Rollback – Wikipédia, a enciclopédia livre

Rollback

Obuseiro M102 estadounidense disparando, em 3 de Novembro de 1983, durante a Operation Urgent Fury (invasão de Granada).
Características
Classificação estratégia política
Localização
[ Editar Wikidata ]
[ Editar infocaixa ]
 Nota: Se procura o mecanismo de reversão de transação em banco de dados, veja SGBD.

Rollback ('reversão') em ciência política, é uma estratégia geopolítica que consiste em forçar uma mudança nas principais políticas de um Estado, geralmente, substituindo o regime vigente. Contrasta com o termo contenção, que significa evitar a expansão daquele Estado, e com détente, que corresponde a uma relação de trabalho com aquele Estado. A maior parte das discussões de rollback na literatura acadêmica refere-se à política externa dos Estados Unidos em relação aos países comunistas durante a Guerra Fria. A estratégia de rollback foi tentada na Guerra da Coreia (1950) e em Cuba, na Invasão da Baía dos Porcos (1961), sem sucesso, mas teve êxito no episódio da invasão de Granada, em 1983.

Na Segunda Guerra Mundial, o rollback de governos considerados hostis aos EUA também foi usado, em 1943, contra a Itália fascista e, em 1945, contra a Alemanha Nazista e o Império do Japão.[1][2] Em 2001, a mesma estratégia foi usada no Afeganistão (contra o Taliban) e, 2003, no Iraque (contra Saddam Hussein).

Quando usado contra um governo estabelecido, o rollback é, às vezes, denominado "mudança de regime".[3]

Rollback na Guerra Fria[editar | editar código-fonte]

Na linguagem estratégica militar estadunidense, a estratégia de rollback significa destruir o exército inimigo e ocupar o país, tal como foi feito na Guerra Civil Americana (no setor dos Confederados) e na Segunda Guerra Mundial, contra a Alemanha e o Japão.

A noção de rollback militar contra a União Soviética foi proposta pelo estrategista conservador James Burnham[4] e outros estrategistas, no pós-guerra (final da década de 1940), e pela administração Truman, contra a Coreia do Norte, durante a Guerra da Coreia (ver: Doutrina Truman). Em 7 de Maio de 1945 (véspera da Dia da Vitória na Europa) em conferência na Áustria com Robert P. Patterson, futuro secretário da guerra,[5] O general George Patton declarou:

O governo dos Estados Unidos também chegou a considerar o rollback, durante a Revolta de 1953 na Alemanha Oriental e na Revolução Húngara de 1956, mas descartou essa possibilidade, considerando o risco de um conflito direto com a União Soviética.[7][8]

Afinal, em vez de um rollback militar ostensivo, os Estados Unidos se concentraram principalmente na guerra psicológica de longo prazo e na assistência militar, aberta ou clandestina, para deslegitimar regimes pró-comunistas e ajudar os insurgentes. Essas iniciativas começaram já em 1945 na Europa Oriental, e incluíram o fornecimento de armas aos combatentes pela independência, nos Estados bálticos e na Ucrânia. Outro iniciativa precoce foi contra a Albânia, em 1949, após a derrota das forças comunistas na Guerra Civil Grega, naquele ano. Nesse caso, um grupo de agentes foi enviado pelos britânicos e pelos americanos para tentar provocar uma guerra de guerrilha, mas a operação foi denunciada aos soviéticos pelo agente duplo britânico Kim Philby, o que levou à captura ou morte imediata dos agentes.[9]

Coreia[editar | editar código-fonte]

Na Guerra da Coreia, os Estados Unidos e a Organização das Nações Unidas endossaram oficialmente uma política de rollback do regime norte-coreano, e forças da ONU cruzaram o paralelo 38.[10] O governo chinês reagiu, e as forças da ONU foram obrigadas a recuar de volta ao paralelo 38. O fracasso da estratégia de rollback contribuiu para a decisão dos EUA de voltar à estratégia alternativa de contenção, apesar de sua defesa pelo general Douglas MacArthur, mudou o compromisso dos Estados Unidos com a détente sem rollback.[11][12]

China[editar | editar código-fonte]

Um esforço mais ambicioso foi feito em novembro de 1950, na chamada Operação Paper,[13] que incluía o fornecimento de armamento às tropas chinesas nacionalistas, no leste da Birmânia, para a Divisão 93 sob o comando do general Li Mi, com o objetivo de invadir a província chinesa de Yunnan. Todas as curtas investidas de Li Mi contra a China foram rapidamente repelidas, e depois de mais um fracasso, em agosto de 1952, os Estados Unidos começaram a reduzir seu apoio.[14]

Administração Reagan[editar | editar código-fonte]

A estratégia de rollback ganhou significativo espaço nos Estados Unidos, durante a década de 1980. O governo Reagan, instado pela Heritage Foundation e outros conservadores estadounidenses influentes a armar movimentos como os Mujahedin, no Afeganistão, os Contras, na Nicarágua, e outros, em Angola e no Camboja. Os Estados Unidos invadiram a ilha de Granada em 1983, para, alegadamente, proteger cidadão americanos que ali viviam e restaurar o governo constitucional, derrubado por um golpe.[15][16] A invasão se deu apesar de a Carta da ONU proibir o uso da força pelos Estados membros, exceto em casos de autodefesa ou quando autorizado pelo Conselho de Segurança da ONU. O Conselho de Segurança da ONU não havia autorizado a invasão.[17][18][19][20] Da mesma forma, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou a Resolução 38/7 da Assembléia Geral (por 108 votos a 9, com 27 abstenções), que "lamenta profundamente a intervenção armada em Granada, que constitui uma flagrante violação do direito internacional".[21] Uma resolução semelhante no Conselho de Segurança das Nações Unidas recebeu amplo apoio, mas foi vetada pelos Estados Unidos.[22][23]

A prática dessas intervenções no Terceiro Mundo, por parte do governo Reagan, visando fazer frente à influência global da União Soviética, no final da Guerra Fria, foi a marca da chamada Doutrina Reagan.[24] Seus críticos argumentam que a Doutrina Reagan levou a uma intensificação desnecessária dos conflitos em países periféricos, além de provocar efeitos de blowback (consequências indesejadas de uma operação de rollback).[25] Assim, ao facilitar a transferência de grandes quantidades de armas para várias partir do mundo e treinar líderes militares nessas regiões, a Doutrina Reagan acabou por fortalecer alguns movimentos políticos e militares que acabaram por se virar contra os Estados Unidos, a exemplo da Al-Qaeda no Afeganistão. Por outro lado, a União Soviética acabou por abandonar a guerra do Afeganistão. O apoio americano aos rebeldes ajudou a drenar os cofres soviéticos e a esgotar seus recursos humanos, contribuindo para a crise geral da nação e, finalmente, para sua desintegração.[26][27]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Weigley, Russell F (1977), The American Way of War: A History of United States Military Strategy and Policy, pp. 145, 239, 325, 382, 391 .
  2. Pash, Sidney (2010), «Containment, Rollback and the Onset of the Pacific War, 1933–1941», in: Piehler, G Kurt; Pash, Sidney, The United States and the Second World War: New Perspectives on Diplomacy, War, and the Home Front, pp. 38–67 .
  3. Litwak, Robert. Regime Change: U.S. Strategy Through the Prism of 9/11. [S.l.]: Johns Hopkins U.P. p. 109. ISBN 9780801886423 
  4. Daniel Kelly, James Burnham and the struggle for the world: a life (2002) p. 155
  5. «Patterson, Robert Porter, Sr.». Federal Judicial Center (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2022 
  6. Mattson, Ed. Down on Main Street. BookWhirl Publishing, 28 de Outubro de 2014, (em inglês), ISBN 9781618565266 Consultado em 4 de junho de 2022.
  7. Stöver, Bernd (2004), "Rollback: an offensive strategy for the Cold War", in Junker, Detlef (ed.), United States and Germany in the era of the Cold War, 1945 to 1990, A handbook, 1: 1945–1968, pp. 97–102.
  8. Rick Perlstein, Before the Storm: Barry Goldwater and the Unmaking of the American Consensus (2002)
  9. Weiner, Tim (2007), Legacy of Ashes: The History of the CIA, New York: Doubleday, pp. 45–46 .
  10. Matray, James I (setembro de 1979), «Truman's Plan for Victory: National Self-Determination and the Thirty-Eighth Parallel Decision in Korea», JStor, Journal of American History, 66 (2): 314–33, JSTOR 1900879, doi:10.2307/1900879 .
  11. Cumings, Bruce (2010), The Korean War: A History, pp. 25, 210 .
  12. James L. Roark; et al. (2011). Understanding the American Promise, Volume 2: From 1865: A Brief History of the United States. [S.l.]: Bedford/St. Martin's. p. 740. ISBN 9781457608483 
  13. Operation Paper: The United States and Drugs in Thailand and Burma Por Peter Dale Scott. The Asia-Pacific Journal: Japan Focus, 1º de novembro de 2010.
  14. Alfred W. McCoy, The Politics of Heroin (Chicago: Lawrence Hill Books/ Chicago Review Press, 2001), 168-74; Victor S. Kaufman, “Trouble in the Golden Triangle: The United States, Taiwan and the 93rd Nationalist Division,” China Quarterly, No. 166 (June 2001), 440-56."
  15. Thomas Carothers (1993). In the Name of Democracy: U.S. Policy Toward Latin America in the Reagan Years. [S.l.]: U. of California Press. pp. 113–15. ISBN 9780520082601 
  16. H. W. Brands, Jr., "Decisions on American Armed Intervention: Lebanon, Dominican Republic, and Grenada," Political Science Quarterly (1987) 102#4 pp. 607-624 in JSTOR
  17. John M. Karas and Jerald M. Goodman, "The United States Action in Grenada: An Exercise in Real Politik", 16 U. Miami Inter-Am. L. Rev. 53 (1984), [1]
  18. Robert J. Beck, julho de 2008, Max Planck Encyclopedia of Public International Law, Oxford Public International Law
  19. Waters, Maurice (1986). «The Invasion of Grenada, 1983 and the Collapse of Legal Norms». Journal of Peace Research. 23 (3): 229–246. JSTOR 423822. doi:10.1177/002234338602300303 
  20. Abram Chayes, 15 de novembro de 1983, "Grenada Was Illegally Invaded"
  21. «United Nations General Assembly resolution 38/7». United Nations. 2 de novembro de 1983 
  22. Zunes, Stephen (outubro de 2003). «The U.S. Invasion of Grenada: A Twenty Year Retrospective». Foreign Policy in Focus 
  23. «United Nations Security Council vetoes». United Nations. 28 de outubro de 1983 
  24. DeConde, Alexander, ed. (2002). Encyclopedia of American foreign policy. [S.l.]: Scribner. p. 273. ISBN 9780684806594 
  25. Blowback. The Nation
  26. Van Dijk, Ruud, ed. (2008). Encyclopedia of the Cold War. US: Taylor & Francis. p. 751. ISBN 9780203880210 
  27. Mann, James (2009), The Rebellion of Ronald Reagan: A History of the End of the Cold War .

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

  • Bodenheimer, Thomas, and Robert Gould. Rollback!: Right-wing Power in U.S. Foreign Policy (1999), hostile to the strategy
  • Bowie, Robert R., and Richard H. Immerman. Waging Peace: How Eisenhower Shaped an Enduring Cold War Strategy (1998).
  • Borhi, László. "Rollback, Liberation, Containment, or Inaction?: U.S. Policy and Eastern Europe in the 1950s," Journal of Cold War Studies, Fall 1999, Vol. 1 Issue 3, pp 67–110
  • Grose, Peter. Operation Roll Back: America's Secret War behind the Iron Curtain (2000) revisão online
  • Lesh, Bruce. "Limited War or a Rollback of Communism?: Truman, MacArthur, and the Korean Conflict," OAH Magazine of History, Oct 2008, Vol. 22 Issue 4, pp 47–53
  • Meese III, Edwin. "Rollback: Intelligence and the Reagan strategy in the developing world," in Peter Schweizer, ed., The fall of the Berlin wall (2000), pp 77–86
  • Mitrovich. Gregory. Undermining the Kremlin: America's Strategy to Subvert the Soviet Bloc 1947-1956 (2000)
  • Stöver, Bernd. "Rollback: an offensive strategy for the Cold War," in Detlef Junker, ed. United States and Germany in the era of the Cold War, 1945 to 1990, A handbook: volume 1: 1945--1968 (2004) pp. 97–102.