's Dreadnought. A sua organização manifestou ser contra o envolvimento do Reino Unido na Primeira Guerra Mundial.[4]

Primeira Guerra Mundial[editar | editar código-fonte]

Sylvia Pankhurst numa manifestação contra a política inglesa na Índia.

No decorrer da Primeira Guerra Mundial, Sylvia ficou chocada ao ver que a sua mãe e a sua irmã se tornaram apoiantes entusiastas do esforço de guerra e fizeram campanhas a favor da conscrição militar. Sylvia sempre manifestou ser contra a guerra e a sua organização tentou trabalhar na defesa das mulheres nas zonas mais pobres de Londres. Este trabalho incluiu a criação de restaurantes económicos para alimentar os mais carenciados sem que tal parecesse um acto de caridade. A organização também criou uma fábrica para empregar mulheres que tinham perdido o emprego devido à guerra.[5]

Sylvia também trabalhou na defesa de subsídios adequados para as esposas dos soldados enquanto os seus maridos se encontravam a lutar na guerra através da criação de centros de aconselhamento legal e de campanhas para obrigar o governo a considerar a pobreza das mulheres dos soldados. Ela apoiou a Liga Internacional de Mulheres pela Paz e Liberdade, apoio esse que lhe custou alguns dos seus aliados no país-Natal. Este apoio também contrastou com a posição da sua mãe e da sua irmã que, após a Revolução Russa de 1917, viajaram para a Rússia para convencer o país a não se retirar da guerra.[6]

Comunismo[editar | editar código-fonte]

Sylvia Pankhurst em 1910.

A WSF foi-se identificando cada vez mais com os ideais de esquerda e a primeira reunião do Partido Comunista inglês teve lugar na sua sede. Nesta reunião, foi distribuído o texto "A Constitution for British Soviets" (Uma Constituição para os Sovietes Britânicos) da autoria de Sylvia Pankhurst. Neste texto, Sylvia destacou o papel dos Sovietes Caseiros: "Para que as mães e as organizadoras da vida doméstica da comunidade possam ser representadas de forma adequada e ocupem a sua devida posição na gestão da sociedade, deve criar-se um sistema de Sovietes Caseiros".[7]

O Partido Comunista inglês opunha-se ao parlamentarismo, o que contrastava com a posição do recém-formado Partido Socialista Britânico que se tornou no Partido Comunista da Grã-Bretanha em 1920. O Partido Comunista inglês acabou por se diluir no Partido Comunista oficial, porém este novo partido teve curta duração e quando a sua liderança propôs que Pankhurst cedesse a sua organização a Workers Dreadnought ao partido, ela revoltou-se. Em consequência da sua revolta, Sylvia foi expulsa do Partido Comunista e criou o Partido dos Trabalhadores Comunistas, que também durou pouco tempo. Nesta altura, Sylvia tinha aderido ao comunismo de conselhos e esteve presente em reuniões da Internacional Comunista na Rússia e em Amesterdão e do Partido Socialista Italiano.[8]

Parceiro e filho[editar | editar código-fonte]

Sylvia Pankhurst opunha-se à ideia de entrar num contrato de casamento e de adotar o nome do marido. Perto do final da Primeiro Guerra Mundial, foi viver com o anarquista italiano Silvio Corio em Woodford Green, onde permaneceu durante mais de 30 anos.

Em 1927, aos 45 anos, Sylvia deu à luz o seu único filho, Richard, que considerava ser um triunfo da eugenia uma vez que tinha nascido de pais saudáveis e inteligentes. Uma vez que ela se tinha recusado a casar com o pai da criança, a sua mãe ficou em choque e as duas nunca mais se voltaram a falar. O escândalo provocado pelo nascimento de um filho fora do casamento debilitou ainda mais a saúde de Emmeline Pankhurst que faleceu menos de um ano depois do nascimento do neto.[9]

Apoiante da Etiópia[editar | editar código-fonte]

No início da década de 1930, Sylvia afastou-se da política, mas continuou a estar envolvida em movimentos relacionados com o antifascismo e o anticolonialismo. Em 1932, ela desempenhou um papel essencial na criação do Socialist Workers' National Health Council.[10] Em 1936, manifestou-se contra a invasão italiana da Etiópia com a criação do jornal The New Times and Ethiopian News e apoiou Halie Selassie. Ela angariou fundos para o primeiro hospital universitário da Etiópia e escreveu vários textos sobre a arte e a cultura do país. A sua pesquisa foi mais tarde reunida e publicada no livro Ethiopia: a Cultural History.

A partir de 1936, o MI5 começou a monitorizar a correspondência de Sylvia Pankhurst. Em 1940, ela escreveu ao Viconde Swinton, o diretor de um comité que investigava comunistas, e acrescentou uma lista de fascistas ativos que ainda se encontravam a monte e de antifascistas que se encontravam internados. Nos arquivos do MI5 encontra-se uma cópia desta carta com uma nota de Swinton escrita à mão que diz: "Penso que esta é uma fonte de informação muito duvidosa".[11]

Morte[editar | editar código-fonte]

Sylvia Pankhurst morreu no ano de 1960 em Adis Abeba aos 78 anos. Recebeu um funeral com honras de Estado no qual Haile Selassie a considerou uma "etíope honorária". Ela é a única estrangeira enterrada na Catedral da Santíssima Trindade em Addis Ababa numa secção reservada a patriotas da guerra italiana.[12]

Obras publicadas[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Sylvia Pankhurst». www.oxforddnb.com. Consultado em 6 de outubro de 2016. Arquivado do original em 9 de outubro de 2016 
  2. «BP Spotlight: Sylvia Pankhurst | Tate». www.tate.org.uk. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  3. Mercer, John (2007), "Writing and re-writing suffrage history: Sylvia Pankhurst's 'The Suffragette'", Women's History Magazine
  4. «SYLVIA PANKHURST & WW1» 
  5. Connelly, Katherine (15 de janeiro de 2015). «Sylvia Pankhurst, the First World War and the struggle for democracy». Revue Française de Civilisation Britannique. French Journal of British Studies (em inglês). XX (1). ISSN 0248-9015. doi:10.4000/rfcb.275 
  6. Mary Davis, Sylvia Pankhurst: A Life in Radical Politics (Pluto Press, 1999); ISBN 0-7453-1518-6
  7. Workers' Dreadnought, Vol. VII, No. 13, 19 June 1920.
  8. «Letter to Sylvia Pankhurst». www.marxists.org. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  9. Purvis, June (1 de janeiro de 2002). Emmeline Pankhurst: A Biography (em inglês). [S.l.]: Psychology Press. ISBN 9780415239783 
  10. Crawford, Elizabeth (2 de setembro de 2003). The Women's Suffrage Movement: A Reference Guide 1866-1928 (em inglês). [S.l.]: Routledge. ISBN 1135434018 
  11. «Sylvia: The Pankhurst Who Was Too Radical?». New Historian (em inglês). 26 de setembro de 2016 
  12. «Fifty years since the death of Sylvia Pankhurst, Ethiopians pay tribute - Owen abroad». Owen abroad (em inglês). 17 de outubro de 2010